Cerveja Pilsen, essa incompreendida!

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pilsen

“Só eu que não consigo mais beber cerveja pilsen?”

A pergunta acima foi lançada por um membro da comunidade BREJAS no Orkut. O leitor dizia que, depois de haver experimentado outros estilos de cervejas mais marcantes, as Pilsner já não desciam mais como antes. Achei a reação intrigante, e usei-a como “gancho” deste post.

Dá pra entender. Tanto no Brasil como na maioria do resto do mundo, criou-se a cultura que torna sinônimas duas palavras: cerveja e pilsen. Estilo mais vendido no planeta, é especialmente no Brasil que a esmagadora maioria dos bebedores crê firmemente que cerveja (pilsen, claro) tem de ser “leve”, com quase nada de amargor, ideal apenas pra ser tomada em grandes quantidades e ao ponto de congelamento.

Pra início de conversa, é fundamental estabelecermos uma diferença basilar: A maioria das cervejas de massa NÃO é tecnicamente pilsen, mas sim do estilo standard american lager. Segundo o BJCP, o que determina a desigualdade são vários fatores, sendo o nível de amargor talvez o mais marcante — uma standard american lager tem no máximo 15 IBU, e esse índice, numa verdadeira pilsen, começa em 25 e vai até 45. E qual o motivo das cervejas de massa informarem nos rótulos que são do “tipo Pilsen”? Essa é uma outra discussão, mas o principal motivo é que a legislação brasileira é absolutamente obtusa em relação a estilos de cerveja.

O fato é que, por causa dessa massificação, o degustador que inicia sua jornada no maravilhoso mundo das brejas da família Ale — ou de alta fermentação — se depara com uma miríade de aromas, sabores e sensações bem mais intensas do que experimentava tomando uma breja que achava ser Pilsen.

Pudera. As Ales, em razão das suas matérias-primas e processo de elaboração, em geral são de fato mais saborosas e marcantes. Sem a merecida atenção e algum treino, o degustador iniciante corre o risco de considerar “aguada” a melhor das brejas Pilsen, unicamente porque seu modelo comparativo são as Ales.

É apenas quando o paladar evolui mais um pouco que a justiça chega às Pilsens de estirpe. Citando uma experiência pessoal, a primeira vez que estive na República Tcheca e experimentei uma Pilsner Urquell — parapilsner muitos, a melhor Pilsen do mundo — achei-a nada além de “uma pilsen comum”. Claro que a comparava, por aproximação, à uma lager de massa, e por diversidade, às Ales que vinha experimentando na Europa. Só depois de algum tempo que entendi como uma verdadeira Pilsen pode ser complexa, a despeito da sua suavidade característica. E então tive de rever — e puxar pra cima — diversas notas injustamente baixas que havia dado no Ranking BREJAS.

Uma vez li que, para testar de verdade a competência do pizzaiolo, sugere-se a ele que prepare a prosaica pizza de mozzarella, já que é na simplicidade que se afere o verdadeiro talento. Caso o sujeito não seja realmente bom, os defeitos da pizza ficarão mais evidentes. Por certo, é bem mais fácil desviar a atenção de uma massa sofrível com quilos de gorgonzola ou alho.

No mesmo pensar, tanto o homebrewer menos pretensioso até o mestre cervejeiro mas experiente concordam num ponto: Fazer uma cerveja no estilo Pilsen realmente boa não é tarefa das mais fáceis. Isso porque se trata de uma breja bastante delicada. Suavidade e refrescãncia são requeridas, mas se espera que aliem tais características a aromas e sabores marcantes dos insumos que a compõem. E, uma vez que são suaves, quaisquer defeitos que porventura existam na breja são enormemente mais identificáveis do que na maioria dos outros estilos de cerveja. Não dá pra mascarar Pilsen ruim, a não ser tomando-a “estupidamente” gelada…

Chegou a hora, portanto, de restituir o valor que as Pilsens de estirpe merecem. Quem há de negar-se ao prazer de sorver generosos goles das brejas tchecas — que deram origem ao estilo — como a Czechvar, as Primátor ou a deliciosa Starobrno?

Do lado das alemãs, merece pena capital quem não conhece cervejas como PfungstädterPaulaner, Wernesgrüner e a austríaca Hopfenkönig.

Brasileiras? Pois sim! Por essas terras o degustador poderá enlevar-se aos sabores das brejas Wäls, Bamberg, Colorado, Eisenbahn, Mistura Clássica,  Abadessa Slava, Coruja e tantas outras, que vêm brilhando nesse “renascimento” cervejeiro nacional. Aproveite!

Tenha em mente que, em cerveja, para compreender os sabores mais complexos, precisamos antes entender os mais suaves. Evoluir o próprio paladar e os gostos pessoais é importante, não se olvide. É bom lembrar, entretanto, que as Pilsen (ou o que achávamos ser Pilsen) são para a maioria de nós as cervejas primevas, aquelas que fizeram com que nos apaixonássemos pelas brejas dos demais estilos.

E o primeiro amor jamais se esquce. Mesmo que a paixão não seja mais ardente como antes, cabe-nos ao menos compreendê-la.

