Me parece que os cervejeiros brasileiros estão começando a achar a identidade da nossa escola. Algumas cervejarias já usam ingredientes tipicamente brasileiros, mas o pessoal da Way, ultrapassou um pouco isso e matura sua cerveja (que tem receita semelhante a uma Dopplebock) com pedaços de amburana, madeira brasileira que é usada geralmente para maturação de cachaça. E realmente, os caras acertaram na receita e acabou se tornando a cerveja de maior destaque no portfólio da cervejaria.
Na taça, mostra coloração marrom, com nuances avermelhadas e uma translucidez bem baixa. Seu creme tem coloração bege, uma formação razoável, textura cremosa e uma duração mediana, mesmo com a presença potente do álcool.
O ponto fraco é com certeza o aroma. As notas de madeira, mesmo que não tão robustas quanto de carvalho, se destacam e combinam muito bem com a riqueza maltada da cerveja, que evidencia uma gama vasta de frutas secas, chocolate e caramelo. Ao fundo são perceptíveis notas terrosas e um fundo desgostoso de papelão.
Na boca sim, sua complexidade abre e ainda de maneira intensa, bem no estilo que me agrada. O perfil maltado da cerveja me faz lembrar muito um delicioso bolo de chocolate, com frutas como ameixas, cerejas e uvas. Ao fundo toques vínicos e de madeira ficam em segundo plano, mas não menos importante, ainda com uma leve acidez que quebra com maestria o adocicado dos maltes. O lúpulo mostra-se bem suave, provavelmente pela maturação bem longa que a cerveja sofre, mas ainda traz um amargor rústico, herbáceo e terroso, o que até faz com que saia um pouco do estilo Dopplebock. O álcool se faz presente, afinal são quase 9%. Seu corpo é licoroso, bem robusto, com carbonatação média e um retrogosto doce/amargo, que traz um caramelado intenso e notas amargas que chegam até a lembrar café.
A qualidade desta curitibana é inquestionável, e o fato de usar ingredientes não tradicionais é algo que chama minha atenção logo de cara. O uso da amburana caiu perfeitamente a cerveja, ressaltando os toques frutados e vínicos. Se fosse mais aromática, com certeza estaria entre as mais top do cenário nacional. Acredito que não tenham escolhido a madeira para a cerveja e sim encaixado uma cerveja para a amburana, que para mim, é a grande estrela.