Como é bom falar de bons produtos da nossa terra (país e Estado)! A Bodebrown Cerveja do Amor, na expressão criada pelo compositor João Lopes, é "Bicho do Paraná" assim como este simplório apreciador. É do estilo Fruit Beer, este caracterizador de cervejas Ales ou Lagers que contenham fruta. A cor, aroma, sabor e outras características variam muito a depender da fruta utilizada. Entretanto, deve haver certo equilíbrio entre a cerveja-base e a fruta escolhida, de modo que esta não seja excessivamente saliente e assim acabe por suprimir os demais componentes daquela (lúpulo, maltes, ésteres, álcool etc). De modo geral as fruit-beer são cervejas com baixo volume alcoólico e que são melhores se servidas bem frias em razão de, habitualmente, se tornarem um tanto adocicadas.
Esta Bodebrown Cerveja do Amor foge ao padrão e se apresenta com ABV 8,0% (trata-se de uma belgian tripel à base de trigo com amoras meceradas), sendo produzida sazonalmente apenas por ocasião do Dia dos Namorados e do Natal.
É produzida pela Cervejaria-Escola Bodebrown, localizada na cidade de Curitiba/PR, cria do descabelado pernambucano Samuel Cavalcanti. Surgida em 2009, a cervejaria já recebeu prémios de alto gabarito no "Australian International Beer Awards" e no "Mondial de La Biére" (Canadá - 2011 e 2012). No portfólio de cervejas estão jóias como a Perigosa (ex-venenosa), a Black Rye IPA, a Wee Heavy, a Blanche de Curitiba, a Cara Preta, a Hop Weiss e a tão aguardada 4 Blés (tipo abadia, com 4 trigos, levedura canadense, damasco, tâmaras e chips de carvalho).
A garrafa é de 500 ml, cor marrom, e apresenta um belíssimo rótulo que, em verdade, se confunde com uma obra de arte. A gravura que estampa o vidro nos remete à cena trágica da obra 'Metamorfoses' do poeta romano Ovídio em que um casal de namorados (Pyramus e Thisbe), sem consentimento dos pais, marca um encontro junto à uma árvore (amoreira branca) que se torna testemunha da morte de ambos: - ele imagina que ela foi atacada por leões e se mata com a espada; ela faz o mesmo com a lâmina e diz à árvore 'que tuas frutas sirvam como memória de nosso sangue'. E a amoreira, tingida com o sangue de ambos, passou a dar frutos vermelhos.
Vertida na taça revelou uma coloração avermelhada, de mediana translucidez, com espuma de matiz rosa, de bela formação, consistência destacada e de mediana manutenção, mas com fina camada persistente sobre o líquido e algumas rendas pelas laterais. Perlage (bolhas) perceptível.
O aroma é muito bom, com intensas notas cítricas de frutas vermelhas, nuances do condimentado da cerveja-base, percepções de malte de trigo (cravo e banana) e uma leve acidez própria da fruta. O álcool é perceptível e o amargor é baixo.
No paladar o líquido se apresenta aveludado e o sabor se mostra levemente adocicado, mas com o acréscimo de alguma acidez própria da fruta e aqui sim se identifica a amora. Apesar da simplicidade das fruit beer há no exemplar uma bela complexidade proveniente da cerveja-base (tripel) podendo-se perceber uma interessante mistura entre a acidez da fruta, a picância do malte de trigo, o sabor característico da levedura (notas condimentadas) e um suave amargor de lúpulo herbáceo. O álcool, apesar dos ABV 8,0%, é um tanto sutil e não destoa do conjunto. O final se mostra seco e agridoce e o retrogosto é levemente ácido/cítrico e adstringente. O corpo é leve-médio e a carbonatação é média. Ótima drinkability!
A degustação foi prazerosa, oportunizada por uma cerveja equilibrada, complexa e refrescante. Apesar de uma acidez um pouco mais saliente para o estilo trata-se de um belo exemplar!