Flying Dog Horn Dog Barley Wine

Esta Flying Dog Horn Dog é do estilo Strong Ale, sub-estilo American Barleywine (vinho de cevada), este caracterizado por cervejas de alta fermentação potentes e robustas, em regra envelhecidas, que apresentam coloração variável e creme que vai do fugaz ao abundante; o aroma e o paladar trazem notas maltadas intensas com sensação de caramelo e panificação, alguns ésteres frutados e lúpulo assertivo que vai de alto a muito alto, com sensações cítricas e resinosas. O corpo é denso, a carbonatação é variável e teor de álcool pode chegar aos ABV 12%. É um estilo cujos exemplares se prestam à guarda, a exemplo de bons vinhos. As cervejas inglesas no estilo possuem uma base de maltes mais rica, amargor terroso e um perfil mais equilibrado do que as congêneres americanas. Diga-se, a propósito, que apesar do equilíbrio tender ao amargor numa American Barleywine esta não chega a se confundir com uma Imperial IPA americana, na qual o amargor costuma ser extremo e a base maltada menos musculada.

É produzida pela Cervejaria Flying Dog, instalada na cidade americana de Frederick/Maryland. A história da cervejaria remonta ao ano de 1990, tendo sido fundada pelos amigos George Stranahan e Richard McIntyre. O nome escolhido, conforme consta no site da cervejaria, se deve a uma pintura a óleo dum cão que parecia se elevar acima do chão, visto numa expedição ao monte K2 no Paquistão no ano de 1983 – tal gravura serviu de inspiração. O portfólio é vasto e este é o segundo rótulo que degusto (antes Gonzo Imperial Porter), tendo na adega ainda o rótulo Raging Bitch e mais alguns exemplares dos degustados.

Vintage 2010 - validade 08.01.2014. A garrafa é de 355 ml, cor marrom, tampa preta com o símbolo da cervejaria. A maioria dos rótulos da casa traz a figura dum cão nas mais variadas representações e situações. Este não foge à regra e se apresenta criativo e colorido em tons de azul, laranja, violeta, ostentando a figura de um cão raivoso, em pé, com um chifre enorme e que, de certo modo, lembra Godzilla. Em letras grandes se lê as expressões ‘Horn Dog’ e ‘Barley Wine Style Ale’, bem como a expressão ‘Good people drink good beer.’ – Hunter S. Thompson. Na lateral do rótulo há informações de IBU (45), ABV (10,2 %), ingredientes e Importador na Holanda (exemplar destinado ao mercado europeu). A gravata, igualmente colorida, repete os símbolos postos no rótulo. Não sei se era a intenção da cervejaria, mas na internet se encontra referências que dizem que a expressão ‘horndog’ é usada para designar um homem que demonstra excitação abundante.

Vertida na taça revelou um líquido de coloração acobreada com nuances avermelhadas, medianamente turvo, espuma bege de bela formação e consistência, com bolhas médias e razoável manutenção. Rendas se formaram e ao girar a taça as paredes laterais do vidro ficam tomadas pelo líquido viscoso, mais ou menos como bolinhas de sagu escorrendo - as tais 'lágrimas'; um anel de creme restou mantido ao longo da degustação e perlage (bolhas) foi igualmente vista.

O aroma desta cerveja é bastante convidativo! Aromático e complexo exala um verdadeiro festival de sensações pelo qual se percebem nuances de torrefação, caramelo, chocolate, toffee, baunilha, açúcar mascavo, leveduras, frutas secas (ameixas), tostado/madeira e lúpulo com perfil cítrico (toranja) e herbal (pinheiro). O álcool volatiza bem, mas de forma agradável.

No paladar o líquido se apresenta licoroso e reitera a complexidade exposta ao olfato, amplificando-a. De caráter inicialmente adocicado percebe-se na cerveja uma forte base maltada com nuances de caramelo, chocolate, toffee, baunilha, açúcar mascavo, leveduras, frutas secas (ameixas), tostado/madeira e vinho do porto. O lúpulo (IBU 45) apresenta perfil cítrico (toranja) e herbal (pinheiro), mas não rouba a cena. O final se mostra agridoce e picante e o retrogosto é levemente torrado, alcoólico e persistente. O álcool de 10,2% ABV é potente e confere agradável aquecimento na garganta, mas é bem inserido e ajuda a lavar a boca. O corpo é médio-alto e a carbonatação é média. A palatabilidade (drinkability) é muito boa e apesar da 'boca cheia' a cerveja foi fácil de beber.

