A “elitização” da cerveja

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Já há algum tempo pensava em escrever um artigo sobre esse tema. Então, o David, leitor do BREJAS (que prefere identificar-se apenas pelo primeiro nome), poupou-me do trabalho, enviando-me o e-mail abaixo. Peço que leiam e tirem suas próprias conclusões:

needbeer

Olá Mauricio. Primeiramente, parabéns pelo BREJAS, blog que já leio faz tempo.
 
Escrevo para te confessar uma preocupação que me surgiu em relação às nossa queridas brejas: o preço.
 
De fato, está se tornando muito fácil perceber o processo — que, temo, seja irreversível — de elitização das cervejas de qualidade.
 
Aqui não pretendo cogitar custos de produção e afins (se bem que não consigo aceitar o tal “posicionamento de mercado”), pois sei que qualidade tem o seu preço, e não reclamo em pagá-lo quando ele é justo.
 
Queria acreditar que o “renascimento da cultura cervejeira no Brasil”, trouxesse consigo ideais que julgo interessantes para a sobrevivência da cultura cervejeira nacional, já que não basta só nascer. E, dentre estes ideais, estaria a INCLUSÃO. Sim, que qualquer pessoa pudesse, de alguma forma, provar coisas novas sem se privar de seu sustento, como tem acontecido com determinadas marcas importadas ou produzidas aqui mesmo.
 
Acho que nosso país já errou muito com aquela piada de “fazer o bolo crescer para depois repartir”, quando na verdade sabemos que nada será repartido. Por isso, não se pode incorrer no mesmo erro com um movimento tão legal quanto o cervejeiro, que tende a ser um contraponto ante alguns enólogos arrogantes, elististas, esnobes, justamente pelo clima de descontração que as cervejas têm a propriedade de nos trazer.

Na minha modesta opinião, tal erro está acontecendo agora com as nossas brejas. Acho que deveríamos aproveitar a incipiente cultura cervejeira no nosso país para fazê-la crescer da maneira certa, com critério, impedindo ou dificultando a ação de oportunistas, através do senso crítico do consumidor.
 
O que algumas importadoras vêm fazendo é algo inaceitável. Basta observar nas lojas de comércio eletrônico para comprovar que os preços só estão subindo e sem qualquer justificativa, haja vista que a cotação do dólar tem caído sistematicamente.
 
A gota d’água, para mim, é o caso da
Pilsner Urquell. Poxa, a 42 reais, não há justificativa, e com isso eu não consigo pensar em outra coisa que não seja o boicote. Sim, não comprar uma cerveja que quero muito provar para não dar lucro exorbitante a uma pessoa que nem sei quem é.

needbeer2Sério, aprecio o trabalho de vocês  que escrevem e compartilham suas exeperiências e conhecimento conosco, sendo que nem nos conhecemos. Isso é muito legal da parte de vocês. Agora, quero acreditar que alguns de vocês, que escrevem pelo movimento da cultura cervejeira nacional, são de fato fiéis e sinceros em seus propósitos de espalhar a cultura cervejeira em nosso país. Porém, somos um país de gente pobre na maioria, pessoas que não podem pagar um décimo de seu salário mínimo em uma long neck quando não há motivo justo para isso.
 
E uma cultura cervejeira de verdade seria aquela em que todos pudessem comprovar pessoalmente as impressões sobre uma breja especial. Tudo bem que com certo sacrifício algumas vezes — pois qualidade tem seu  preço, isso é inquestionável — mas é  fato que nós, pobres mortais, estamos pagando por muito mais do que a qualidade dos produtos; estamos pagando por interesses absolutamente escusos ao nosso intuito. 
 
Finalmente, creio que se tal postura não for combatida por todos (inclusive por vocês, blogueiros, que têm voz ativa nesta história), serão vocês que falharão miseravelmente em seus propósitos de expandir o conhecimento cervejeiro em nosso país (e se te escrevo é porque confio que você seja um destes sinceros).
 
Pronto, falei! (risos). Espero que entenda o meu intuito em te escrever (que foi o melhor possível, acredite, sou fã do BREJAS). Desde já agradeço a oportunidade de nos comunicarmos.

————————–

Agora é com você, leitor! Vamos entrar de vez nesse debate?

