“Beer Evangelismo”: A hora e a vez das cervejas especiais

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Você já sacou há muito tempo que cerveja não se resume somente àquele líquido amarelo, com espuma, alcoólico e servido “estupidamente gelado”. beerevangelism31Nos bares da vida, você até brinda com os amigos tendo à mão uma cerveja “de massa” numa boa, mas não se furta a apreciar de vez em quando (ou de vez em sempre) brejas especiais, sejam artesanais brasileiras ou importadas.

Acontece que a cultura das cervejas de estirpe é insidiosa. Ela chega de mansinho e quando você percebe, a “doença” brejeira irremediavelmente já se instalou. Quem gosta de cerveja e adentra nesse mundo tem poucas chances de sair dele. Sempre se quer aprender mais, degustar mais, descobrir novos e surpreendentes sabores a cada dia. Afinal, como já dizia minha avó, é bem mais fácil acostumar-se com coisa boa.

E as boas coisas do mundo ficam ainda melhores quando aproveitadas com os amigos. Você, que recentemente descobriu o prazer das cervejas especiais, naturalmente quer reparti-lo com a turma da cevada. A expressão evangelho surgiu com o cristianismo e significa boas novas; evangelizar é espalhá-las. E, por conseguinte, beer evangelismo, palavra inventada pelos cervejeiros artesanais americanos, define-se no ato de difundir às pessoas o gosto pelas boas cervejas.

Mas onde isso tudo se encaixa quando os amigos do nosso círculo de relacionamento ainda acham que as “macro” nacionais são as melhores cervejas do mundo, e que degustar brejas diferentes é “frescura”?

O termo “cervochatice” é um neologismo impagável. Deriva de “enochato”, que é o sujeito que se acha um expert em vinhos, e adota um ar professoral e pretensioso para falar da bebida, como se somente ele conhecesse os beerevangelism41segredos do universo. Com a recente expansão da oferta de cervejas especiais, as quais são cada vez mais frequentes até nas gôndolas dos supermercados, é natural que surjam alguns cervochatos, ciosos da sua pretensa sapiência em cervejas, adotando léxicos muitas vezes vagos e ininteligíveis, contribuindo para a injusta imagem de esnobismo que as brejas especiais não merecem ter.

Com os amigos do bar que você quer convencer a conhecer o mesmo prazer do qual você já desfruta (ou, no jargão cervejeiro, “beer evangelizá-los”), é preciso cuidado para não escorregar para a cervochatia, pelo menos no approaching inicial. Beba socialmente, e reserve a degustação para quando o momento for propício apenas pra isso. Você já sabe, por exemplo, que girar o copo e cheirar a breja é indispensável nas degustações – já que o ato “areja” a cerveja e desprende o seu aroma. Mas não se recomenda proceder o ritual na mesa do boteco, com uma standard american lager industrial, sob pena de vaia ou, na melhor das hipóteses, você sentir apenas cheiro de ovo ou papelão.

Não menospreze o gosto dos seus amigos ainda não beer evangelizados. Lembre-se que, certamente como você, eles sofreram a vida toda o bombardeio ideológico das milionárias campanhas publicitárias dos grandes grupos cervejeiros que, por meio de jogadores de futebol, sambistas e mulheres bundudas, os estimularam a consumir brejas em quantidades ciclópicas e, pior de tudo, estupidamente gelaaaaadas… Chegue de mansinho, convencendo pela novidade e obviedade ao invés de impor. Rapidinho vocês estarão todos junto girando alegremente os copos e dividindo prazeres e impressões sobre as brejas de estirpe.

A missão do BREJAS, por sinal, é justamente essa: mostrar às pessoas que o mundo cervejeiro é infinitamente mais vasto do que aquele da propaganda beerevangelism1na TV. Com esse pensamento, a partir deste post, fica oficialmente inaugurada dentro deste Blog a seção “Beer Evangelismo”, destinada ao debate e à orientação dos leitores já beer evangelizados, para que espalhemos todos as boas-novas às almas ainda presas às brejas “de sempre”.

As postagens serão semanais, e em cada uma delas procurarei abordar um aspecto diferente sobre a difusão da cultura cervejeira, e como todos nós podemos ajudar. Com isso, promovemos o consumo responsável de produtos de boa qualidade, estimulando a indústria e o comércio a investir cada vez mais em breja boa, que é o que todos desejamos.

