Detalhe da Avaliação

Esta Flying Dog Gonzo é uma cerveja do estilo Porter, este surgido na Inglaterra nos idos da Revolução Industrial (século XVIII) e que caiu no gosto dos operários para comemorar o término de longas jornadas de trabalho. Caracteriza cervejas de alta fermentação, de coloração escura, bem maltadas e com impressões que lembram traços de nozes, panificação, chocolate, toffee etc. É um estilo antigo que seria o resultado da mistura de três tipos de cerveja: uma Old Ale, uma Pale Ale e uma Mild Ale. Desta combinação resultaria uma bebida a que os ingleses chamavam de ‘Entire Butt’ ou ‘Three Threads’.

A propósito do sub-estilo, como posto no rótulo, creio que a Flying Dog Gonzo é uma Imperial Porter (sinônimo de Baltic Porter???). Isto em razão do intenso perfil torrado aliado à notas de caramelo, chocolate amargo, frutas escuras, lupulagem mediana tanto no aroma quanto no amargor e substancial graduação alcoólica.

É produzida pela Cervejaria Flying Dog, instalada na cidade americana de Frederick/Maryland. A história da cervejaria remonta ao ano de 1990, tendo sido fundada pelos amigos George Stranahan e Richard McIntyre. O nome escolhido, conforme consta no site da cervejaria, se deve a uma pintura a óleo dum cão que parecia se elevar acima do chão, visto numa expedição ao monte K2 no Paquistão no ano de 1983 – tal gravura serviu de inspiração. O portfólio é vasto e este é o primeiro rótulo que degusto, tendo na adega os rótulos Raging Bitch e Horn Dog Barley Wine.

Vintage 2010 - validade 17.11.2013. A garrafa é de 355 ml, cor marrom, tampa preta com o símbolo da cervejaria (no mercado americano a tampa é azul). Aliás, a maioria dos rótulos da cervejaria traz a figura dum cão nas mais variadas representações e situações. O belo rótulo é colorido em tons de azul e laranja e ostenta figuras alusivas a um deserto (cactos, areia, pedras, uma caveira com chapéu de vaqueiro e um cigarro). Em letras grandes as expressões ‘Gonzo’ e ‘Imperial Porter’, bem como informações de IBU (85), ABV (9,2 %), ingredientes e Importador na Holanda. Pesquisando na internet encontrei um texto que diz que ‘Gonzo’ seria uma gíria irlandesa para referir-se ao último homem que resta em pé após uma bebedeira.

Vertida na taça revelou um líquido de coloração negra, não translúcido, que apresentou espuma de cor bege de belíssima formação e elevado volume, com bolhas médias e que demonstrou destacada persistência. Algumas rendas e lágrimas escorreram pela taça e mesmo após o creme esvair-se restou mantido uma camada perene sobre o líquido. Perlage (bolhas) não perceptível.

O aroma se apresenta bastante intenso e complexo, sobressaindo notas de maltes torrados com nuances salientes de café, chocolate amargo, toffee, caramelo, bem como baunilha, madeira, ameixas e forte amargor de lúpulo com perfil floral, herbal e cítrico (casca de laranja) – alma claramente americana. O álcool se desprende bem, mas não é o único protagonista e todos os componentes mostram seu ‘cartão de visitas’.

No paladar o líquido se mostra licoroso e o sabor reverbera, e muito, a profusão de sensações olfativas. As percepções lembram notas de torrefação, café, toffee, caramelo, chocolate amargo e melaço. Também nota-se baunilha, madeira, ameixas e muito lúpulo floral e cítrico. O amargor é muito vincado, fruto da elevada lupulagem (IBU 85) e do amargo correspondente à torrefação, mas vem bem equilibrado com maltes e álcool. O final é seco e agridoce e o retrogosto traz café e torrefação e se mostra persistente. O álcool de ABV 9,2% é potente e proporciona aquecimento, mas não é agressivo. O corpo é médio-alto e a carbonatação é média. A palatabilidade (drinkability) é ótima, em que pese a parcimônia se impor.

O conjunto é robusto, mas equilibrado e a degustação proporcionada foi altamente prazerosa. Esses americanos sabem fazer cerveja!

Imperdível!