Concorda com a posição do David? De quem é a culpa? Das importadoras? Da carga tributária? Dos próprios consumidores? Você tem gastado muito mais do que queria do seu suado dinheirinho em cervejas especiais e importadas?

Aproveite esse espaço para soltar a sua voz e comentar à vontade!

25 Respostas para “A “elitização” da cerveja”


  • Nós vimos não faz muito tempo que o governo resolveu tomar medidas que atrapalharam as cervejarias nacionais. E sabemos que as taxas de importação (de praticamente qualquer coisa) são absurdas. Mas eu acho que falta transparência, e isso não se limita a cerveja. Tem países em que na nota fiscal vem descrito o quanto daquilo foi imposto e o quanto foi pelo produto em si. No Brasil isso não existe. Eu, por exemplo, gosto muito de cervejas escuras. Mas penso 500 vezes antes de dar R$ 30 numa garrafa de Fuller’s London Porter. E ultimamente não tenho comprado mesmo. Acho que o maior trabalho é saber separar os aproveitadores dos que cobram preço alto, mas justo; e, assim, prestigiar os transparentes e boicotar os gananciosos.

  • Bom vamos lá eh uma questão bem legal mesmo.
    Muitas vezes me peguei querendo experimentar uma breja que ouvi OTIMOS comentarios e quando olhei o preço a vontade passou quase que instantaneamente, naum pq realemtne anumt inha amsi vontade, mas a vontade da minha carteira estava limitada.
    Mas agora de quem eh a culpa? Dos impostos excessivos, das taxas de importações, ou de mercenarios visando lucro. Isso eu naum sei dizer, mas que o boicote seria uma boa isso seria, a lei da oferta e da procura rege bastante o mercado. Tendo em vista que ate hoje soh tomei 2 estilos da PETRA pois estava em promoção no pão de açucar por 1,99, mas naum foi uma promoção pq o gerente estava de bom humos, mas sim pq as cervejas estavam a 15 dias do vencimento e tinham INUMERAS cervejas na prateleira. É fato que isso dá certo. Temos cervejas de qualidade com preços acessives e temos importadas com preços exorbitantes, mas eu receio que um boicote às cervejas importadas pode fazer a diponibilidade ser menor. São os dois pratos da balança. Mas dah papo para boas discuções

  • Um dos principais problemas encontrados pelas importadoras e fazer o preço do produto que trazem.

    Deve-se levar em consideração alguns pontos. O valor da cerveja junto ao fabricante – carga tributária e alfandegária (só ai a cerveja pode dobrar de preço) – logística de distribuição – lucro do importador – lucro do vendedor final.

    Mas não há dúvida que a diferença de preço entre uma comercial comum e uma cerveja de qualidade elitiza o consumo. Esse é um grande problema que envolve não só os consumidores como também esferas do governo e toda uma política economica que aumente o poder de consumo da população.

  • A questão da Urquell é particularmente gritante. Em 2007 eu estive em Praga e comprava a garrafa de 500ml dela por menos de 2 reais em qualquer supermercado.

    Mesmo sabendo dos impostos altos e tudo mais, como uma cerveja que chega para o consumidor final do país de produção a um valor em Reais X chega para nós por um valor 21 vezes X ?

    Só por curiosidade: na Argentina, a lata de 350 ml da Urquell no Jumbo estava saindo a 3,30 reais.

  • 5 Luiz Eduardo de Carvalho Silva

    Acho que os principais culpados são os importadores e a cadeia de distribuidores internos. Tá certo que a carga tributária brasileira não é das menores e encarece muito o produto. A questão da logística tb conta no cálculo do preço. Mas eu duvido que todos esses custos cheguem a 200% sobre o valor do produto no país exportador. Vejamos, vamos supor que uma Urquell na Rep. Tcheca custe 1 Euro (deve custar muito menos, considerando que na Argentina ela é vendida no varejo a R$ 3,30). Ela chega aqui, para o importador por no máximo uns 3 Euros (jogando altíssimo), o que daria uns R$ 9,00 (jogando alto tb). O resto é lucro, e põe lucro nisso! Lucro do importador e de toda a cadeia de distribuição, incluindo o “barato” transporte interno (fato comprovado: é mais caro levar uma carga, de caminhão, do sul ao nordeste do país, que um contêiner do Brasil à China!).

