Cerveja rústica e marcante, esta é uma receita extrapolada a partir da Old Engine Oil, passando por barris usados para maturar o uísque Highland Park 18 - o qual já chegou a ser eleito simplesmente o melhor destilado do mundo. Por essa maturação estendida, que lhe dá características elegantes de oxidação e guarda, ela se enquadra no estilo old ale, muito embora a própria cervejaria use o termo "imperial porter" ao descrevê-la. De qualquer modo, trata-se de uma cerveja complexa, rústica e elegantemente viril, em que a torrefação dos maltes funde-se perfeitamente bem com as características terciárias advindas de sua maturação, em especial os toques amadeirados de uísque. A cor é preta e totalmente opaca, com leves bordas marrom escuras, com espuma marrom densa que deixa uma camada perene. No aroma se revela de cara uma sensação de cereais torrados e uma defumação de turfa, típica de alguns uísques, o que me deu uma sensação meio "rural", remetendo a celeiro. O lúpulo é condimentado e traz notas de pimenta e leve nuance mineral. A longa maturação ainda lhe deu aromas de maturidade, tais como madeira evidente, uísque, couro e palha seca, bastante claros. Complementam o aroma uma certa sensação de bolo de fubá, pistache e algo levemente frutado, lembrando bolo inglês - mas o frutado está longe de ser um elemento dominante aqui. No sabor, esse conjunto de aromas se integra perfeitamente à torrefação evidente do malte, com caramelo de entrada, chocolate e um final sugerindo café e defumação. Excelente harmonia. No paladar é a doçura caramelada que predomina, com um amargor sólido e correto de fundo fornecendo um contraponto e conduzindo a um final torrado e maltado, em que a doçura volta a predominar de leve. A baixa acidez lhe dá maciez, e o corpo é intenso, com textura oleosa e acetinada e uma sensação alcoólica presente mas muito bem contextualizada. No conjunto, uma excelente old ale que opta por fazer a integração dos sabores marcantes de malte torrado do Old Engine Oil com os evidentes sinais de madeira, uísque e guarda advindos de sua longa maturação, sem que um aspecto encubra o outro, resultando num conjunto complexo, ainda que poderosamente rústico e forte. Eu a diria perfeita para beber numa noite fria ao pé da lareira em um chalé, ouvindo os sons da natureza do lado de fora. A comparação com as demais cervejas da linha Ola Dubh é inevitável, e eu encontrei uma grande consistência e muitas semelhanças entre esta 18 e a 40. As diferenças não são decisivas, ma existem: nesta 18 me pareceram faltar os toques frutados e vínicos da 40, além de ser também talvez mais suave e sutil, com sabor de uísque talvez menos evidente. Contudo, todo o poder da 40 também ofusca um pouco a delicadeza de suas características de guarda, pela impressão que tive. É sempre difícil comparar de memória, e o ideal seria uma degustação comparada simultânea de toda a linha. De qualquer forma, entre uma ou outra, não acho que exista necessariamente uma hierarquia de interesse e qualidade. Considerando a diferença no preço, isso sem dúvida pesa a favor desta excelente 18.