A Stella Artois é uma American lager nacional que apresenta intensidade, amargor e lupulagem superior aos demais rótulos de massa, buscando um posicionamento de mercado como uma marca bem mais cara que as demais (mas ainda sem exibir a personalidade de um bom rótulo artesanal). Para mim, o destaque é o equilíbrio de boa intensidade entre o malte e o lúpulo, tanto em aroma quanto em paladar. Sua cor é dourada clara, transparente como manda o estilo, com espuma branca de desempenho mediano. Assim que ela é servida, exibe aquele aroma de oxidação pela luz que me lembra bexiga de festa, e que condiz com a garrafa de vidro verde, mas que felizmente mostrou-se passageiro na garrafa que degustei, dando lugar a suas demais características. Predomina no aroma o lúpulo, com características predominantemente herbais-condimentadas (ervas finas) e um floral de fundo, de rara intensidade nas industriais. O malte aparece no aroma mas se mostra mais presente na boca, apresentando mel, pão branco e algo de milho do sutil DMS. A esterificação é sutil, com um toque mínimo de maçãs vermelhas, condizente com o perfil de lager. No paladar predomina o amargor meio oleoso, de boa intensidade para o estilo (mas ainda mais suave que uma Bohemian ou German pilsner tradicional), mas equilibrado por uma saborosa doçura de malte, sobretudo no início. O corpo é mediano e o álcool se faz sentir bem de leve. No conjunto, é uma American lager de boa intensidade e com uma presença equilibrada de elementos de malte e de lúpulo, com características herbais e florais esbanjando uma complexidade rara nas concorrentes. Mais interessante que boa parte das industriais? Creio que sim. Justifica o preço tão mais elevado? Aí já é uma boa pergunta. Para o bebedor de lagers que só deseja algo um pouco mais marcante, provavelmente sim. Para o bebedor acostumado com cervejas especiais, porém, talvez fique em uma espécie meio-termo entre as "de todo dia" e as artesanais de mais personalidade. Ainda assim, não deixa de ser uma boa pale lager de referência. Prefira a versão em lata, que não é suscetível à ação da luz e evidencia melhor o aroma lupulado.
Vale a comparação da versão brasileira com a europeia, que nos chegou na edição comemorativa do natal de 2010 (em garrafa arrolhada de 750 ml). Contrariando minhas expectativas, a versão europeia mostrou-se mais adocicada e com sabor mais marcante de malte, o lúpulo ficando mais discreto. Não sei se existe diferença na receita, mas acredito que a viagem da Europa ao Brasil também tenha contribuído para diminuir a intensidade do lúpulo, tanto em amargor quanto em aroma (do qual só restou uma percepção floral leve). Preferi a nacional.