Cerveja e patriotismo de botequim

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Confesso que não consegui dormir direito desde o dia em que assisti, em horário nobre, a nova campanha publicitária da cerveja Brahma. Pra quem acabou de pegar as malas na esteira do aeroporto vindo de Zanzibar, explico. Trata-se de um filme “estrelado” pelo o cantor Zeca Pagodinho, o qual entoa um samba cuja letra é a que segue:

De manhã cedo eu me benzo, me levanto e vou trabalhar, tudo o que eu tenho nessa vida eu conquistei e tive que ralar
Do meu pai e da minha mãe aprendi o que eu sei, e os meus filhos vão herdar o nome limpo que eu herdei, não sou barão mas me sinto um rei porque tenho um lar
E no final daquele dia duro de batente é a hora da minha Brahma que também sou gente, a vida não tem graça sem ter os amigos e o que celebrar
Eu sou Brahmeiro amor, eu sou Brahmeiro, sou do batente, sou da luta, sou guerreiro, eu sou brasileiro

Acompanhando o pagode, gente feliz trabalhando, posando ao lado do carro que conquistou “ralando” e batendo orgulhosamente no peito ao final do pegajoso refrão. Do ponto de vista puramente publicitário, reconheça-se, o filme é genial.

É o aspecto “subliminar” que causa espécie. Ao final do filme fica a mensagem: Se você é trabalhador, honesto, guerreiro, tem um lar, amigos, motivos pra celebrar e é brasileiro, automaticamente é Brahmeiro. Sentiu o drama?

Não chego ao desplante paranóico de afirmar que o comercial presta um desserviço à nascente cultura cervejeira nacional, mas a campanha certamente fomentará o recrudescimento da espécie dominante nessas plagas: A do TORCEDOR DE RÓTULO.

Você encontra o Torcedor de Rótulo em qualquer lugar. No bar, ele briga contigo pra “provar” que o dele é o melhor. E, aqui no BREJAS, ele escreve foribundo pra manifestar o seu descontentamento ao saber que o seu rótulo do coração ficou em antepenúltimo no Teste Cego das Pilsen Brasileiras.

O Torcedor de Rótulo, a exemplo do comercial, não discute a qualidade dos ingredientes da sua cerveja. Não se preocupa se a sua cerveja, afinal, tem gosto de cerveja. Basta-lhe a embalagem bacana, o sambinha da campanha, a modelo gostosa que aparece fazendo biquinho.

Não dá pra demonizar o comercial. Pelo contrário, trata-se de uma peça magistral, que em 30 segundos transmite a mensagem que se propõe. Todavia, preparemo-nos. A nação dos Torcedores de Rótulo já saiu às ruas, batendo no peito e com os dentes afiados. Agora, além do ícone que é o próprio lay-out do rótulo que amam, um dia da semana só deles (a tal da Zeca-feira) e o herói (o próprio sambista), a eles lhes foi composto um hino nacional. 

16 Respostas para “Cerveja e patriotismo de botequim”


  • Maurício, o que mais dói é ver algumas gerações de bebedores de cerveja, virarem a cara para as belgas etc, e se deliciarem com estas porcarias. é óbvio que todos nós tomamos umas skols, antarcticas, etc no nosso dia a dia, até por que não dá pra tomar Leffe todo dia, mas que é triste ver esse tipo de coisa é. E tem mais, este Zeca Pagodinho é apenas um bêbado, que não deve discernir entre mijo de cachorro e cerveja quente, no ofense. O pior para meu bolso é que desde que as belgas chegaram a um preço competitivo, está cada vez mais dificl tomar umas Bhraminhas eheh.

  • eu concordo … hoj o povo bebe marca
    todos nos bebemos elas … elas não são ruins, mas são inferiores a muitas outras que agora achamos no mercado com preços razoaveis, voltando…
    o ponto realmente é o efeito da propaganda … se eu sirvo pra amigos Bavaria por exemplo ….vou ver aqueles olhares dizendo : porra? Bavaria cara?! que nojo !
    é complicado isso, mas propaganda realmente afeta pessoas … eu nunca me atrevi a esperimentar crystal … talvez infuenciado por amigos e por propagandas de rivais , não sei …talvez preguiça
    mas hoj vejo que o importante é experimentar ( sem alusoes) e ver a menos pior ou ir pelo preço mesmo 😛

  • Isso é a mais pura verdade, o povo bebe marca, e o pior marca da pior qualidade, ambev vem assassinando as cervejas que elas fabricam a algum tempo.

    Eu faço o máximo pra não tomar essas pesudos-cervejas da ambev, se vou a algum bar,restaurante que não tem bavaria premium, heineken ou kaiser gold eu fico numa caipirinha ou whisky.

