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Pão e Cerveja: Programa 165 – Regularização de cervejas no Ministério da Agricultura (MAPA)

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Registrar cervejas é “básico”, segundo fiscal do MAPA

No programa que acaba de ser veiculado, a jornalista Fabiana Arreguy entrevista Rosiane Rodrigues, chefe de fiscalização da sucursal mineira do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), órgão responsável por regularizar as cervejas — artesanais ou não — para que possam ser legamente comercializadas.

E atenção, produtores! Na entrevista, Rosiane elenca algumas exigências para que as brejas artesanais passem pelo crivo do órgão estatal. Atente para o final da entrevista, no qual a fiscal diz quer não entende a razão pela qual um setor tão “culto” como o das cervejas artesanais não se organiza e leva a Brasília as reivindicações da área…

Leis burras

Na Dica do BREJAS, eu aponto que a culpa por algumas aberrações para a não-regulamentação das cervejas artesanais não reside no MAPA, e sim na própria lei federal. A saída? Organização e representatividade do setor, que precisa urgentemente superar as vaidades pessoais e a inação.

A coluna Pão & Cerveja vai ao ar todas as sextas-feiras às 11:45 da manhã pela rádio CBN de Belo Horizonte (106,1 FM). Ouça ao vivo o programa ou curta os programas anteriores gravados e disponibilizados aqui no blog pelo BREJAS. Para a experiência ficar completa, acompanhe também o Blog Pão & Cerveja.

As cervejas que nunca serão – Pede pra sair, Zero Dois!

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bambergweizenbock

O texto abaixo é obra de Alexandre Bazzo, cervejeiro da Cervejaria Bamberg, uma das maiores estrelas da revolução cervejeira nacional. Ele fala da dificuldade de se aprovar receitas junto ao Ministério da Agricultura (MAPA), assunto que rendeu neste espaço os artigos As cervejas que nunca serão e As cervejas que nunca serão – A voz dos proscritos. Os títulos deste e dos dois outros artigos referem-se ao chavão do personagem Capitão Nascimento, no filme Tropa de Elite, ao responder às pretensões dos recrutas de sua divisão: “Nunca serão”!!!

Importadas podem, nacionais nunca serão!

Todos tem acompanhado a grande dificuldade que as microcervejarias no Brasil vêm tendo em registrar novas cervejas no Ministério da Agricultura. Conosco, na Cervejaria Bamberg, não seria diferente. Temos oito novas cervejas paradas lá, algumas há mais de 1 ano (n.e.: uma delas, a Weizenbock cuja reprodução do rótulo encabeça este artigo).

Mas por que existem no mercado cervejas importadas Vintage, ESB, Chocolate Stout, Fruit Beer, Wit (que contém especiarias e laranja), dentre outras, sendo que as cervejarias nacionais não lançam este tipo de produto? É falta de competência de nossos cervejeiros?

O país das maravilhas

Pois é, no Brasil das maravilhas temos dois países, o do jeitinho e o da lei rigorosa que deve ser cumprida a qualquer custo. E é assim na cerveja; existe um jeitinho pra aprovar cervejas importadas, uma brecha na legislação e na

Alexandre Bazzo

Alexandre Bazzo

 fiscalização. Já para as nacionais não há brecha, pelo que o rigor da lei deve ser cumprido.

Não culpo os fiscais do Ministério, eles realmente devem seguir o que está escrito na lei, uma legislação que foi feita para um mundo cervejeiro onde existia apenas uma cerveja, aquela que se parece mais com água amarela gaseificada. Tudo evoluiu desde então, mas a legislação é a mesma. Por isso, pra ela, nós, cervejeiros artesanais, não existimos.

Também não culpo o importador, pois todas as cervejas importadas estão legalizadas, de forma lícita, e é seguindo a legislação eles conseguem entrar no Brasil com cervejas que nós não podemos produzir.

Eis a questão, como fazer pra termos igualdade?

Legislação injusta

Temos que mudar a legislação, adequá-la com a realidade do mundo cervejeiro atual. Mas isso interessa a quem? É claro que interessa a nós produtores, consumidores e afins de cervejas de qualidade, ou seja, uma parcela minúscula da população, sem poder pra pagar lobistas e financiar campanhas políticas.

Daí se conclui que a legislação brasileira decretou a morte da cerveja artesanal de qualidade no Brasil. É apenas uma questão de tempo. Não dá pra inovar, não dá pra trazer a tradição de estilos milenares, não dá pra fazer cerveja boa.

Com isso, perderemos um nicho de mercado que gera empregos e paga impostos em maior quantidade por hectolitro que as cervejas comerciais, sem falar que fomentamos o turismo local, trazendo estrangeiros e brasileiros para a nossa região. Fazemos com que o Brasil seja motivo de notícia boa no exterior quando ganhamos um prêmio internacional. Pregamos o consumo moderado de álcool, com o lema “beba menos e melhor”.

Este é o cenário das cervejas de qualidade no Brasil. Mas você pode estar pensando, ninguém tá reclamando disso! Sim, poucos reclamam, pois poucos têm interesse em fazer cerveja boa. Tá bom assim pra maioria…

As cervejas que nunca serão

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dadodcs

Por Mauricio Beltramelli *

No filme Tropa de Elite, o brucutu Capitão Nascimento, coordenando o treinamento de admissão de recrutas no Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, é pródigo em repetir a frase que virou o bordão “nunca serão”. Ele se referia, no filme, às pretensões dos novos candidatos a ingressar no pelotão, exortando-os a abandonar o treinamento. Nunca serão!

