Qualquer apreciador do estilo Oatmeal Stout ficaria extasiado pela descrição comercial desta cerveja e ficaria ansioso em prová-la. Tudo que agrada no estilo seria potencializado a mil, evidenciando ainda mais as notas já benquistas mesmo em proporções menores e mais acordadas ao estilo. Como um fã de Stouts e suas derivações, a Chocarrubica foi a cerveja que mais chamou minha atenção das que vieram ao Brasil da família Grado Plato. Como resolvi bebê-la sozinho (me perdoem o egoísmo!), resolvi arriscar e fazer uma harmonização improvisada com o que tinha a mão e escolhi bombons de chocolate ao leite recheados com licor de cereja. Quando a abri, após o estourar da tampa flip-top, a expectativa foi frustrada pela escassa existência de espuma, se assemelhando a um refrigerante sem gás, com bolhas dispersas e efêmeras. É, não tinha nada de espuma, tanto que nem sei qual a tonalidade de sua cor. Já o líquido mostrou-se negro, opaco e de consistência densa, vertida no copo toda essa grossura era notória, não possuindo nenhum reflexo contra a luz. Totalmente negra. O aroma de chocolate ao leite era de uma felicidade tão intensa, que era como se estivéssemos dentro de uma chocolataria, tão vivo e forte, criando a ilusão fantástica de ter o próprio chocolate ao alcance da mão como se pudesse senti-lo ali perto de você. Sensação de sementes comestíveis também muito forte como amendoim, inclusive lembrando o doce de paçoca de amendoim, avelãs e nozes. Um fenólico parecido com baunilha era percebido, embora creia que ela não seja estocada em barricas de madeira. Com um forte maltado, presença de pão preto e uma base torrada sempre como base, o lúpulo não foi notado sem ter sua falta sentida, e um aroma gorduroso foi destacado. Com um corpo aveludado e sem nenhuma carbonatação, foi o amargor o seu primeiro destaque no sabor. Com esse início um pouco destoante e agressivo, o aliado em seguida é o chocolate que aparece com brutalidade, como puro cacau, derrubando, mas pondo de pé com um adocidado e leveza trufada. O golpe final foi o teor alcoólico muito forte, que nem é tão elevado, mas cria sensação incômoda de calor ao corpo. Seu fim mantém essa pegada alcoólica e a agressividade de cacau puro, forte, extra, e o aveludado completando toda a boca. A harmonização foi perfeita. Embora comendo um bombom relativamente simples, creio que ambos se completaram. O chocolate com cereja trouxe mais doce e a cerveja carregou mais no cacau (mais que o próprio chocolate), contribuindo com consistência e diminuindo o adocidado, quebrando-o com o amargor. Não teve um sobrepujando o outro, mas ambos se complementaram.
Essa foi a primeira da Grado Plato que degustei. Logo uma Stout, já que sou grande fã desse estilo como um todo.
Na aparência a cerveja surpreende logo de cara pois praticamente não há formação de creme/espuma. Resta somente fina película cremosa sobre o líquido, que desaparece após certo tempo. Acreditei inclusive que tivesse pego um exemplar comprometido, mas li que ela apresenta normalmente essa timidez inicial. Sua coloração é negra, típica do estilo, com cor de Coca-Cola, totalmente opaca. Não há efervescência. Mas seu aspecto é de ser uma densa Stout. Deixa alguns fracos pontinhos de lacing nas laterais.
No aroma, ela já se mostra diferenciada. Revela abundantes notas adocicadas, tostadas e condimentadas, remetendo a cacau, chocolate, pão preto/australiano, madeira, defumação, alcaçuz, baunílha, condimentos diversos, passas, ameixas, cerejas, castanhas/avelãs. Há um presente, porém coadjuvante, lúpulo herbal. Volatiza um pouquinho de álcool, conferindo característica suavemente vinosa ao buquê. Conjunto no geral, bastante agradável e límpido, sem off-flavors.
No paladar, ela mantém seus tons intensamente secos e tostados/defumados. Mas é uma cerveja ainda muito doce e saborosa, com suas notas achocolatadas, de castanhas e de frutas escuras. Falta lúpulo/amargor para contrabalancear. O gole é bastante saboroso, porém desequilibrado. Adstringência e acidez, no geral, bastante baixas, mas há uma muito sutil sensação láctica. Retrogosto seco, muito persistente, remetendo a café espresso, cappuccino, avelãs, baunílha e passas/cassis. Até pela aveia, o corpo passa de sedoso e chega a ser aveludado/viscoso. A carbonatação é mínima e praticamente inexiste, chegando até a deixar a cerveja com uma sensação choca e desanimada. O álcool é muito discreto e bem inserido, porém notável em certos momentos, devido a sua quentura. Boa drinkability, porém limitada, pois cansa o paladar pelo caráter muito intenso e desequilibrado e/ou pela ausência de crocância.
Essa Chocarrubica é uma excelente Stout de café e chocolate. Mesmo o caráter Oatmeal, relativo à aveia, acaba relegado a um plano secundário. É um rótulo que pende fortemente para doçura e para tons secos de grãos e cereais tostados e que peca na ausência de lúpulo e amargor suficientes para contrabalancear. É muito saborosa sim, e vale a pena degustar. Apenas deve-se levar em consideração esses pontos mais controversos. Recomendo com facilidade! Stout de qualidade!!!
Baixa carbonatação com coloração negra no aroma chocolate com torre café do malte.
No sabor torre café, chocolate, lúpulo bem herbal. Uma cerveja bem diferenciada pela carbonatação vale a pena apreciar.
A Chocarrubica é a cerveja da Grado Plato que mais me despertou interesse, desde que chegou ao Brasil. Já sou fã de Oatmeal Stout em geral e não poderia de deixar de provar uma com 30% de aveia na composição e ainda com adição de sementes de cacau venezuelanos e alfarroba, uma semente parecida com uma vagem, que cresce na região da Sicília.
Sua coloração é marrom bem escura e com alta turbidez. Seu creme é praticamente inexistente, provavelmente pela gordura contida no cacau.
O aroma é deliciosamente rico e traz boa combinação entre os maltes torrados e a adição dos elementos secundários. Já possível sentir uma pegada um pouco mas doce no aroma, lembrando muito mais chocolate ao leite e ovomaltine, do que o esperado chocolate amargo. A sensação doce combinada a esteres frutados e os maltes, trazem sensações de estar de cara com licores de diversas flavorizações, hora com frutas escuras (principalmente ameixa e cassis), hora com Amarula e as vezes até baunilha. De fundo, toques rústicos dão uma certa quebrada nos aromas delicadinhos, com potentes notas de tabaco e madeira, sem contar o álcool que já é levemente pronunciado.
Na boca continua bem agradável ,com aquela textura bem aveludada, graças a adição de aveia e que novamente traz uma gostosa combinação de chocolate e ameixas frescas. E na boca sim, vem os toques mais amargos do cacau, misturados a café verde e um fundo macio de baunilha. Seu corpo é médio, mas com uma textura extremamente cremosa e oleosa, e uma carbonatação praticamente zerada. O álcool acabou ficando como um dos pontos fracos da experiência, mesmo com os seus 7% relativamente modestos, aparecem de maneira agressiva.
Sinceramente, uma das melhores italianas que eu já provei, mostrando boa interação entre maltes, esteres e os insumos pouco comuns na cerveja, digamos assim. O ponto negativo vai para o preço, é claro, já que para tomar uma belezinha dessa no Brasil, tem que estar disposto a abrir bem o bolso.