Detalhe da Avaliação

Cerveja marcante, fabricada extrapolando a receita da Old Engine Oil e com um estágio em barris usados para maturar o uísque Highland Park 40 anos. Enquadra-se no estilo old ale pela longa maturação, mas a cervejaria cita ainda o conceito de imperial porter. Impressiona a harmonia com que as características terciárias advindas da passagem pelo barril (características de madeira, uísque e toques suaves de oxidação) se harmonizam bem com as características primárias (a torrefação e a doçura caramelada do malte e o lúpulo inglês) e secundárias (em especial os ésteres frutados) da cerveja, dando origem a uma potente complexidade, ainda que as características de uísque se mostrem mais intensas. O resultado é uma cerveja poderosa, com uma certa elegância viril, mas longe de tosca. A cor é preta, opaca, com aspecto viscoso e um creme marrom de pouco volume e persistência. As sensações advindas de sua maturação são marcantes desde o início da degustação, com notas intensas de madeira e uísque, um certo defumado de turfa (característico de alguns uísques), um forte caramelado que existe em alguns uísques, algo de couro e palha e, com o tempo, notas mais sutis de baunilha e de oxidação remetendo a vinho do Porto. Mas o malte também tem bastante presença, sobretudo na boca, trazendo chocolate amargo e avelãs bem marcantes, reforçando o forte caramelo e adicionando toques de licor de cacau e café mais suaves. Os ésteres frutados também são perceptíveis desde o início, com sensações de uvas passas, bananas maduras e uma sugestão de figos ramy, o que se junta às sensações do malte para gerar a deliciosa e vívida impressão de bolo inglês. Por fim, o lúpulo aromático é menos marcante, sobretudo na boca, mas é possível perceber as notas condimentadas típicas de varietais inglesas, lembrando pimenta. Enorme complexidade de aromas, com as características associadas a uísque na linha de frente. O paladar é bem marcante mas harmônico, acessível, o que faz desta uma cerveja intensa mas de fácil paladar, com doçura potente predominando sobre o amargor sólido de fundo e uma acidez bem suave, o que lhe aumenta a maciez. O longo final, adocicado, maltado e rico, deixa uma ótima sensação residual de chocolate amargo com nuances de bolo inglês, o que fecha com louvor o gole. O corpo é muito denso e marcante, com uma lânguida textura aveludada. Enfim, trata-se de uma cerveja harmônica, complexa e marcante, na qual as características de uísque talvez predominem de leve, mas sem ofuscar o malte e nem os aromas frutados, evitando que fique enjoativa. Isso, aliado a um paladar equilibrado e tendendo ao doce, torna-a uma cerveja fácil de apreciar e beber, que tem potencial para agradar muita gente - especialmente se a pessoa já gostar de uísque. A comparação com sua irmã Ola Dubh 18 é inevitável: ela se mostra consistente e bastante semelhante, mas talvez mais marcante nas características de uísque e no frutado, o que aumenta sua complexidade e sua delicadeza, mas também me pareceu menos intensa nas características de oxidação e guarda, talvez mais ofuscadas aqui pelo caráter mais marcante de uísque. Entre uma e outra, é mais uma questão de gosto do que de qualquer outra coisa: tenho a impressão de que gostei igualmente de ambas. Fica o aviso: quem espera que seja imensamente mais interessante que a 18 devido ao acréscimo no preço pode se decepcionar um pouco. Penso que, não fosse o preço quase proibitivo, uma degustação comparada da linha inteira seria muito interessante para ressaltar as características que diferenciam cada versão. Comparando de cabeça, e apenas com a 18, porém, foram justamente as semelhanças que me chamaram a atenção.