A Chimay Bleue (azul) é uma cerveja de alta fermentação do estilo Belgian Strong Ale, sub-estilo Belgian Dark Strong Ale, este caracterizado por apresentar cervejas belgas mais escuras (que suas primas de estilo), mas em regra igualmente fortes, bastante complexas, encorpadas e saborosas, com um ABV que pode chegar aos 12%. Com destacada formação de espuma as BDSA apresentam aroma e sabor dominados por dulçor de maltes, especiarias e frutado, notadamente de frutas secas. O lúpulo é sutil, o corpo é variável e a carbonatação é elevada.
Integrante do seleto grupo das '25 cervejas imperdíveis do Brejas' a Chimay (blue label) começou a ser fabricada em 1862 na cidade belga do mesmo nome por iniciativa da comunidade monástica da Abadía Nôtre-Dame de Scourmont, esta fundada em 1850 por monges oriundos da Abadia de Sint-Sixtus (onde é fabricada a lendária Westvleteren 12). Apenas um reparo: na verdade a primeira cerveja a ser fabricada pelos monges foi a Chimay Rouge (Red).
A Chimay fabrica cervejas (Red, Tripel, Blue, 150 e Dorée) e queijos - eu não precisaria de mais nada :). Aliás, a água utilizada é retirada de um poço no interior da Abadía e a filtração dos sólidos presentes no mosto da cerveja é dado às vacas que produzem o leite para o fabrico dos queijos Chimay. Logo, concluo que o queijo, maravilhoso imagino, já deve vir acompanhado de gratas notas de cerveja :).
A Chimay pertence à Ordem Trapista (oficialmente, Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância) cuja origem da denominação vem do mosteiro de Nôtre-Dame de la Trappe, França (1662), vindo a mesma a influenciar outros países europeus o que culminou no surgimento de novos mosteiros que seguiam as restritas regras desta ordem religiosa. Assim, no ano de 1997, oito abadias trapistas - 6 da Bélgica (Orval, Chimay, Westvleteren, Rochefort, Westmalle e Achel), 1 da Holanda (Koningshoeven) e 1 da Alemanha (Mariawald) - fundaram a ITA (International Trappist Association), com o objetivo de estabelecer as regras do estilo e proteger o nome do uso abusivo por parte de outras marcas. Para isso, esta associação criou um selo que só pode ser utilizado pelos produtos que seguem os critérios estabelecidos e que sejam elaborados por monges trapistas, sejam esses produtos queijos, cervejas ou vinhos. Recentemente, no ano de 2012, a cervejaria trapista da Abadia de Engelszell (Aústria) começou a produção de cerveja e a abadia alemã de Mariawald não está produzindo cerveja (o logotipo da ATP é usado para outros produtos no mosteiro, por exemplo o licor). Os monges, que repartem seu tempo entre oração, estudo e trabalho, utilizam parte do que é arrecadado com a venda dos produtos na manutenção das Abadias e o restante dedicam à caridade.
A garrafa é de 330 ml, vintage 2010, validade 2015, com tampa e rótulo na cor azul, no qual se vislumbra o selo e o nome da cervejaria. No contra-rótulo uma profusão de informações tais como temperatura de serviço, taça adequada à degustação, posição de guarda, selo trapista, validade, ingredientes, graduação alcóolica, lote etc.
Vertida na taça revelou uma coloração marrom escuro, com turbidez característica, ostentando uma destacada espuma bege densa e consistente de belíssima formação e de longa persistência, com bolhas médias e que manteve rendas nas laterais da taça e uma fina tampa residual sobre o líquido ao longo da degustação. Perlage (bolhas) perceptível.
O aroma é imensamente delicioso e complexo e se apresenta dominado por notas de maltes que remetem à lembranças de caramelo, toffee e açúcar mascavo. As notas características de leveduras e panificação também se fazem presentes, além de ésteres que apontam para frutas secas (ameixas, passas...), um condimentado que estabelece uma certa picância, notas amadeiradas, vinho do porto e algum lúpulo floral.
No paladar o líquido se mostra licoroso e amplifica a riqueza presente no aroma. Extremamente complexa com o equilíbrio tendendo aos maltes tem-se um dulçor saliente e se percebe notas de caramelo, toffee, panificação e leveduras. Sente-se também uma agradável picância, notas frutadas de ameixa, passas e banana, notas amadeiradas e um característico fortificado próprio de vinho do porto e conhaque. Com um amargor de lúpulo quase ausente é o álcool de 9,0% ABV que se encarrega de prover equilíbrio, entretanto o mesmo é muito bem inserido e não agride o paladar. O final se mostrou longo e seco e o retrogosto agradavelmente adocicado e alcóolico. O corpo é médio-alto e a carbonatação á alta. A drinkability é excepcional!
Conjunto complexo, robusto, equilibrado e harmonioso que proporcionaram-me uma degustação altamente prazerosa! A Chimay Blue é uma formidável representante do estilo Belgian Dark Strong Ale que não pode ignorada por quem aprecia cerveja de qualidade, pois trata-se de um verdadeiro ícone belga.