Trap 40 Grand Cru: Uma surpresa em Roma

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A grande maioria dos turistas que visita Roma jamais se aventura além do centro histórico e do Vaticano. Desconhecem que, além do Tibre, lá pelos lados da Ilha Tiberina, existe um bairro que é freqüentado pelos romanos que não querem se misturar ao turbilhão de japoneses que fervilham na Fontana di Trevi e no Pantheon.

No bairro do Trastevere (que significa, em tradução livre, algo como atrás do rio) ainda se permitem entrever varais com roupas coloridas estendidas entre os prédios antigos e malcuidados. A arquitetura exala uma doce decrepitude: As ruelas são estreitas. As paredes, em tons ocres, descascadas. As janelas imploram demãos de pintura. O calçamento é irregular e sempre há motorinos estacionados onde não devem. No meio disso tudo, a Piazza Santa Maria concentra uma formidável fauna humana, que perambula entre a infinidade de minúsculos pubs temáticos. O Trastevere, distrito mais “autêntico” de Roma, é hoje o que a Cidade Eterna foi até a metade do século XX.

Era lá que estávamos, eu e os Confrades Daniel Rolfsen e Daniel C., numa noite qualquer de outubro de 2006. Após cometermos um almoço pantagruélico numa cantina que já não me lembro o nome, eles quiseram dar um tempo no hotel, a gemer e acariciar os estômagos. Já eu queria continuar vagando pelo bairro, no que marcamos um encontro pra mais tarde ali perto na Ponte Garibaldi, logo em frente à Isola Tiberina, no meio do Tibre. Próximo da hora marcada, para esperá-los, resolvi entrar numa pasticceria logo ao lado do ponto de encontro. Distraído, fui até a geladeira e meus olhos logo pousaram negligentes na primeira breja “conhecida”, uma Westmalle Trappist Dubbel, a qual arrematei no balcão e fiquei a bebericar na ponte, direto da garrafinha.

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Foto que tirei durante aquela espera, em cima da Ponte Garibaldi. A Ilha Tiberina surge à esquerda do quadro.

Na metade da belga, surgiram, refeitos, os Confrades, logo me inquirindo onde eu havia achado a cerveja trapista. Apontei a doceria, e lá foram eles, me deixando embevecido a observar o rio que corria lépido abaixo de mim. Minutos depois, ouço o tonitroar de gritos em minha direção. Eram os brejeiros, acenando para que eu me juntasse a eles lá na pasticceria.

Na mesma geladeira de onde eu havia sacado a Westmalle, começaram a se materializar outras cervejas que até então nos eram desconhecidas. Em meio a elas, achamos a garrafa de 750 mililitros, vedada por rolha, da Trap 40 Grand Cru.

A breja em questão é fabricada pela Brouwerij Huyghe, a mesma que produz a famosa Delirium Tremens. Quem analisa hoje de cima pra baixo o Ranking BREJAS e vê a Trap 40 entre as melhores, fica a perguntar onde se pode comprar a breja. Pois lhes digo que, em outras viagens que fiz, cansei de procurar a danada, mesmo na Bélgica, e jamais topei com ela novamente. Sumiu, desapareceu, escafedeu-se. Ao que parece, trata-se de uma edição especial, limitada, que sequer consta no site da cervejaria.

Aboletamo-nos na mesinha da doceria e nos pusemos a degustar a breja, a complexidade do sabor frutado, forte sem ser alcoólica no paladar, amarga sem ser “salgada”, lupulada no ponto certo. Era a nossa primeira cerveja “de rolha”, fator que pode ter contribuído para o maravilhamento. Não deu pra saber se o Grand Cru do rótulo era pra valer, mas apostamos que era.

E assim nos deixamos ficar na madrugada do Trastevere, felizes da vida numa improvável mesinha redonda de doceria, a derrubar outras cervejas de estirpe que a despretensiosa geladeira oferecia (como a Val Dieu Tripel, também de 750ml e de rolha), vendo passar a fauna romana e contando histórias fiadas.

Ficou indelével na memória: A Trap 40 Grand Cru nos fez voltar a ser meninos por um breve e mágico momento na Cidade Eterna.

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