  • 6 Alexandre A. Marcussi

    Já que é para soltar os cachorros…

    Isso é algo que me incomoda também. E a elitização não ocorre apenas nos preços, mas também nos locais de venda. O recente boom das cervejas especiais está criando uma espécie de “mercado especulativo” que pretende capitalizar em cima do esnobismo de uma certa classe média-alta brasileira que quer se dar ares de importância e cosmopolitismo (mas que tem a cultura de uma cabeça de prego). É notável como certas cervejas que têm o mesmo preço na Europa adquirem preços tão díspares no Brasil. Claro que a mudança de importador, escala e logística contribui nesse sentido, mas há algumas discrepâncias que não consigo explicar, a não ser por uma questão de simplesmente cobrar a mais pelo que tem mais prestígio (pois há “reserva de mercado”, o que permite gerar uma renda diferencial em cima dessa licenças de importação). Ou então pior, o tal “posicionamento de mercado”, que cobra a mais para “produzir” uma impressão mais positiva no consumidor (que, se pagou 60 reais numa garrafa, só vai poder gostar muito daquilo para justificar o gasto!).

    Nós, apreciadores de cerveja, gostamos das cervejas pelas suas qualidades particulares, seus estilos, sua diferenças. Queremos o *qualitativamente* distinto. A prática do mercado parece ir na contra-mão, valorizando a cerveja unicamente pelo *quantitativo* do seu preço. Como dizia o velho barbudo (Bin Laden? não, Marx, oras!), é o fetiche da mercadoria.

    E não me limito ao preço das cervejas em si. Tenho visto, com certo desgosto, uma elitização dos locais de consumo (pelo menos aqui em São Paulo), que estão adotando atitudes esnobistas e explicitamente excludentes. Aquela atitude irritante de “os nossos clientes pagam a mais para estarem em um ambiente de classe, com gente selecionada”. E isso tem prejudicado os donos de bares que apreciam cerveja mas não pretendem criar ambientes excludentes. Vejam, meu bar de cervejas favorito é um boteco de balcão e fica bem no meio da área do “baixo meretrício” do bairro de Santana (São Paulo), mas bate todos os bares de cerveja “gourmet” da cidade nos quesitos preço, comida e simpatia do dono. O dono tenta manter um bom estoque de cervejas na casa, mas a aparência “popular” do bar dele causa frequentemente inúmeros contratempos e dificuldades com os fornecedores, que parecem mais preocupados em abastecer as geladeiras de casas e bares mais “requintados”. Me parece que essa coisa toda de “gourmet” tem levado a uma direção desagradável de procurar um público deliberadamente elitizado como forma de valorizar os produtos.

    Acho boa a iniciativa de falar sobre isso. Às vezes parece que estamos no meio de pessoas que têm dinheiro sobrando, para quem mais uma trapista não vai fazer diferença no bolso.

  • 7 Ivan Bustamante

    Se o brasileiro hoje redescobre a cerveja de qualidade, é graças as pequenas e micro cervejarias. Agora vem as AMBEV da vida e socam cervejas importadas a preços altíssimos.

    Não gastem tanto nas importadas. Valorize as NOSSAS CEVEJAS DE QUALIDADE. Elas batalharam para estar onde estão hoje, mas estão numa batalha desigual e imoral contra as grandes cervejarias que só visam o lucro e não têm comprometimento algum com a cultura cervejeira!!!

  • O que manda em um mercado de livre concorrência é a lei da oferta e da procura. Se a oferta aumentar, ou a procura cair, o preço inevitavelmente cairá. É uma lei natural. O que o Renato falou das PETRAs (cujo preço “normal” gira entre 9 e 10 reais) a vencer no Pão de Açúcar é um ótimo exemplo. Acho que o caso da Pilsner Urquell é quase um “fato isolado”. 42 reais???? Vocês acham que com esse preço ela será um “sucesso” de vendas por aqui? Duvido muito…

  • 9 Mauricio (BREJAS)

    Alexandre Marcussi,
    Boa “soltada de cachorros”! rsss…
    Faltou apenas dizer pra gente que bar é esse…
    Um abração.