Pois os luminares barnabés do eficiente Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), talvez na falta do que fazer de mais últil, especializaram-se em dizer nunca serão a várias cervejas artesanais que poderiam estar nesse momento servindo aos paladares dos brasileiros. São eles, infelizmente, que aprovam a comercialização de novas cervejas no território nacional, após examinar suas fórmulas e seus rótulos.

Pra esses tão diligentes servidores públicos, cerveja é só aquela que está na propaganda da TV, aquela standard de gosto padronizado e fórmulas idem. Aquela “cerveja-arroz” da qual falei noutro artigo. Aquela que os torcedores de rótulos cultuam, cujo vencimento não pode jamais passar de seis meses da data de fabricação. Aquela, enfim. E as que não se enquadram nesse perfil? Nunca serão!

A lindíssima garrafa cujas fotos ilustram esse artigo é um exemplo recente. Trata-se da inovadora DaDo Bier Double Chocolate Stout, edição comemorativa da cervejaria DaDo Bier, de Porto Alegre (RS), elaborada em mais uma feliz parceria com os homebrewers cariocas Ricardo Rosa e Mauro Nogueira após suados três anos de trabalho. A seleção de insumos é soberba, e a breja é coroada com o toque magistral do chocolate Kopenhagen 70% cacau.

Chocolate não!

Feitas as apresentações da cerveja aos funças do MAPA, sabe qual foi a resposta? Nunca serão! Eles fizeram valer a norma vigente — e asna, e inexplicável — que preconiza que uma cerveja nacional não pode sofrer adição de componentes de origem animal. No caso, os “hômis” encanaram com o leite em pó contido no chocolate. De acordo com Eduardo Bier, proprietário da cervejaria, a saída foi fazer um lote limitadíssimo de apenas 100 exemplares, os quais estão sendo presenteados apenas a amigos — esse escriba é um desses sortudos.

Acontece que, vejam só, há outras cervejas com “componentes animais” na receita sendo normalmente importadas e comercializadas em território nacional — e aqui me absterei de mencionar seus nomes evitando despertar umdadodcs2 insuspeito “excesso de diligência” dos funcionários ministeriais. Apenas para situar o leitor, o crivo do MAPA para as brejas importadas — estudo de fórmula, rótulo, etc. — vale tanto quanto para as produções nacionais. E, pelo menos até o momento, não se tem notícia de que quaisquer dessas brejas já aprovadas tenha levado algum degustador aos leitos hospitalares. Embora contenham os “perigosamente mortais” componentes animais, sequer um desarranjo intestinal foi relatato por quem se aventurou a degustá-las — incluindo este escriba.

E qual seria a obscura razão imposta pelo MAPA segundo a qual as cervejas gringas com ingredientes “animais” passam na fiscalização, sendo que as artesanais nacionais não são aquinhoadas com a mesma sorte? Importada pode, nacional não? Imagina-se o coro de agentes do órgão, perfilados, a bradar: Nunca serão!!!

O calvário em Votorantim

Já para Alexandre Bazzo, cervejeiro da Bamberg, de Votorantim (SP), o caminho não é menos pedregoso. Em julho do ano passado, a microcervejaria realizou o I Concurso Paulista de Cerveja Caseira em parceria com a ACervA Paulista (associação de cervejeiros caseiros do estado), a fim de escolher a breja no estilo Extra Special Bitter (ESB) que integrará seu portfólio. Escolhida a breja vencedora, Bazzo submeteu fórmula e rótulo à apreciação dos digníssimos burocratas do MAPA. Preciso mesmo dizer a resposta?

Desta feita, os sapientes conhecedores de cervejas disseram nunca serão ao “estranho” rótulo da breja do homebrewer Guilherme de Santi por desconhecerem o termo ESB. Pois bem, a mensagem está passada. Cerveja “tipo pilsen” pode — embora as “tipo pilsen” que se conhece do mercado sejam tudo, menos Pilsen –, mas Extra Special Bitter (ESB) não pode. A mentira pode, a verdade não. Bazzo já submeteu um novo rótulo para a breja com o termo “Pale Ale” no lugar de ESB aos fiscais, já que a mentira, desde que seja conhecida, é bem-vinda. Quem sabe assim, na base do auto-embuste, a nova cerveja, enfim, será?

Essa é a cultura cervejeira dos illuminati do MAPA. De que adianta tentarmos criar um mercado sólido deste lado do Equador, fomentando cervejarias brasileiras ousadas e criativas, se os fiscais responsáveis por aprovar as bem-vindas criações dos cervejeiros só sabem rezar a cantilena do Capitão Nascimento? Quantas mais brejas maravilhosas seremos obrigados a não ter, em função de uma estúpida recusa dos burocratas em simplesmente informarem-se minimamente sobre estilos de cerveja?

O que você disse, estilos de cerveja? Não é tipo pilsen? Nunca serão!

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MauricioBeltramelliPost

 

 

* Mauricio Beltramelli, editor do BREJAS, é Mestre em Estilos de Cerveja pelo Siebel Institute (EUA) e Sommelier de Cervejas pela Doemens Akademie (Alemanha).



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