Jota, desculpe-me. Respeito bastante suas sempre fundamentadas opiniões (ainda que eu discorde eventualmente de algumas delas), mas dizer que "Ninguém aqui está cerceando o direito das pessoas se manifestarem como vítimas" parece-me equivocado. Você poderá verificar aqui mesmo nessa pg do debate uma ode à "vontade da maioria". Você viu? Sei perfeitamente que não é seu caso, mas as expressões "vitimismo", "vitimização", "mimimi" são generalistas e muito ruins para o bom debate, posto que em vários momentos menosprezam o direito de indivíduos ou grupos sociais de partirem para as lutas que consideram legítimas. Acho inclusive muito frágil e generalista o uso cotidiano dessa expressões.

Quando você pergunta "Que estruturas de dominação são essas?", eu respondo: aquelas que os indivíduos e grupos sociais considerarem "estruturas de dominação" em seus respectivos contextos. Ao longo da história cada grupo social mobilizou argumentos para defender que vivenciavam estruturas de dominação; geralmente sendo ridicularizados e menosprezados no início de seu processo de mobilização. Nesse sentido, acho ótimo que grupos sociais estejam "fazendo barulho" por aí em defesa - com argumentos sólidos ou não - do fim de tais "estruturas de dominação". Eu não sei o que é ser índio e não sei se a imagem de uma "índia ingênua" num rótulo de cerveja exótica me atinge. Eu não sou mulher negra e não sei se o famigerado rótulo da Devassa denigre minha imagem. Eu também não sei se o rótulo da bunda de uma mulata no rótulo da Evil Twin ofende algumas brasileiras ou até mesmo brasileiros (ainda que, cf argumenta Marcussi, tal rótulo mobilize estereótipos históricos).

Diante dessas incertezas, melhor viver o "barulho dos movimentos e indivíduos" do que o silêncio dos regimes e concepções totalitárias.

A galera tá precisando baixar as bandeiras e levantar os copos!!

Continuando nossa conversa sobre racismo e imperialismo em rótulos de cerveja, a postagem deste mês do O Cru e o Maltado traz uma análise do rótulo da Brasserie de la Senne Zwarte Piet, mostrando como ele lida de forma bem humorada e crítica com estereótipos racistas na cultura belga.

Zwarte Piet: (mais) notas sobre o racismo em rótulos de cerveja

Um site feito por mulheres feministas, com análises bem mais realistas e sem visões esquerdopatas e vitimistas dos problemas:

margaretes.com.br/

Recomendo a leitura.

Neste mês no O Cru e o Maltado, lanço alguns pitacos, comentários e rabugices a respeito da entrada da AB-InBev no mercado artesanal em 2015. Na próxima parte da matéria, farei um review de todo o novo portfolio "artesanal" da megacervejaria.

As gigantes cervejeiras e a "revolução artesanal"

Gostei bastante do texto, Marcussi. Interessante reflexão. Só faço uma breve ponderação sobre o seguinte trecho: "Naquela época, a cervejaria nacional que pedisse R$ 15-20 numa long neck de pale ale se arriscava a ser motivo de chacota pública. Hoje, não há nada mais corriqueiro". Acho que aí deveria ser considerada a questão da variação do salário mínimo, inflação e talvez uma comparação direta em termos percentuais de quanto custava - na época - uma garrafa de 600ml de Heineken, Bohemia, Original, etc em gondolas de mercado. Afinal, 15-20 reais em 2008 eram uma coisa diferente do que hoje, mesmo se pensarmos na compra de garrafas de cerveja de massa. No entanto, isso não invalida sob hipótese alguma seu argumento geral: o tão propalado argumento da forte queda de preços geral não se confirmou ao longo de quase uma década.
De todo modo, acho que os bares com chope vem desempenhando um papel importante na cidade do Rio de Janeiro. Nas regiões mais boêmias já passamos a encontrar bares (ainda bares especializados em cervejas artesanais, é verdade) com rótulos a partir de 8 reais; preço não tão distante de um chope Brahma. Tenho notado que quase 90% dos novos bebedores de artesanais que eu conheci nos últimos 3 anos tiveram como porta de entrada os seguintes rótulos: Leffe, Hoeggarden, Paulaner, Eisenbahn, Therezópolis e linha "especial" da Bohemia. Os outros 10% eu colocaria na cota da galera que tem certo conforto financeiro e, por ter feito viagens ao exterior, se interessou por novos rótulos. Mas reconheço que essa pode ser uma realidade específica de uma grande cidade feito o Rio de Janeiro, dentro de um grupo típico de classe média.

Enfim, seu texto permite de fato interessantes reflexões. Parabéns!