  • 10 Alexandre A. Marcussi

    Opa, Maurício, esqueci esse “detalhe”! O bar se chama “Empório Laura Aguiar” e fica na rua Dr. Gabriel Piza, em São Paulo. Não sei bem o número, acho que é algo perto de 650. Fica a duas quadras do metrô Santana (no sentido leste). Por fora, parece só um boteco de “grade de cadeia”, sem letreiro.

    A carta de cervejas não é excepcional mas é boa, contando com um número razoável de artesanais brasileiras e importadas alemãs, inglesas, holandesas e algumas tchecas. Há também uma boa seleção de cachaças. Mas o destaque são os comes: comida de bar (sanduíches e porções), mas tudo muito caprichado e com ingredientes de empório e de qualidade (que tb são vendidos a granel), e tudo por preços bem honestos. Nem comento a harmonização que fiz outro dia de Bamberg Rauchbier com presunto Parma…

    Mas é como eu disse: não espere um ambiente “requintado”, pois é um boteco de balcão (com o proverbial torresmo de balcão!) no meio dos prostíbulos!

  • Aos colegas que já compraram Chimay e algumas Inglesas (todas com validade normal) no Carrefour a um preço 4x menor que nos lugares especializados fica claro que o importador por si só não é o maior culpado. Por mais que essas redes tenham todo um aparato de gestão não é cabível um vendedor especializado ser tão “ineficiente” assim!
    A elitização dos locais de venda/consumo é gritante e usam de forma extrema, senão desonesta, o “custo de oportunidade”. Quantas vezes nos deparamos com a dúvida “quando é que encontrarei uma dessas novamente?” diante de uma garrafinha desejada? Eu mesmo estou numa epopéia em busca da Leffe Radieuse e provavelmente não levarei se a encontrar num valor absurdo.

  • Vejo essa questão da seguinte maneira, o problema não se restringe aos importadores, produtores nacionais e comerciantes que visam o lucro “fácil” e querem posicionar seu produto, nem é exclusividade da tributação alta, o consumidor está fortemente envolvido no processo. O que puxa o preço para cima ou para baixo consiste num conjunto de fatores motivados por todos os envolvidos na cadeia.

    O brasileiro, sobretudo o emergente da classes média pra cima, sente-se orgulhoso ao pagar caro porque isso dá status, prefere o belo ao funcional porque isso dá status, gosta de frequentar lugares caros com a desculpa do bom atendimento e público diferenciado (pois ele se inclue no time dos diferenciados) porque isso dá status, e cá entre nós, sejamos francos, quem aqui se sente confortável num botequim de esquina ouvindo pagode e lotado de pinguço bebendo “Kaisi” ?

    O mercado é reflexo disso, como já disseram: quanto maior a demanda (seja pelo produto ou pelo estabelecimento), maior é o preço.

    Além dessa cultura de consumo tupiniquim (tudo o que é mais caro é melhor e dá status), olhando pela ótica do produtor, são fatores que contribuem para o aumento de preço: se aumenta a demanda é preciso adequar a produção (e toda empresa quer crescer, distribuir seus produtos de forma mais ampla, ninguém trabalha só por prazer), as cervejarias só vão conseguir esse aumento de produção mediante investimento: mão de obra, tecnologia, instalações e, claro, marketing. Nada disso é barato e, em tese, até se estabilizarem, no curto-médio prazo esse investimento acaba sendo refletido no preço final do produto.

    Uma coisa puxa a outra, tudo está interligado. E não adianta promover boicote, só aqueles que bebem e sabem o que estão bebendo podem aderir, os que bebem porque o rótulo é bonito, ou porque cerveja especial está na moda, ou porque pagar caro dá status, ou porque pensam que tudo o que é caro é melhor, vão continuar comprando Pilsner Urquell a R$ 42,00.

    Muita gente confunde as coisas, cultura cervejeira e modismo não é a mesma coisa, e o que vem acontecendo no Brasil depois que os grandes varejistas passaram a vender marcas importadas ou nacionais de qualidade superior eu vejo ainda como modismo. Uma boa parcela dos consumidores de cervejas especiais compra uma Petra a R$ 9,99 porque acha bonito, não porque gosta, entende ou pretende entender de cerveja.

