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O meio cervejeiro é "machista"?

Respondido por Fernando Malheiros Dal Berto no tópico O meio cervejeiro é "machista"?

Em dezembro passado assessorei algumas pessoas a começar no meio, produzindo sua cerveja em casa. Uma dupla de amigos, outra dupla um casal heterossexual. Para os dois amigos havia um canto da casa, na churrasqueira, 'o lugar dos homens' como ilustraram as conversas. Para o casal a compra dos equipamentos era coisa dele... Todas essas pessoas tem convívio que me pareceu bem tranquilo entre sexos, provavelmente também entre gêneros, afora um que é mais acentuado no machismo já a partir do discurso. Eles são apenas um recorte, acredito que do que vi até agora ilustram bem a ideia.

O que quero dizer é que, indo além desse recorte pessoal, nosso meio cervejeiro é machista, tem forte identidade masculina e é bastante voltado a manter esse padrão. Mas, paradoxalmente (ou como contraponto, por aí vai...), é um meio que convive 'mais perto de casa' do que dos bares essencialmente masculinos, querendo dizer com isso que os cervejeiros produtores e os bebedores das cervejarias de pequena escala tem no seu meio mais presença das mulheres e elas opinam. Essa aproximação deve aos poucos dar mais voz para mulheres e homens que buscam minar os discursos essencialmente machistas.

Como sugerido, acredito que individualizar comportamentos machistas é uma ideia tão boa como dar nome aos bois, funciona, questiona. Mas admitir coletivamente que somos machistas, que nosso meio cervejeiro ligado aos pequenos produtores, artesanais ou não, ainda pensa a partir de símbolos que valorizam o macho da espécie sendo agraciado pela sua macheza, desvalorizando ou não a fêmea, é muito importante.
Fernando MDB
9 anos 2 meses atrás #58754

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Respondido por Gabriel Rogel no tópico O meio cervejeiro é "machista"?

Diferente do vinho, a cerveja tem um caráter mais casual, amigável e divertido. É interessante que mesmo cervejas com grande complexidade de sabores tenham rótulos divertidos e engraçados, quase debochados. Nesse ambiente surgem manifestações de ideias nos rótulos, o que pode não agradar uns, agradar outros ou ser irrelevante para outros. Não sei se isso é mais adulto ou maduro, é o que é.
Voltando para o nome "Brazilian Wax", eu não achei machista.
Abraços
9 anos 2 meses atrás #58755

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Respondido por Jota Fanchin Queiroz no tópico O meio cervejeiro é "machista"?

Marcussi, eu acredito que não existe meia liberdade. Ou você tem ou não. E ficar criando vítimas de algo que alguem diz contribui para que nos afastemos cada vez mais da liberdade.
Quanto ao maluco do vídeo ele diz sim: "se você está vivendo em um país onde alguém pode dizer algo que te ofende isso significa que vc tambem está vivendo em um país onde pode dizer algo que ofenda a eles". É uma via de mão dupla.
Sinceramente, não vejo nada de machismo e se existem casos isolados que sejam encarados como seres humanos idiotas e não como uma culpa coletivo. Menos vítimas e mais gente forte.
9 anos 2 meses atrás #58756

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Respondido por Mauricio Beltramelli no tópico O meio cervejeiro é "machista"?

Vou colocar o que penso sobre o assunto através de um causo recente...

No começo de 2014, quando pensávamos a Colorado Carambreja (a cerveja comemorativa de 5 anos do Bar Brejas), nos deparamos com felizes coincidências. Vimos que a "alma" da cerveja era essencialmente feminina, já que:

- A ideia de juntar a carambola com o manjericão era uma ideia antiga da Fabiana Panobianco, minha mulher e sócia do Bar Brejas;

- O estilo Belgian Saison foi, por assim dizer, "desenvolvido" pelas mulheres mães de família do sul da Bélgica, que faziam as cervejas no final do inverno para os trabalhadores sazonais das suas fazendas ("les saisonniers"), e até mesmo por isso o estilo também é chamado de farmhouse ale;

- A execução da receita nas panelas de testes e, posteriormente, também nos tanques, ficou a cargo de duas cervejeiras mulheres da Colorado (Bianca Franzini e Fernanda Ueno).

As coincidências eram de encher de orgulho, exceto por uma preocupação que logo nos assaltou: como dizer às pessoas que a Carambreja é uma cerveja feminina sem ofender as feministas radicais? Sim, pois há uma meia-dúzia delas, nas redes sociais ligadas ao meio cervejeiro artesanal, para quem tudo pode virar ofensa, desde o sexismo inadvertido até o mais intencional e rasgado elogio. Tudo ofende. Chamar mulheres cervejeiras de musas ofende. A propaganda da Amazon Beer com a deusa das águas ofende. A propaganda da Colorado Allez Les Bleus ofende. Chamar cerveja de Brazilian Wax ofende. Comentar que isso tudo, a princípio, pode não ser ofensivo... ofende! No final, nós todos, homens e mulheres envolvidos no projeto da Carambreja, decidimos que a história ia ser contada, ofendesse quem ofendesse (até agora ninguém berrou, mas pode ser que alguém apareça dizendo-se ofendido).

