Detalhe da Avaliação

Contrariando a tendência dos demais rótulos da De Ranke, esta dark strong ale mostra-se uma receita fortemente adocicada e licorosa, em que a densidade do malte torrado domina o conjunto de uma forma notável para o estilo. Vertida na taça, apresentou coloração marrom-avermelhada opaca e um creme bege de volume e persistência medianos, menores do que em outros rótulos da cervejaria - o que o alto teor alcoólico explica pelo menos em parte. No geral, é a combinação de seis tipos de malte que mais se sobressai, principalmente no sabor, mostrando características esperadas pelo estilo, como notas carameladas intensas e toques açucarados, mas também características incomuns mas bastante bem-vindas, como uma torrefação mais intensa que lhe dá um sabor macio de queimado no final, sem secura excessiva. Os ésteres frutados não ficam muito atrás, mostrando notas de uvas passas e ameixas secas marcantes sobre um fundo sutil de maçãs vermelhas e abacaxi em calda. Os lúpulos (Challenger e Saaz, de acordo com a cervejaria) mostram-se pouco marcantes. O paladar é fortemente doce, um tanto desequilibrado, com um amargor bem suave, toques de salgado e baixa acidez. De forma geral, ela progride de uma entrada densamente doce para um final suavemente amargo e seco, correto, com retrogosto maltado de caramelo e queimado que no entanto não chega a ser suficiente para equilibrá-la perfeitamente, na minha opinião. Seu corpo é denso, com textura licorosa, e a presença do álcool é bem marcante, a ponto de desbalancear o conjunto, sendo sentida nitidamente desde o aroma. De maneira geral, embora haja uma esterificação considerável, seu grande trunfo é a profundidade e a densidade dos maltes, mais evidententemente torrados do que o habitual do estilo, fazendo um bom contraponto à forte doçura, que constrasta com as outras cervejas da De Ranke, mais secas e amargas. Contudo, esse jogo entre torrado e doce, para meu gosto, não chegou a equilibrá-la, o que se agrava pela forte presença de álcool, contribuindo para lhe diminuir a drinkability. Ainda assim, é uma receita competente que tem tudo para agradar o paladar de quem procura uma cerveja que alie características frutadas da escola belga com uma presença mais torrada do malte, sem contudo chegar ao ponto de torrefação, por exemplo, de uma imperial stout. O fato de uma receita com este nível de competência ter sido o rótulo que menos me agradou dentre a seleção das De Ranke, aliás, é sinal do alto padrão de qualidade mantido pela cervejaria.