    Isso não é exclusividade da cerveja, a cachaça mineira ganhou grande notoriedade após a Ampaq, aumentou o matketing, o prestígio, a produção, o consumo e o preço (mas a qualidade, de um modo geral, menteve-se a mesma). O que antes custava R$ 5,00 num mercadinho de bairro, era conhecida como pinga e tida como bebida de pobre, ganhou embalagem sofisticada, passou a ser chamada de cachaça e está sendo vendida a R$ 20,00 em lojas especializadas.

    Resumindo: o que faz o preço subir é um conjunto de fatores que envolve leis de mercado, custos de produção, impostos, marketing e cultura de consumo, não há muito o que se fazer.

  • O confrade levantou uma questão essencial. Cerveja especial é sim elitista. O movimento de expansão de consumo encontra seu limite nos muros da restrita classe média. E contribui para isso a obtusa visão de negócio daqueles que comandam esse mercado ao estabelecer uma estratégia suicida no “ganhar muito em pouco” ao invés de pouco em muito. Mas nada disso é estático. Estamos em meio a um processo dinâmico.

    Vou fazer duas considerações. Uma temporal sobre a cerveja. Outra relembrando o que ocorreu com o vinho. E depois junto as duas.

    Cerveja já foi elitista em uma época cuja qualidade era inferior, o preço superior; era assim até os anos 70. As mega cervejarias popularizam a bebida, elevaram o Brasil ao posto de quinto maior produtor mundial. O fenômeno atual, a busca pela qualidade, é conseqüência da maturidade do mercado. Sendo a elite a primeira a mover-se nesse sentido, nada mais natural que o atendimento a essa demanda seja elitista. O amigo falou das importadas. Mas as boas marcas nacionais da linha artesanal também oferecem seus produtos nas gôndolas a preços a partir de R$ 10 a garrafa de 500 ml as normais; já as especiais competem com bons vinhos em termos de preço. Estamos em plena curva de evolução. Há outras ondas no caminho.

    O vinho viveu algo parecido. Caro, sofisticado e restrito, ele nunca foi muito difundido. O vinho padrão da classe média era doce e medíocre. A elite tinha acesso a coisas melhores cujo preço impedia a popularização. Nos anos 80 veio do novo mundo o movimento das pequenas vinículas que começaram a produzir bons vinhos a preços acessíveis. Produtos californianos, neo-zelandeses e australianos provocaram um terremoto no mundo do vinho, começaram a superar em qualidade marcas européias que custavam 5 vezes e terminaram derrubando preços e difundindo o produto. Esse movimento atingiu o Brasil com certo atraso e nos trouxe à condição atual: é possível encontrar vinhos respeitáveis e de qualidade a partir dos R$ 12.

    Juntando. A cerveja revive a história do vinho. E o movimento vem novamente do novo mundo. Nos EUA o termo craft beer (cerveja artesanal) já não está mais ligado ao tamanho da cervejaria, mas à qualidade do seu produto que chega ao consumidor comum com preços equivalentes àqueles de mega cervejarias. Claro, as especiais possuem preços diferenciados, mas produtos de qualidade já são acessível por muito menos. Alguma coisa já começa a acontecer. Grandes grupos, ao adquirirem cervejarias menores, estão começando a oferecer produtos de qualidade por um custo inimaginável poucos anos atrás. Leffe e Hoegarden da Inbev são bons exemplos: belgas de qualidade que nos chegam a R$ 4 a garrafa de 330 ml. Temos alemãs de respeito na faixa de R$ 7 a garrafa de 500 ml. E excelentes chopes artesanais já são encontrados a preços competitivos (no Frei Tuck BH MG uma tulipa de ótima e refrescante Wittbier artesanal custa R$ 3,50)

    As cervejas mais caras continuarão a serem consumidas apenas pela elite. A Unibroue não vai baixar muito, nem a Carolus. Mas ao lado na gôndola termos cada vez mais produtos respeitáveis com qualidade superior. O boicote ao preço absurdo é automático por ser uma questão de mercado; poucos vão pagar tão caro. Quem pode pagar, vai experimentar e depois decidir por produtos de melhor custo benefício, é a ordem natural das coisas.