  • 4 Mauricio Beltramelli

    Leitores brejeiros,

    Muito legal essa discussão. De qualquer modo, antes que alguém me crucifique (ou me processe), gostaria de deixar claro o seguinte:

    1) O artigo não é um ataque frontal à Ambev ou à qualidade da cerveja Brahma. Convido apenas à reflexão sobre o alcance da propaganda nos consumidores;

    2) Trata-se da manifestação da minha opinião pessoal, eu não falo em nome do BREJAS como um todo. Pode haver algum Confrade que não ache o que eu acho, e de antemão respeito as opiniões diversas.

    Mas vamos continuar o papo, tá bom demais…

    Grande abraço.

  • 5 Leandro C. Arantes

    Mas esta nova era de “torcedor de rótulo” começou com a Skol.

    Jvem, bonita na “bagunça”. TOma Skol.

    Se tomar outra, ele passa mal, etc e tal..

  • Acredito que todo mundo é afetado por diversas marcas.
    No caso de produtos que não conhecemos, vamos pra marca que nos identificamos mais. Se algum homem que não compra sabão em pó vai pro supermercado, vai comprar a marca que mais lembrar (ou a mais barata, esse com certeza é o segundo quesito).

    Ou seja, o problema não é os “caras que bebe marca”, porque eles realmente não conhecem mais sobre cerveja, e provavelmente nem querem. É difícil você mudar a visão de uma pessão que desde que começou a beber cerveja, bebe a mesma pilsen que o mercado serve.

    Aí é que mora a dificuldade de se inserir outros estilos aqui. Se tem um público pra lá de complicado, muitas vezes que não se importam em conhecer mais sobre o que consomem, e simplesmente querem saber da marca que mais afeta a sua vida, do preço melhor, e da comida hiper-gordurosa do botequim.

    Sou totalmente contra essas tentativas da Brahma de tentar pregar uma “Zeca-feira”, ou da Skol com aquela “o que você fizer no verão é o que vai contar pros netos”. Isso pouco tem a ver com cerveja, tem a ver com o comportamento de quem não conhece o produto, e consome o que a mídia enfiar goela abaixo (goela se escreve assim?).

    Até a pessoa querer saber mais sobre o que consome, consumir conscientemente, consumir produtos de boa qualidade, e de empresas que pensam mais no produto do que na propaganda, é um longo caminho. Temos um belo trabalho contra a massificação da cerveja..

  • Depois de muito tempo que eu percebi esta verdadeira torcida pelo rótulo. Na minha adolescência tivemos brigas homéricas por conta de saber qual era a melhor. O mais engraçado é que várias vezes tive a oportunidade de trocar o rótulos da cervejas e mesmo assim o fanático torcedor nem perceber que esta degustando a cerveja adversária, chegando ao cúmulo de segurá-la nas mãos como verdadeiro trófeu, enaltecendo as qualidades da cerveja que acreditava tomar. Hoje, vejo que a questão é paladar, somente o meu padalar pode definir aquilo que é bom ou não. Não repito este erro, nem mesmo com as consagradas cervejas belgas e estrangeiras. Porque também neste universo há quem queira empurrar a “melhor” guela abaixo dos demais.

  • Veja só como as coisas são: por aqui as coisas passam-se exactamente igual, e estamos a uns milhares de quilómetros de distância

  • Talvez se existisse uma grande diferença de sabores a “torcida” fosse mais “justificavel”.

    A pouco tempo tomei uma temida cerveja que só pelo fato de voce pronunciar o nome dela esvaziava o bar. Kaiser. Logo depois tomei uma Brahma. Me deu vontade de dar risada de tão semelhantes que eram.

    Depois de tantos anos estudando, tomando cervejas de tudo quanto é quanto voltei ao ponto de partida.

    Cerveja é tudo igual.

    (le-se Brahma e Cia. Claro.)

  • Aqui em São Paulo já li essa infame frase: ser brahmeiro e ser guerreiro, assim que li isso pensei como as propagandas de cervejas bem como elas estão patéticas.
    Só não colocam mulheres nuas nas cervejas por que é proibido, aliás nunca vi relação entre bundas e cervejas.
    Cervejas como brahma, antartica e skol nem me lembro a ultima que bebi, o que é estranho que apareceram mais marcas industrializadas e o nível continua ruim.
    Propaganda como da bavaria premium, (até que a long neck se salva um pouco), é confusa por que diz que é uma cerveja premium e suave.
    Troque-se a palavra suave, por aguada pois se produzirem uma cerveja amarga, talvez não tenham as vendas esperadas.
    Pois é fácil perceber que o povão gosta mesmo é de cerveja bem aguada e muito gelada, resultado: água amarelada, pois não se sente sabor de cerveja.
    Gostam pois não tomaram uma cerveja de nível alemã, belga, holandesa ou de outro país.
    Bebo pouca cerveja mas de qualidade, e felizmente em São Paulo existem opções, isto é para os que querem refinar o gosto.
    Isso aí Mau continue com esse decente blog!
    Abraços!