Degustação altamente prazerosa, proporcionada por um conjunto complexo, encorpado e equilibrado. O amargor resta suavizado o que surpreende um pouco, considerando o que se costuma ver em exemplares americanos.

Recomendo muito e muitas!

Coloração âmbar avermelhada (rubi) e espuma marrom clara de excelente formação e duração, deixando marcas em toda a extensão da taça e acompanhando o líquido até o fim. No aroma aparece um frutado intenso (frutas vermelhas) que salta do recipiente te fazendo não querer mais parar de cheirá-la. Em seguida aparecem malte caramelo, chocolate, amêndoas, madeira, uvas roxas, lúpulo herbal... UFA! Na boca as sensações se repetem e se confundem, esta foi uma das cervejas mais complexas que tive o prazer de degustar. Licorosa, densa, bem carbonatada. O álcool mal se percebe, como de costume está minuciosamente inserido. O final é longo, frutado, amarguinho e com certo calor alcoólico que vem para coroar a experiência. De longe, minha cervejaria preferida. Não vejo a hora de encontrá-las facilmente por aqui novamente.

Nossa, uma Barley que serve de referência. Sabor intenso, quando acompanhada de comidas fortes e temperadas, cai como uma luva. Apesar do teor alcoolico, há um equilibrio que outras não possuem. Exatamente, este é o termo: equilibrio. Tendo esta como padrão, há algumas brasileiras que não ficam para trás não!

Coloração âmbar com nuances avermelhadas e alaranjadas, creme bege de baixa formação deixando um colar em volta do líquido.
Aroma complexo e equilibrado. O malte tostado traz notas de caramelo, toffee e mel, açucar mascavo acompanhadas do lúpulo herbal, floral com sensações de lavanda e cítricas com maracujá e laranja. café e chocolate.
Corpo e carbonatação perfeitos, e com textura licorosa.
Paladar adocicado, café e chocolate, com um leve amargor, seguidos de notas cítricas de maracujá, notas condimentadas de cravo e pimenta, sensação picante e de calor.
Final harmônico, com notas doces, amargas e condimentadas, de frutas numa junção perfeita. Caramelo , toffee, açucar mascavo!

Feroz! Barleywine extravagante, luxuriosa e excessiva em todos os sentidos, com muita complexidade e equilíbrio. O rótulo alerta: este cão é uma "besta robusta"! Na taça, apresentou um líquido de cor rubi brilhante e transparente, com reflexos alaranjados, com um creme marfim de pouco volume, mas denso e persistente, com ótima performance diante do referencial do estilo. No aroma como na boca, a sua complexidade é de derrubar da cadeira. Domina uma combinação muito marcante e intensa de malte caramelado, lúpulo cítrico rementendo a Cointreau e uvas passas, que se sente de longe ao abrir a tampinha e que invade e conquista o ambiente tão logo a cerveja se assenta nas taças. Uma aproximação mais atenta revela ainda mais surpresas: um certo lúpulo amadeirado e resinoso se revela marcante na língua, e se faz acompanhar de sugestões de canela, tâmaras secas, licor de ameixas, suco de uva integral, um toque lupulado de frutas vermelhas, um fundo amaciador de ésteres de banana, notas de castanhas-do-Pará do malte e um agradável toque mentolado do lúpulo que se sente na boca. Embasbacante, é uma degustação exigente. Ela começa na boca fortemente doce, com corpo denso e textura licorosa, abre um sólido amargor de fundo, desce mais uma vez doce e com forte sensação alcoólica, deixando depois um amargor residual persistente e intenso. Doçura e amargor são intensos, mas bem contrabalaneados. O final foi o seu ponto fraco, pois ela causou uma incômoda sensação de aspereza na finalização do gole, raspando na garganta (acho que é o chifre do cachorro!) e deixando um retrogosto um tanto quanto confuso e inexpressivo (com notas de caramelo, uvas passas e uma sugestão "chapada", sem vivacidade nem riqueza, de chocolate amargo) se comparado com a vertiginosa complexidade que ela mostra no bouquet e na boca. Fico imaginando que algum tempo de guarda possa ajudar a amaciar e "amansar" esta fera; vale a experiência. No conjunto, é uma cerveja muito impressionante, intensa e complexa sem ser desequilibrada, e de de degustação exigente, mas que, ao meu ver, peca pelo final áspero e um tanto confuso. Chamem-me de louco, mas seu aroma me remeteu bastante à minha querida Wäls Quadruppel, o que é definitivamente um elogio, embora ela mostre um amargor mais intenso.