Arquivos para a Categoria 'Convidados'Page 2 of 11

Notas e rankings de cervejas: A justiça possível

Comentários
3.680 visitas

 

por Alexandre Marcussi*

Notas numéricas são um instrumento comum usado para medir desempenho, ainda mais em uma sociedade tão competitiva como esta em que vivemos. Não importa para onde olhemos, é difícil escapar delas.

Nem sempre foi assim, é bem verdade. Mas, hoje em dia, raros são aqueles que não estão acostumados a medir a qualidade ou a excelência de qualquer coisa por meio de notas. Aprendemos isso desde pequenos, na escola. Nosso destino escolar, a companhia dos mesmos amigos de turma no ano seguinte, o castigo impostos pelos pais, a recompensa dos professores: tudo isso dependia, invariavelmente, do maldito número impresso no boletim do final do ano. Ao sairmos do colégio, nosso destino universitário é definido pelo número implacável de nossa nota no vestibular. Mas como podem ousar transformar uma vida inteira de experiências e crescimento pessoal em um único número, frio e insensível?

A ideia parece estranha, mas, à força de tanto passarmos por essas experiências, acabamos nos acostumando a ela. Talvez por isso nos pareça bastante natural, assim que começamos a provar diferentes cervejas, compará-las por meio da atribuição de notas numéricas. A comparação por notas fornece a base de funcionamento do ranking do Brejas, bem como de outros portais cervejeiros mundo afora. O mesmo é feito com vinhos há muito tempo, então qual seria o problema?

Na verdade, existem imensos problemas subjacentes ao ato de atribuir notas a cervejas e compará-las a partir dessas notas. Problemas tão grandes que alguns sommeliers simplesmente se recusam a traduzir em notas seus julgamentos sobre cervejas. Neste artigo, pretendo apontar alguns desses problemas e discutir formas possíveis de lidar com eles.

Notas e aprendizado

Vamos começar falando um pouco sobre notas e avaliações no sistema educacional. Pode parecer que não tem nada a ver com nosso tema, mas trata-se de assunto já muito bem estudado com o qual entrei em contato em minha formação como professor, e que pode nos fornecer indicações e insights valiosos para discutir os rankings cervejeiros.

Nós professores sabemos o quanto qualquer nota – qualquer sistema de avaliação de desempenho escolar, na verdade – pode ser arbitrária. A aprendizagem é um processo gradual, multifacetado, marcado pelo desenvolvimento desigual de múltiplas competências e pela retenção de vários saberes por diferentes meios. Reduzir isso tudo a uma única nota, atribuída por uma prova aplicada num único momento de toda essa trajetória, é no mínimo questionável. Dividir a avaliação em vários momentos e defini-la por meio de vários meios diferentes (prova escrita, trabalho, apresentação oral etc.) já é uma melhora, mas ainda não elimina o fator principal: toda avaliação de desempenho depende intimamente do critério usado para avaliar e das expectativas do(s) avaliador(es) a respeito do resultado que ele pretende aferir. Isso é invariável.

Continuar lendo ‘Notas e rankings de cervejas: A justiça possível’

Cervejas de polvilho, jabuticaba, zimbro e pitanga: Minas Gerais mostrando criatividade

Comentários
2.858 visitas

Concurso premia cervejas com ingredientes “mineiros”

por Fabiana Arreguy*

No último fim de semana a Acerva Mineira realizou a segunda edição de seu concurso interno, chamado informalmente por nós de concurso da “Inconfidência Cervejeira Mineira” . O porque do nome?? Fácil! Além da data fixa, 21 de abril – Dia de Tiradentes, o pai da Inconfidência, a ideia do concurso é encontrar representantes de estirpe para uma “escola mineira de fazer cerveja”. Para tanto é obrigatório o uso de algum ingrediente que remonte à cultura histórico-gastronômica mineira. A edição do ano passado foi tão comentada que levou à organização do concurso nacional das Acervas a incluir em 2012 a categoria livre, com a mesma obrigatoriedade de uso de algum elemento da gastronomia brasileira.

Na primeira edição, em 2011, o concurso mineiro premiou nos primeiros lugares cervejas que levavam boldo, fumo de rolo e doce de leite. Todas inusitadas e deliciosas, belíssimas representantes da cultura de Minas. Sendo assim, a expectativa de todos para este ano era sobre a criatividade dos cervejeiros em encontrar novos elementos, que fossem tão representativos como as do ano anterior. E não é que eles conseguiram mostrar novos ângulos e sabores??

O julgamento foi realizado na sexta-feira, dia 20, na Cervejaria Kud, apoiadora do evento, inclusive com o grande prêmio ao vencedor: brassagem, engarrafamento, rotulagem e distribuição da cerveja com maior pontuação. Julgamento difícil, no qual houve debates intermináveis entre os juízes, que naquele momento se apropriaram das cervejas que julgaram, defendendo-as como se fossem filhas suas. Fato é que foram para o podium final aquelas que, realmente, se sobressaíram no conceito, na criatividade e, acima de tudo, na qualidade.