Não deixe de contribuir para esta santa missão, escrevendo comentários ou enviando sugestões de beer evangelização para o meu e-mail [email protected].

15 Respostas para ““Beer Evangelismo”: A hora e a vez das cervejas especiais”


  • Eu sou assim, gosto de apresentar coisas boas para os meus amigos, mas comoconheço as peças seique tme uns que naum vão aceitar, então nesses casso soh vou a um buteco e aprecio as cervejinhas augadas e sem gosto deles e nem perco tempo com avaliações, já alguns amigo smeu smais dispostos e novidades, eu inicialmente os levos em bares qeu tem chopes diferenciados, como por exemplo aqui em campinas, o fritz e a cervejaria universitaria, depois o proximo passo eh um bar especializado na boa cerveja como o bar do italiano, e depois eh apresentar alguns conteudos aqui do forum, como as listas de boas brejas nacionis e importadas para serem apreciadas, a area dos estilos da scervejas e dai eles seguem com as propria spernas, um dia quando vc chega na casa deles tem cervejas especias na geladeira, eh praticamente como criar um filho, dá um ORGULHO =]=]=]

  • Os eventos de degustação com harmonização me parecem ser o mais efetivo recurso de convencimento. Vc convida o amigo, a turma gosta, aprende um pouco e sai transformada.

    Dá pra fazer outras coisas: presentear garrafas, convidar para um bar que tem cerveja séria ou mesmo em casa oferecer algo diferente.

    A coisa mais importante é a abordagem. Vc não vai convecer ninguém dizendo que a cerveja de coração da pessoa é uma porcaria, que ele nem sabe o que é cerveja. Nem sugerindo uma marca que custa dez vezes o que a pessoa está acostumada a pagar. Vão achar vc arrogante e cá entre nós, vc estaria mesmo sendo.

    É preciso valorizar primeiro, despertar o interesse antes e começar com coisas parecidas com o que as pessoas estão acostumadas: uma boa pilsen, uma boa weiss, uma blonde belga, por exemplo. Uma IPA ou uma Tripel podem assustar, o que não de dizer de uma Stout?

    Como disse o Mauricio, espalhemos todos as boas-novas às almas ainda presas às brejas “de sempre”.

  • Já que foram citados… Só espero que os beerevangelizados não se tornem tão arrogantes, antipáticos e preconceituosos quanto muitos bebedores de vinho, ops, enoooooófilos ! Sei o que falo porque também frequento esse meio, gosto de vinhos, bebo com frequência e conheci muita gente besta, hoje selecionei e já sai de todas as comunidades do Orkut sobre o tema, ficando apenas em uma, que é fechada.

    Enfim, descobri o mundo da boa cerveja há cerca de um ano, durante esse período fui afoito e já experimentei umas 100 marcas e/ou tipos diferentes, mas continuo encarando uma Skol numa boa, seja sozinho ou com amigos, claro que nem de longe ela é minha preferida pro dia a dia, reconheço que é cheia de defeitos, mas acho que tudo depende da ocasião e da grana que estamos dispostos (ou podendo) gastar.

  • A armadilha da arrogância é insidiosa, todo cuidado é pouco. Consumidores inveterados de cerveja não raramente desconhecem a diferença entre lúpulo e malte, só para situar a gravidade da coisa. Qualquer conhecimento que vc manifeste sobre a bebida poderá soar arrogante.

    E outra, o vocabulário para descrever uma cerveja passará obrigatoriamente por palavras que transferem uma certa arrogância ao discurso: aroma disso, notas daquilo, malte assim, lúpulo assado. Depois vc ainda usa frutas, especiarias, harmonia, conjunto e etc. pra descrever uma bebida feita de cevada. Vai soar esnobe nos ouvidos das pessoas que tenta convencer, não pela atitude, mas pela forma.

    No Brasil, é já arrogante falar em português correto. Imagine degustar cerveja.

    O que faço com amigos é falar de cheiro/gosto, doce/azedo/amargo, fraco/forte.

    O segredo da boa comunicação reside na habilidade de usar um vocabulário adequado à audiência. O que deve ser rico é o conteúdo, não o formato.