    Finalizo lembrando um entrave ainda maior à expansão da cerveja de qualidade: o cultural. De uma forma geral, o brasileiro gosta de consumir em uma sentada um volume alto de cerveja gelada; churrasco, praia e buteco. O objetivo é refrescar e claro, relaxar deixando o álcool alegrar o ambiente. Pra muitos consumidores não faz o menor sentido beber se não for para atingir um determinado estado de embriaguez; tenho muitos amigos na categoria: “o negócio é chapar!!!”. É verdade que com o mesmo custo uma quantidade menor de boa cerveja poderia ser consumida, mas a quantidade de litros ainda é a prioridade principal. Ainda é melhor para muitos consumidores ter mais por menos que o inverso. Eu entendo muito bem, essa foi minha linha de conduta durante todos os longos anos da faculdade. Eu mudei porque tive a oportunidade de estagiar em uma micro-cervejaria e aprender o que era cerveja. Aprendi a apreciar umas poucas garrafas, como faço hoje, ao invés de embebedar com litros de água suja.

    E como vamos operar essa mudança cultural? Uma vantagem do apelo elitista da cerveja de qualidade é que ele fisga gente – assim como o vinho – que deseja se diferenciar, sofisticar, as vezes sem nem apreciar o que consome; o caminho é torto, mas o resultado é bom porque traz mais gente para o mundo da boa cerveja. O que podemos fazer, em nosso meio? Coisas como este excelente espaço são já um passo importante na divulgação e popularização. Outra coisa importante é prestigiar a cerveja artesanal local pois ela vem de cervejeiros que amam qualidade e vão mantê-la não importa o quanto aumente sua produção. E mais que tudo, precisamos convencer os amigos, não discutindo em uma mesa regada a skol, mas com iniciativas mais perspicazes. Uma das que tenho visto dar um grande resultado são os eventos de harmonização e degustação. As pessoas saem transformadas. Outra é presentear os amigos com cerveja séria. E assim vamos empurrando a nova onda.

    Tolice sonhar que a cerveja de qualidade vá superar as comerciais. Nunca. Nos EUA onde o poder aquisitivo é muito mais alto, o consumo de cerveja ruim é uma opção do consumidor iludido por campanhas publicitarias milionárias. Mas esse mesmo mercado reserva um espaço muito maior que o atual para a boa cerveja. Ele tem aumentado lá e está aumentado aqui. Enquanto isso é importantíssimo esse trabalho de divulgação que fazemos. Saúde!

  • Bebam Bavaria Premium e sejam felizes… 😉

  • Sério, se algum de vocês achar que cerveja boa é muito cara, sugiro as seguintes:

    – Bavaria Premium (<1,60 no supermercado)
    – Heineken (<1,90)
    – Kaiser Gold (<1,90)
    – (vou me queimar na comunidade agora) NOVA SCHIN MUNICH a menos de um real. Schwarzbier razoável e MUITO barata (<1,00)

    Ficam aí as dicas!

  • Pelo amor de Deus, Presidente.
    Não é isso que estamos questionando!
    Sabemos que existem razoáveis/boas cervejas nacionais a preços acessíveis. Entretanto, ai é que está a injustiça diante das pequenas cervejarias nacionais E do estúpido e impraticável preço alto das cervejas importadas.

  • Presidente, faltou incluir essas:
     
    – Kaiser Bock (ótimo custo/benefício);

    – Brahma Extra (eu disse a EXTRA, não aquela do Zeca Pagodinho que mais parece água de batata gasosa).

    Abraços.

  • Prezados, aproveitando, atentem-se para o fato de que os preços variam muito de estabelecimento para estabelecimento, portanto nunca é demais pesquisar antes de comprar.
     
    Dando nome aos bois: aqui em Sampa, no Tortula, a Piraat 330 ml custava a um tempo atrás R$ 39,90 (não comprei). Encontrei-a no Carrefour por R$ 16,90, ou seja, menos da metade (comprei de cara 3 unidades, não pude deixar de aproveitar!). Em compensação, em outro Carrefour paguei R$ 29,90 na Chimay Red 330 ml, sendo que algum tempo depois descobri que essa mesma cerveja estava mais em conta no Belgian Beer Paradise, uma lojinha especializada em Moema (R$ 23,50).
     
    Claro que as oscilações do dólar no momento da importação influenciam nessas cotações, mas são apenas um detalhe.
     
    E VIVA A BOA CERVEJA!
     