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Mauricio Beltramelli é Sommelier de Cervejas diplomado pela Doemens Akademie (Alemanha) e Mestre em Estilos de Cerveja e Avaliação formado pelo Siebel Institute de Chicago (EUA), além de editor do BREJAS, hoje o maior portal sobre cervejas na Internet brasileira.

16 Respostas para “Cerveja Pilsen, essa incompreendida!”


  • Hail!!! Muito bem colocado. Aliás, um dos temas que estão em voga ultimamente. Com esta grande onda de cervejas importadas e nacionais, de diferentes estilos que, ainda bem, invadem o nosso país. Realmente, pra quem cresceu tomando as cervejas de massa nacionais, sempre achando que, cerveja era aquela que só refresca e, depois, se depara com uma London Pride, por exemplo, tende a começar a achar que todas as cervas deveriam ter aquele desequilíbrio, aromas e sabores marcantes. O que não é o caso, como nos mostra o post. O próprio Wellerson, do Café Vienna, aqui em BH, me mostrou que as Pilsner são realmente excelente cervas. Descobri isso tomando uma Primátor.

  • Das Pilsens brasileiras a mais fiel ao estilo é a da Wäls, é deliciosa, não devendo nada para as renomadas tchecas e alemãs!

  • Excelente artigo, Maurício. Muito bem escrito e cheio de informação.
    É lamentável que a maioria das pessoas não saibam a verdade sobre as Pilsen (ou melhor, as Standard American Lagers) nacionais. Confesso que eu não sabia até ler seu artigo.
    Um abraço.

  • 4 Guilherme Martins de Souza

    Você citou os principais pontos sobre a “aversão” que muitos tem em relação às cervejas “Pilsen”. Identifiquei-me muito com o trecho aonde você fala sobre a errônea comparação entre Pilsens e Ales feita por quem ainda não tem o paladar tão apurado (o que é meu caso), pois realmente para mim o “padrão de qualidade” que sigo é o de uma Ale.
    Apesar de já ter provado algumas poucas Pilsens(entre elas algumas que realmente são representantes do estilo), vou começar a beber outros rótulos só que desta vez com mais atenção, para realmente conseguir perceber todas as qualidades e características deste tipo de cerveja.

  • 5 Ivan Bustamante

    Sou obrigado a acrescentar a Abadessa Slava Pils. Possui o lúpulo bem dosado conferindo seu amargor no ponto certo.

  • Concordo plenamento, se basera em cha de milho para dizer que naum consegue mais tomar pilsen assim eu tb afirmo que naum consigo, mas pisen de verdade eh facil facil tomar, em um dia quente com uma refeição leve, nada melhor. Sempre antes de tomar uma cerveja entro aqui no brjas e venjo a especificação do estilo, temepraturaa ser servida copo idela e tento seguir todas as regras de degustação e avaliação, deixando comparações com outros estilos de fora, logio que naum eh 100% possivel mas eu tento ao maximo.

  • Sem dúvida a Mimstura clássica representa bem o que é uma Pilsen!

  • Otimo post..
    Mais e as pilsen premium nacionais aonde elas entram ??

    Eu ainda estou fissurado por uma ale..
    Eisenbah strong gold ale.. q tesao!

    Abraços

  • 9 Mauricio (BREJAS)

    Marco,
    As cervejas “de massa” nacionais que se dizem Premium são, em sua maioria, uma versão mais bem-acabada das standard american lager.
    Já no campo das artesanais, a Mistura Clássica Premium é de chorar de tão boa…
    Um abração.

  • Mauricio obrigado pela explicacao, entendi agora..
    Eu gosto muito da Bohemia em lata.. e da serra em garrafa,, vou provar essa Mistura Classica Premium ,.

    Obrigado.

  • As pilsen de verdade detonam. Wals, urquell, bud, e mesmo alemãs como a konig e krombacher não ficam nada devendo as ales.

  • Essas cerveajas industrializdas que se denominam Pilsen, são muito ruins.
    São sem gosto e baratas pois vai muito pouco lúpulo, além de outros ingredientes.
    Se tivessem mais lúpulo seriam mais caras, e não venderiam tanto, já que o intuito dessas “cervejarias” e vender e muito.
    A Koning Pilsener é uma cerveja muito boa com bastante amargor, outra cerveja que me impressionou foi a Primator Exklusiv.
    Cerveja forte e levemente adocicada,ideal para degustação.

  • Adorei o artigo…foi extremamente didatico.
    Das cervejas pilsen nacionais, eu elejo a WALS e BAMBERG, que sao maravilhosas;que nao deixam nada a desejar as gringas.

  • Embora eu conviva com diversos cervejeiros que muito me recriminam, tenho a verdadeira pilsen como favorita. A Paulaner arraza. Das nacionais gosto muito da Wäls, da Eisenbahn e de uma cervejaria artesanal da cidade de Brusque- SC a Zehn Bier.

  • cerveja boa é uma delícia, uma urquell é impagável,wals pilsner é impagável…não importa que tipo ela é. Tem muita ale que é sofrível…

  • Excelente post Maurício. É por essas que sempre tenho minha pilsen em casa. A analogia com a pizza foi perfeita! Boa viajem e nos traga novidades desse estilo tão querido por todos. Uma que recomendo é a BrouCzech!

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