    O exibicionismo e o pedantismo são impulsos normais da nossa natureza, sendo mais forte em alguns que em outros e a gastronima é um terreno fértil para sua manifestação. Tem no vinho, no café, no uisque..vai ter na cerveja. A gente precisa de auto-criticar para escapar dessa armadilha porque arrogância é contra-propaganda, vai afastar as pessoas ao invés de atraí-las. Talvez atraia deslumbrados com problemas de auto-afirmação, mas a maioria de nós não quer essa gente na mesa.

  • 5 Mauricio (BREJAS)

    Fábio e Márcio disseram tudo!

  • 6 Alexandre A. Marcussi

    O Edu Passarelli deu uma entrevista outro dia no programa Tribos em que disse uma coisa interessante e verdadeira: a “mania” da tribo dos cervejeiros é colecionar. Ele se referia a rótulos, garrafas, tampinhas, bolachas, copos etc. Mas acho que vai além: nós colecionamos experiências, colecionamos as memórias das cervejas que tomamos. Nunca estamos contentes com as que já tomamos, queremos conhecer mais variedades, mais rótulos, mais estilos etc. E é natural que criemos e busquemos critérios para “organizar” essa nossa coleção mental de experiências, critérios para distinguir as cervejas umas das outras: daí os ésteres, maltes, torrefação daqui, lúpulos etc.

    Acontece que nem todo mundo lida assim com cervejas, ou com comidas em geral. Tenho um amigo que adora cervejas especiais, mas não faz questão de provar novas sempre. Ele sempre pede Wexford, La Trappe Bock ou Strong Suffolk: se não tiver essas, fica até chateado. Não quer adicionar novas experiências, mas sim repetir essas boas experiências que ele já tem. Obviamente, para ele não é importante diferenciar cada cerveja, identificar cada aroma. E nós, “cervochatos”, podemos dizer que o “nosso” jeito de tomar é mais certo? Ou será que não somos apenas mais neuróticos? Já minha namorada é “uma de nós”, gosta de saber o que está acontecendo em cada copo, qual o estilo, a torrefação do malte, os ésteres etc. Minha atitude ao beber com minha namorada e com meu amigo é totalmente diferente. Não faz sentido compartilhar com ele uma coisa que ele acha pouco relevante; soaria vazio de sentido e prepotente.

    Também temos que lembrar de quando começamos a tomar cervejas especiais, da dificuldade que tínhamos em identificar até malte e lúpulo. Não podemos dar informações demais, pois o nosso amigo leigo não será capaz de identificar tudo isso de primeira. Para a maioria das pessoas, apenas a informação de que os maltes são cereais adocicados e os lúpulos, ervas amargas, já é informação suficiente para que a pessoa passe a prestar atenção em coisas que não via antes. É preciso tempo e costume. Meu approach com quem mostra interesse normalmente é indicar alguns rótulos bons e baratos (pois a pessoa não verá sentido em gastar mais de R$ 10 em uma garrafa se ainda não sabe o que ela tem a oferecer de diferente) e, ao bebê-los, ressaltar apenas as características mais notáveis: “essa é uma cerveja de trigo belga, ela leva raspas de laranja na receita, veja como é cítrica, leve e refrescante”. Pronto. Cuidado para não oferecer mais do que seu amigo consegue deglutir: o resultado pode ser uma indigestão das feias.

  • Parabéns, Maurício, por mais um tema polêmico e atrativo.
     
    Eu mesmo já tentei “evangelizar” um amigo meu, presenteando-o com duas garrafinhas da Chimay Red (aquelas mesmas, que comentei em outro post). Abri a Bíblia e falei pra ele “cara, essa é uma cerveja trapista, feita por monges em um mosteiro belga, procure não beber ela muito gelada, senão você não vai conseguir apreciar o sabor, blá blá blá…”, e ele, que nem sabia o que era uma abadia ou mosteiro, ficou impressionado com a cerveja. Acho essa uma idéia muito legal e que todos nós podemos em algum momento fazer.
     
    Agora, em uma mesa de boteco regada a pseudo-pilsen, eu evito o assunto, não quero passar por chato ou fresco. Prefiro deixar que cada um descubra naturalmente o que é bom, assim como aconteceu comigo. Por muitos anos bebi hectolitros de Skol, achando que era uma das melhores cervejas do mundo. Um dia, graças à EISENBAHN, eu saí dessa “caverna socrática”, e descobri o quão ignorante eu era sobre o assunto.
     