  • Claudinei e restante dos confrades:

    Entendo o que você citou, sobre oferta e demanda. Em Economia, é a Lei Geral da Procura. No entanto, existe uma exceção que são os Bens de Giffen, que tem sua curva de demanda positiva, ao contrário dos Bens Normais. Um clássico exemplo são obras de arte, nas quais um aumento no preço causa AUMENTO na demanda (entende-se que o preço reflete a qualidade).
    É bem possível que estejam tentando forçar esse comportamento com algumas cervejas aqui… a já citada classe leiga, mas de alto poder aquisitivo, acha que cervejas de qualidade estão “na moda”, e podem facilmente formar uma demanda positiva, como eu expliquei. Por não saberem de nada mas querem ser “chiques”, “descolados”, pagam um preço exorbitante em uma cerveja, passando lotado pelas equivalentes em qualidade e com um preço muito mais justo.

    lamentável…

  • Quanta filosofia heim?!

    Se alguém dessa cadeia exagerar, por opção ou incompetência, não vai sobreviver. Em outras palavras, fiquem tranquilos pois vai fechar.

    Outra coisa, será que ser “esnobe”, “descolado” ou “chique” é pior do que se exibir dizendo que frequenta “botecos de balcão”? Isso está parecendo preconceito misturado com auto afirmação. Os psicóligos de plantão que me corrijam … rs

  • Claudinei, se eu te disser que já encontrei a mesma Chimay Red a menos de R$ 5,00 no Carrefour em SJC (comprei) e a R$29,90 no Carrefour do Anália Franco (nesse eu ñ comprei) vc acredita?
    Apesar de saber que é muito restritivo pensar que o problema é de só um membro da cadeia as maiores discrepâncias eu observo no ponto de venda, que é aonde se “determina” o público alvo,…

  • Roberto,

    Pode parecer filosofia, mas não tem nada disso não, é o mundo real mesmo. É o que todo comerciante busca fazer: maximizar lucros. Eu concordo com você, “exibição” como vc diz, pode ser p/ os 2 lados, desculpe se eu dei a idéia errada… se alguém realmente pode e quer dar 42 reais numa cervejas dessas, tem todo o direito de fazê-lo, mas não venha contar vantagem sem saber o que diz nem menosprezar os outros; o mesmo para quem só bebe em boteco de balcão, mas quer diminuir os que preferem cervejarias/restaurantes mais finos (obviamente, mais caros).

  • Pedro Miranda,
     
    Conceito interessante, só resta agora saber o tamanho desse mercado de consumidores cheios de grana e vazios de cultura (cervejeira, pelo menos).
     
    Fausto,
     
    Menos de 5 reais? Ela por acaso não estava vencida? Se bem que esse tipo de cerveja tem estrutura pra envelhecer e evoluir na garrafa, desde que guardada em temperatura adequada e ao abrigo da luz. Por esse preço eu compraria no mínimo uma dúzia!
     

  • Por incrível que pareça não está vencida, fiquei caçando a validade pra tb ter certeza do que estava vendo e está marcado 2011! Estou p/ ir novamente pra SJC e confirmar se isso se manteve ou se houve um erro na hora de colocar os preços… no dia imaginei que pudesse dar problema (preço cadastrado não bater com a gôndola) mas consegui formar meu estoque! hehe

  • Alguém aí em cima já falou mas acho importante reforçar. Nós consumidores elitizamos as cervejas. Isto se comprova em vários pontos: desde o desdém com que tratamos as ‘cervejas de massa’ ou comerciais, até o sentimento de superioridade ante o público que as consome em quantidade só para se embebedar. Ou ainda o emprego da rebuscada linguagem do vinho para descrever até as mais simples criações cervejeiras. Claro que o mercado acompanha esse movimento cultural e ajusta os preços à demanda. Não faz sentido nenhum querer comer caviar e arrotar ovo frito se orgulhando de beber Chimay em boteco pé sujo. Deve haver equilíbrio e sobretudo coerência. Até porque o lucro de toda a cadeia produtiva na fabricação, importação e comércio de cervejas é fundamental para estimular e continuar garantindo que novas opções cheguem ao copo de nós consumidores. De nossa parte, melhor que reclamar é deixar que distorções como Urquell a R$42 mofem nas prateleiras até vencerem. Ou até entrarem numa promoção perto do vencimento.

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