O mais triste é que, em geral, o patrulhamento do politicamente correto se esconde atrás da capa de opinião pública consolidada. Esse pessoal mais radical, embora sejam poucos, grita tão forte é é tão organizado que, como no caso da Evil Twin e sua Brazilian Wax, pensa-se que é um monte de gente reclamando. Enquanto, como se viu em mídias sociais, a esmagadora maioria (também das mulheres) não enxerga maldade nenhuma nas iniciativas.

Mas ai de quem ousa discordar! Especialmente no caso do feminismo radical, a simples discordância o torna machista (ou, no léxico característico, "misógino"). Se for mulher, você é uma cega tapada conivente com o machismo. Homens são vistos, sem exceção (e até os defensores do radicalismo feminista!) como "opressores". Bem... falo agora por mim. Pra quem dá um duro danado no bar convencendo as pessoas que cerveja é, sim, coisa de mulher; pra quem roda o país dando curso de sommelier de cerveja pra desmistificar o machismo da bebida; pra quem tem a mulher como sócia atuante em bar de cerveja; pra quem escreve livro defendendo a tese de que as mulheres foram as descobridoras da cerveja... ser chamado de machista "misógino", cansa. Com o perdão da palavra, enche o saco.

E posso contar um segredo? Estou há mais de uma década nesse meio cervejeiro e posso atestar, sem medo de errar, que o setor todo está muito feliz com a crescente inclusão das mulheres como cervejeiras, sommelières, empresárias, degustadoras, promoters, alunas, ou o que quer que sejam. E tudo em pé de igualdade! Todo mundo está muito contente vendo que os bares e festivais cervejeiros estão a cada dia lotando de mulheres. Me inclua nessa conta! Isso vem acontecendo a olhos vistos, motivo pelo qual, embora respeite, não concordo com o cerne da crítica do confrade Marcussi.

O feminismo é um movimento absurdamente importante como promotor da necessária igualdade entre os sexos. Porém, algumas feministas radicais (e seus defensores) deveriam usar essa energia toda pra preocupar-se com questões muitíssimo mais sérias e urgentes do que eleição de musa e rótulo de cerveja.

Bom, é o que penso. Se ofendi alguém, peço antecipadamente minhas desculpas.
Os seguintes usuário(s) disseram Obrigado: Diogo Olivares, Alexandre LC, Giovani Lopes
Last edit: 9 anos 2 meses atrás by Mauricio Beltramelli.
9 anos 2 meses atrás #58757

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Respondido por Fernando Pires no tópico O meio cervejeiro é "machista"?

Na minha opinião o machismo no setor cervejeiro existe e é reflexo da nossa sociedade, como menciona o Marcussi, isso vem da cultura e da educação que recebemos.
Mas a liberdade de expressão muitas vezes é combatida como preconceito por uma minoria radical, tanto para o machismo, como para o feminismo, e essa radicalidade é mais perniciosa que o próprio machismo, porque o sexismo está mudando com o tempo, não sendo o mesmo do que há 30, 40 anos, o que permitiu ao universo feminino os avanços e a "igualdade" em muitos aspectos sociais contemporâneos. Achar que um rótulo, um nome ou uma propaganda faz sexismo, o que na maioria das vezes não acontece, é que alimenta mais ainda o machismo, ofender-se facilmente é que não é "maduro e adulto", a participação das mulheres está cada vez maior no meio cervejeiro, principalmente no setor de cervejas especiais, acho que muito devido à variedade de estilos; possibilidade de harmonização; etc e acho uma tendência rumo à igualdade futura, mas como qualquer mudança na sociedade, será lenta.
Ainda veremos muitas propagandas com mulheres lindas e "promotoras gostosonas" para atrair os homens a se identificarem e beberem daquela cerveja, mas com o tempo (e já está mudando) menos pessoas irão se identificar com esse tipo de abordagem.
Levemos a vida menos a sério e menos radicalmente, passando conhecimento para os que anseiam por isso e dando menos importância ao preconceito, isso fará a diferença!!

JE SUIS CHARLIE
Last edit: 9 anos 2 meses atrás by Fernando Pires.
9 anos 2 meses atrás #58758

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Respondido por André Rodrigues no tópico O meio cervejeiro é "machista"?

Jota Fanchin Queiroz escreveu: Marcussi, eu acredito que não existe meia liberdade. Ou você tem ou não. E ficar criando vítimas de algo que alguem diz contribui para que nos afastemos cada vez mais da liberdade.


Eu entendo que ninguém "cria" vítimas. Elas existem. As mulheres (e os homens também) são vítimas da sociedade Machista em que vivemos. Isso não é "fabricado" por ativistas ou ideólogos de plantão. A definição de papeis que o Marcussi disse em um post anterior não foi criada por quem hoje grita contra ela.
E já que estamos falando de "liberdade plena" as pessoas que se consideram vítimas de algo tem o direito de expressar isso. Dizer coisas como "menos vítimas e mais pessoas fortes" para alguém que realmente é uma vitima não me parece algo perto de dar liberdade plena a essa pessoa. Se estamos defendendo liberdade plena, temos que dar liberdade a todos, inclusive às vítimas de lutarem contra o que as torna vítimas.
9 anos 2 meses atrás #58761

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