Um âmbar profundo e escuro, bem turvo. Espuma média que durou bastante e deixou um anel de espuma. A levedura podia ser vista na garrafa e agora no líquido, uma autêntica cerveja caseira. O aroma é puro cascade, realmente muito aromática. Um pouco de Amarillo também pode ser sentido.
Uma paulada de amargor que provém principalmente do lúpulo obviamente, mas também da torrefação. O amargor aparece logo no começo do gole, que ao mesmo tempo vem acompanhado de torrefação, muito mais que eu poderia esperar. Adstringência e picância aparecem no fim e no retrogosto. Seca. Algo de malte caramelo e talvez o amarillo são aparentes durante toda a degustação. Até algo de levedo tenta aparecer.
Corpo médio porém aveludado e cheio. O álcool é sentido no corpo mais que na boca, muito bem inserido. O amargor é forte, picante e incomoda ao fim da degustação, mas não prejudica tanto quanto 85 IBUs sugeririam.
Apesar de uma cerveja que obviamente se baseia em lúpulo em cima de lúpulo a Green Dream se mostrou mais completa que poderia se prever, há malte, torrefação, levedo (pouco) e corpo. Sem dúvida uma receita projetada com lúpulos americanos mas lembrando mais o equilíbrio de belgian IPAs.
Fundada em fevereiro de 2012 na cidade de São Paulo, a cervejaria caseira Noturna nasceu do desejo de produzir cervejas diferentes e com personalidade. Centrada na figura de Luciano M. Silva, ela vem realizando brassagens a cada 20 dias e já conta com diversos rótulos de variados estilos. Devido a falta de tempo e espaço, a maioria das brassagens ocorre a noite, o que inspirou o nome "Noturna". Além das cervejas, a Noturna também ministra cursos de 'homebrewing' direcionados a quem pretende começar a fazer cerveja em casa.
A "Green Dream" é uma "imperial IPA" feita com três tipos de malte e quatro tipos de lúpulo que são adicionados seis vezes durante a fervura. Além disso, ela passa por "dry-hopping" com 120 gramas de lúpulo "cascade" para cada 30 litros.
Translúcida de coloração bronze acobreada. A espuma é bege de alta formação e consistência, mantendo-se presente por longo tempo.
Fresco, o aroma traz lúpulo cítrico em notas que remetem a tangerina e lima da pérsia com suave toque de maracujá. Algo no fundo chega a lembrar o perfume "Polo Ralph Lauren" verde - detalhe que achei impressionante. Discreto indício de malte permanece em segundo plano.
Mas é na boca que o "sonho verde" acontece. Alicerçado sobre uma consistente base de maltes tostados e caramelizados, o lúpulo explode em monumentais ondas de amargor - fazendo jus aos seus anunciados 90 IBU. Eucalipto, grama, boldo e resina instigam o paladar, remetendo inclusive a "Pinho Sol" a ponto de anestesiar a língua. Em meio a sabores tão intensificados o álcool praticamente desaparece. O corpo é médio e a carbonatação elevada. Final seco, amargo, picante e resinoso. Retrogosto lupulado, com toques de mato e chá de boldo.
Uma cerveja provocante, descaradamente desbalanceada no amargor, feita para gerar imagens oníricas na cabeça do mais radicais lupulomaníacos. Se você gosta de sonhos amargos não pense duas vezes - "Green Dream" é a realização.