A irmã mais velha da família mostra quem manda. Tenho um carinho muito forte pela Rochefort 8, mas esta daqui me deixou boquiaberto só de abrir a garrafa e sentir o seu delicioso perfume. Talvez tenha me conquistado por ter um perfil mais potentes do que suas irmãs, me acolhendo para a família.
Sua coloração é um belo marrom avermelhado, com pouca translucidez. Seu creme é de cor bege, se forma razoavelmente e não dura muito na taça. Mostra-se mais "caidinha" do que a Rochefort 8, digamos.
Mas no aroma vem pra ficar no pau-a-pau. A complexidade frutada desta cerveja é de cair o queixo mesmo. Traz uma pegada de ameixas secas e uvas-passas muito gostosa e que se misturam a cerejas ao marrasquino e um toque de banana. Impressiona? Ainda tem uma riqueza dos maltes torrado que trazem café e chocolate e as leveduras que trazem algo de terroso. Não suficiente ainda vem com presença mais discreta dos lúpulos que trazem algo de amadeirado e floral ao bouquet.
Na boca é que ela me pega de jeito. Incrível como os caras conseguiram combinar a profundeza dos maltes, com esteres de leveduras. Há uma presença gostosa de chocolate ao leite que encaixa muito bem, hora remetendo a ameixas, uvas e bananas passas, hora a
coco, maçãs vermelhas, licor de cerejas ou café, dando a impressão que tanto gosto de estar comendo um bombom recheado. Toda esta potência mais adocicada é cortada por toques amadeirados e condimentados que me remete a cravo. Há até um fundinho esquisito de
plástico, mas que não chega nem perto de estragar a mágica do negócio. Ao final a doçura domina, lembrando um bolo de chocolate recheado com cerejas, e que tem a doçura novamente quebrada por um amargor de café e um toque terroso. Seu corpo extremamente denso e aveludado, misturado ao frutado doce, traz uma sensação de vinho do porto bem marcante. Sensação que é ainda potencializada pelo alto teor alcoólico, quente e acolhedor, nunca agressivo.
Com certeza está entre as melhores cervejas que já bebi, principalmente dentre a escola belga. De perfil marcante, com uma doçura sensual e uma potência alcoólica inebriante. Alguns falam das semelhanças com a Westvleteren 12. Se a famosa melhor cerveja do mundo for assim, sou obrigado a correr até a Bélgica e prova-la.