    Para quem não conhece a alegoria da caverna de Sócrates, recomendo a sua leitura. É uma analogia interessante com esse tema do Brejas e essa realidade que vivemos hoje no Brasil.
     

  • A quem se interessar pelo Mito da Caverna escrito por Platão (portanto caverna platônica ao invés de socrática…) na qual Sócrates, como personagem, conversa metaforicamente com irmãos de Platão sobre “como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade”:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna

    Interessante, eu não conhecia.

  • Valeu pelo link, Marcio! Como Sócrates não deixou nada escrito, Platão se encarregou de fazer isso por ele. Só resta saber se nessa época (4 ou 5 séculos A.C.) eles já bebiam cerveja…. hehehehe

  • Maravilha de post! Parabéns, Mauricio… mais uma vez. Não é à toa que eu nunca mais consegui deixar de dedicar um tempinho diário pra ler as novidades do Brejas. E não me canso… Beer Evangelismo?!?!?!? Tô dentro!!!!
    Abraços!

  • Excelente texto, Maurício ! Tento sempre seguir essa linha mesmo, é realmente muito fácil passar por cervochato.

    Hoje mesmo, puramente por motivos sociais, me juntei a uns amigos que estavam em bancos de plástico tomando latas de Antártica à beira de um podrão; intervalo da faculdade. Surgiu a discussão sobre Brahma (que havia na van do podrão tb) ser melhor que Antártica etc. , eu disse que até prefiro, mas que na verdade a diferença é pequena, e que as duas não são cervejas de qualidade. No entanto, parei por aí! Só citei uma ou outra, vi o interesse do pessoal, e continuei com meu copo de plástico bebendo o suco de cereal ñ-maltado + metal. =)

  • 12 Mauricio (BREJAS)

    Pessoal brejeiro,
    Obrigado mesmo pelos elogios!
    E vamos beer evangelizar!

  • […] Brejas, tradicional fonte de conhecimento cervejeiro, lançou um tema interessante e necessário: o beer-evangelismo, ou seja, a divulgação do conhecimento cervejeiro para o grande público que desconhece a […]

  • 14 Daniel Guandalini

    Tenho tentado e tentado a tentar denovo mas é muito difícil beer evangelizar.
    Pra se ter uma idéia de como é difícil este processo segue minha experiência:
    Apresentei uma Hoegaarden, a qual considero uma breja fácil de beber, para o irmão de minha esposa(meu cunhado) que mora em Dourados-MS e cresceu bebendo as macros rodeado de muitas pescarias e o bom e velho churrasco. E não é que o rapaz gostou, porém tem se mostrado um pouco resistente a provar Stouts, IPAs e outras delícias da vida, más não deixa de ser um avanço.
    Por outro lado fiz o mesmo processo ao esposo de minha irmã(cunhado tb) e meu pai, moradores da região de Ribeirão Preto e tb acostumados a macros e churrascos(nada contra churrasco rsrss). O resultado não foi tão satisfatório, pois ambos torceram um pouco o nariz e com aquela cara de feia disseram: -É, é boa.
    Realmente acho esse um processo muito difícil e ainda não me considero um “Beer Pastor” pois me parece chato insistir com outras marcas e outros estilos.
    Se alguém achar a receita por favor me passe, pois até agora não tive muito sucesso.

    Abraços cervejeiros a todos !!!

  • este post fico muito bom e engraçado. É verdade que em certos lugares, se vc resolver girar o copo ou até mesmo comentar algo sonre a cor da cerveja, neguinho vai cair matando mesmo. Esses dias estava tomando um com um amigo e numa mesa ao lado, dois sujeitos tomaram uma Erdinger Urweisse e uma Paulaner Salvatore, e não gostaram de nenhuma das duas. Voltaram para as Itaipava. Acho que é gosto e em alguns momentos eu tomo a mesma atitude que tomei há tempos com a música: não perco meu tempo tentando convencer ninguém de aquilo é bom ou ruim. Deixo cada um na sua. Neste mesmo dia um outro sujeito foi até nossa mesa e disse que gostava de cervejas vermelhas etc, indicamos uma London Pride pra ele, que quase ajoelhou de alegria nos agradecendo. Neste momento eu até brinquei e disse: “Beer Evangelização”!

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