Beterraba e alfavaca

Das cervejas inscritas, havia ales acrescidas de beterraba, de alfavaca, de zimbro, de jabuticaba – um verdadeiro desfile de ingredientes interessantes, que conferiram efeitos mais interessantes ainda à bebida. Todas elas com boas pontuações, mas as três vencedoras intrigaram os juízes pela complexidade de suas receitas e ainda mais pela técnica dos cervejeiros em torná-las saborosas.
Levou medalha de bronze o advogado Bernardo Gosling que, participando pela primeira vez de qualquer concurso, produziu a Pitãg-ale – uma blonde com folhas e frutos da pitangueira. Ele conseguiu imprimir à cerveja um aroma intenso e perceptível da pitanga. No sabor a fruta também estava lá, com seu travo característico, uma certa adstringência, mas sem nos tirar a vontade de bebê-la.

Em segundo lugar, com medalha de prata, ficou o Daniel Draghenvaard, cervejeiro dos mais criativos em Minas Gerais, reconhecido por seus inquestionáveis hidroméis. A cerveja dele, chamada Minas de Ferro, uma strong dark ale com acréscimo de café arábica colhido no sul do estado e um gruit formado por sálvia, guaco e artemísia, além de melaço de cana, impressionou pela robustez, aromas quase palpáveis de cada elemento e, mais que tudo, pela concepção da receita tão complexa.

Pão de queijo ou cerveja?

Mas foi o João Marcelo Mendes o grande vencedor desse páreo, pela coragem de utilizar um ingrediente nada fácil para uma cerveja. Decidido a levar para o copo um dos elementos que mais representam a gastronomia de Minas Gerais – o pão de queijo – o cervejeiro produziu uma brown ale com polvilho! Isso mesmo, com a goma azeda da mandioca… aquela, com cheiro bastante característico e bem pouco agradável. E o resultado surpreendeu a todos os juízes – não era turva, não era azeda, continha o aroma estranho mas sem chocar. Pela coragem em traduzir um conceito, mostrando não só criatividade mas também muita técnica, a medalha de ouro foi para essa ” Peripécia de São João”, assim chamada pelo João Marcelo.

Agora, é esperar o feriado de Tiradentes de 2013, quando a terceira edição do concurso interno da Acerva Mineira será realizada. Até lá novos cervejeiros farão parte da associação, novas ideias irão surgir e novos conceitos serão criados. Que bom!!!

———————-

Fabiana Arreguy é jornalista e sommelier de cervejas pela Doemens-SENAC. Semanalmente, ela comanda a coluna Pão & Cerveja,fabianaarreguy que vai ao ar todas as sextas-feiras às 11:45 da manhã pela rádio CBN de Belo Horizonte (106,1 FM). Ouça ao vivo o programa ou curta os programas anteriores gravados e disponibilizados aqui no blog pelo BREJAS. Para a experiência ficar completa, acompanhe também o Blog Pão & Cerveja.

O Brasil caminha para uma “Lei Seca” total?

49 Comentários
3.417 visitas

Os políticos evangélicos e a sucessiva demonização da cerveja

Por Pedro Migão *

O ponto que vem alcançando maior polêmica no recente debate da Lei Geral da Copa é a questão que reside na permissão ou não a venda de cerveja nos estádios durante a competição. Hoje, é praticamente impossível conseguir-se ficar bêbado dentro de um estádio e, entre os países com tradição na prática do futebol, somente a Argentina tem regras restritivas iguais às nossas.

Na minha opinião e na de diversos especialistas a avaliação é de que esta proibição tem o propósito de “desviar o foco” para o que realmente ocorre: a convivência promíscua de dirigentes e eventualmente políticos com elementos mais radicais de torcidas organizadas, estes sim focos de violência nos estádios. Muitos destes extremistas são financiados por dirigentes de clubes e acabam manchando a imagem não somente da esmagadora maioria dos membros das torcidas como do próprio torcedor comum.Não vou discutir hoje, entretanto, a questão da venda nos estádios ou a questão das torcidas organizadas, e sim chamar atenção para um fato muito mais grave que esta queda de braço em torno da bebida na Copa está revelando: a tentativa de setores mais conservadores da sociedade, em especial representantes das igrejas evangélicas — por meio de sua bancada no Congresso –, de impor algum tipo de “Lei Seca” geral à sociedade a médio prazo.
Até agora, ao menos na questão da cerveja, tal pressão tem obtido sucesso, tanto que o Governo Federal já pensa em retirar este item da Lei Geral da Copa. Contudo, lembro ao leitor que o país quando quis ser sede da Copa assumiu alguns compromissos com a Fifa, e este é um deles. Parece-me um caso claro onde o interesse de alguns está se sobrepondo ao geral.O leitor deve estar se perguntando: e o que isto tem a ver com uma “Lei Seca” geral? Explico.

Obscurantismo religioso e imposição da fé

Está em tramitação na Assembléia Legislativa de São Paulo projeto de lei (767/2011) de autoria do deputado (evangélico) Campos Machado que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em espaços públicos ao ar livre, bem como restringe o porte e o transporte de tais produtos ainda que para consumo doméstico. A proposta está pronta para ser votada e, caso aprovada, seguirá para sanção do governador Geraldo Alckmin.

Continuar lendo ‘O Brasil caminha para uma “Lei Seca” total?’



Anuncie

Anuncie no Brejas e divulgue o seu negócio:

Baixe nosso Mídia Kit

Entre em contato: [email protected]