  • Isso vai demorar pra mudar. O povo não paga pelo mais elaborado, refinado e consequentemente (e infelizmente), mais caro. Paga pelo que é mais barato, pela melhor oferta, pelo dito “valor agregado a marca”, que geralmente não implica em valor agregado ao produto. E aí, amigo, é esse Deus me livre. Ganha o mais mulambo.

    Assim como a alta gastronomia não é para qualquer paladar – há quem, mesmo tendo a oportunidade e poder aquisitivo para experimentar novos sabores, não consegue gostar de nada que vá além do feijão, arroz, filé e fritas, cervejas elaboradas também não são para todos. E não dá pra crucificar ninguém por isso, pois acima de tudo é uma questão de afinidade e vontade.

    Ainda assim, sempre que posso ofereço uma cerveja diferente a algum amigo ou parente – Chimay, Maredsous, Orval, Leffe, Eisenbahn… Não mostro garrafa, não levanto nenhuma bandeira, apenas trago o copo cheio da cozinha. E a resposta é quase sempre a mesma: “gente, que cerveja gostosa!”. Uma vez dita a famosa frase, o campo está aberto para um breve discurso sobre cervejas, mas sem dar de enochato. Pronto, está feita a minha parte. Podem não se tornar amantes dessas beldades, mas tenho certeza de que, no mímino, vao olhar com mais atenção para a gondola do supermercado.

    E confesso: ao contrário da história da Zeca-feira (super gratuita), até que achei simpático o samba do Zeca. A construção melódica chega a ser complexa perto dos “Redoooondo” que vemos por aí. Não me fará tomar nem um mililitro a mais dessa cerveja por conta disso, mas pelo menos não me agride.

  • Eu ja fui torcedor de rotulo. La pro fim da decada de 80/inicio da de 90 eu “torcia” pela Antarctica (na epoca, faixa azul), enquanto outros “torciam” pela Brahma. Algum tempo depois, passei a “torcer” pela Skol…

    Hoje, depois de conhecer um pouco do vasto mundo da cerveja e da cultura cervejeira no mundo, e depois de conhecer e saborear excelentes cervejas, como Eisenbahn, Baden Baden, Erdinger, Paulaner, Franziskaner, Spaten, HB, Piraat, etc, etc, eu chego a conclusao que cerveja popular nacional eh no fundo tudo a mesma coisa, soh serve pra se beber supergelada, matar a sede e se embebedar com os amigos jogando conversa fora.

    Que porra de brahmeiro o cacete (desculpem o linguajar), essas cervejas levam cereais inferiores como milho e arroz, e o pior, sao muito aguadas e pauperrimas em aroma/sabor.

    Nao tenho nenhum problema em beber cerveja popular nacional, mas acho importante SABER o que se estah bebendo. Mas confesso que, depois de provar uma Heineken, por exemplo (puro malte, saborosa), fica mais dificil encarar uma Brahma ou uma Skol…

    Eh issæ.

    Valeu.

    Fui

  • Olha só: acho bem bacanas as propagandas de cervejas, principalmente as que têm mulheres de biquini fazendo biquinho…

    Não que isso vá me fazer trocar uma Heineken, Lowenbrau, Broughton ou NewCastle por uma Skol…

  • Olá Maurício.

    Excelente este seu artigo!
    O público das cervejas especiais se aproxima mais do estilo “enófilo sem ser enochato” do que propriamente do estilo “zecapagodista” ou “torcedor de rótulo” que consiste na maioria esmagadora dos consumidores de cerveja.
    E felizmente para nós (vide reação do mercado), o time dos “cervejófilos” cresce a cada dia. Nesta analogia com o time dos enófilos, digo que ainda estamos na era “Liebfraumilch” das cervejas. Mas esse tempo passará um dia, assim como foi para os amantes do bom vinho.
    Parabéns pelo artigo e pela importante contribuição do Brejas para os apreciadores das cervejas diferenciadas.
    Abraço

  • 15 Mauricio Beltramelli

    Grande Mestre Paulo!

    É um prazer indescritível tê-lo como leitor do BREJAS.

    Compartilho integralmente com a sua opinião. Há cada vez menos Torcedores de Rótulos, e a era “Liebfräumilch” da cerveja se vai um pouco a cada dia.

    Obrigado pela força e um grande e orgulhoso abraço de todos os Confrades do BREJAS.

  • Muito bom achar pessoas sensatas nesse mundo. Venho de uma família onde Brahma é Deus.

    Sempre preferi outras marcas e hoje não abro mão de ter em casa cervejas artesanais e na rua, como não tem jeito, bebo o que tiver mas sempre procuro por uma Stella ou Bohemia ou até mesmo uma Itaipava ou Original antes da Brahma.

    Abraços e continuem com os testes

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