Detalhe da Avaliação

Esta brown porter do Felipe Viegas, atualmente produzida sob o rótulo de "Taberna Porter", mostrou-se muito harmônica e elegante, com um perfil de torrefação rico e agradável e um ótimo lúpulo aromático dando frescor ao conjunto. A cor é quase preta, com alguns reflexos avermelhados no contra-luz, formando um creme de cor marfim (no contraste com o líquido, parece quase branco) denso, sem muita persistência. Aroma e sabor são bastante congruentes. O interessante é que o malte torrado não domina completamente e não sobrepuja as demais características da receita. Os maltes apresentam uma boa riqueza e maciez, com notas de café e chocolate amargo sem aquela secura torrada de algumas cervejas muito escuras. O lúpulo faz um ótimo contraponto, conferindo frescor com notas evidentes de mentol, florais e um toque de citricidade. Há um suave sabor de fermento de pão que se mistura aos maltes, dando-lhes ainda mais maciez. Ao fundo, sentem-se ésteres frutados remetendo a maçãs vermelhas (o rótulo anuncia baunilha, mas eu não encontrei) e um certo mineralizado da água. Boa complexidade e interação entre os elementos. Como nem tudo é perfeito, senti um tiquinho de legumes refogados (DMS e cebola) de fundo, mas não chega a comprometer o conjunto. O paladar apresenta bom equilíbrio entre doce e amargo com alguma acidez suave, talvez com um certo predomínio da doçura do malte, mais forte no final, que traz chocolate amargo, café e fermento de pão. O corpo é um pouco leve demais, o que eu acho que é um dos seus pontos mais fracos: poderia ser mais marcante, junto com um sabor mais intenso. Uma excelente porter nacional, que efetivamente supera muitas importadas tradicionais e que apresenta uma ótima harmonia entre maltes torrados e lúpulo aromático. A mistura do torrado, achocolatado e o leve toque mentolado me fizeram lembrar da sensação de tomar um café e arrematar com uma bolinha de chocolate com menta - uma delícia! Parabéns ao Felipe pela criação!