A Nº1 já começa impressionando com seu rótulo, criativo e coerente com a história da cerveja, num belo trabalho do André Clemente. No copo, a cerveja mostra pouca formação de espuma, mantendo uma fina e fugaz camada de creme bege acima do líquido acobreado-escuro, opaco e sem borbulhas. O aroma recheado de notas inunda o ambiente já no abrir da garrafa. Pode se identificar traços de caramelo, chocolate, café, malte tostado e defumado, rapadura e mel, além de frutas secas, passas e, por óbvio, o amadeirado alcoólico proveniente dos barris. Tudo isso costurado com um gostoso aroma floral do lúpulo (Cascade?). Na boca, ela mostra que não é uma cerveja para paladares não treinados. De altíssima personalidade, ela é licorosa, grossa e aveludada, com baixa carbonatação, doce no início, mas amarga no final, lembrando whisky e conhaque. O álcool agora aparece com maior intensidade, esquentando a boca. Seu final é amargo e doce ao mesmo tempo, duradouro e alcoólico. Pela potência das suas características, é uma cerveja com baixa drinkability, mas isso não faz com que sua degustação não seja uma experiência inesquescível. Uma cerveja que diferencia os homens dos meninos.
Escura com pouco creme. A carbonatação se destaca.No sabor uma riqueza impressionante. Mel, frutas secas, caramelo, muita madeira, leve amargor se equilibrando com um doce frutado de ameixa e damasco. Uma cerveja incrível. Uma cerveja que vai deixar saudade. Uma cerveja que se entrasse em linha de produção faria o Brasil dar uns bons passos no cenário cervejeiro mundial!
Liquido castanho escuro, turvo, insinua-se brevemente um anúncio de creme, carbonatação média. Aroma de toffee, malte. Na boca remete a cookies ao vinho do porto, ameixas passas, final com cereja que vai se dissipando para dar lugar a evidente madeira. Corpo médio, suave, levemente picante, final quente e seco. Complexa, equilibrada e convidativa.
meus companheiros já descreveram essa incrível cerveja da melhor forma possível. gostaria apenas de ressaltar a alegria em saber que já existem cerveejeiros geniais em nosso país, capazes de realizar uma cerveja inesquecível.
Acomodo-me na poltrona do teatro à espera da afinação da orquestra, que trina acordes desconexos. Faz-se o protocolo de entrada do maestro, aplausos, batidinhas de batuta a pedir atenção aos músicos. Silêncio. Vai começar a sinfonia.
Com suavidade, são as cordas que iniciam. No aroma, violinos… Notas vínicas assertivas, lembrando vinho do Porto. Frutas secas escuras, sobretudo uvas-passas. O tostado se faz presente, mas de forma lânguida, quase fugaz. As harpas trazem o acalento de se estar em uma cave de pedras. Um tênue mofo se faz sentir, lá no fundo, delicioso. De repente, eis que o piano chega à cena, portando consigo notas de maçãs, pêras, frutas vermelhas, tâmaras secas e delírio.
Um interlúdio e vamos às madeiras. As flautas, sempre doces, vêm ao paladar. Dulçores nobilíssimos misturam frutas passas, tostado, toffee. Clarinetes anunciam laranjas em compota. E alguém falou em tâmaras secas? No teatro imaginário onde estou, porto no bolso um saquinho contendo algumas. Peço licença ao vizinho de poltrona e tento a harmonização. Certeira! Como se a cerveja fosse feita da fruta.
Eis que a sinfonia se aproxima do final, e chegam os instrumentos de percussão. Tímpanos fazem aparecer mais laranjas, desta vez frescas. Bumbos chegam ao socorro, sempre afirmando os caracteres tostados e achocolatados. Címbalos de caramelos e ameixas. O regente comanda ás últimas notas, secas, inesquecíveis.
Saio do teatro já pensando na próxima sinfonia. Haverá?