Acho que essa discussão fica muito vazia sem sabermos a realidade tributária do Mercosul.

Alguns fatos facilmente verificáveis pela internet.

1. O Chile é um dos países com a legislação tributária mais simples do mundo. As empresas pagam somente 2 tributos.
2. O Chile tem um acordo comercial com a União Européia. Incluído nele fomento de vendas de Bebidas alcoólicas.

Além disso, o "custo Brasil" não é balela. Dados indicam que no Brasil há 29 funcionários dedicados à legislação tributária para cada bilhão de dólares gasto. No mundo inteiro essa relação é 1 funcionário/bilhão, isso em 2006.

Vocês já tiveram a curiosidade de saber como se importa bebida alcoólica no Brasil? Precisa de um representante registrado no SISCOMEX, autorização e registro no MAPA (para cada cerveja diferente) e a carga tributária é gigantesca. Incidem o II, IPI, PIS, COFINS e ICMS sobre o valor da mercadoria, seguro e frete e ainda são cascateados (um calculado sobre o outro e não sobre o valor original da mercadoria). A carga pode aumentar o valor inicial do produto em mais de 100% dependendo do ICMS do Estado onde a encomenda será comercializada.

Perguntem ao pessoal da Colorado quanto tempo eles estão esperando pelo registro da Black Rapadura. Além disso, dêem uma olhada na papelada necessária para fazer registro no SISCOMEX e no MAPA... não é para os fracos de coração.

E ainda há o "custo de oportunidade". Pessoa física, no Brasil, é proibida de importar bebida alcoólica e tabacaria via correios/transportadoras. Não há outra opção razoável. E isso é mais aparente ainda com as cervejas mais cultuadas. Afinal, se você não comprar Chimay Bleu pela importadora, vai comprar onde? Vai ter que viajar e trazer, no máximo, 24 garrafas.

Depois disso tudo, podem incluir os custos normais de uma empresa no Brasil e o lucro da importadora.

Comparar o comércio exterior do Brasil com o do Chile e da Argentina é a mesma coisa que comparar maçã com banana. Não tem nada a ver. E é o mesmo que querer comparar importações feitas pela multinacional Ambev com a Casa da Cerveja.

Os preços são escorchantes? Sim! Mas são inexplicáveis? Certamente não.

Dito tudo isso, fico mais preocupado com o valor das artesanais nacionais se aproximando de algumas importadas do mesmo tipo.

Bernardo, esse argumento é bem conhecido e explica algumas coisas, mas não todas. A carga tributária não explica, por exemplo, por que duas cervejas que custam a mesma coisa na Europa chegam aqui com discrepâncias de preço de 100%, 200% para o consumidor final. Todo mundo reclama dos impostos, mas nunca vi ninguém explicar exatamente quanto incide sobre cada garrafa. É esse tipo de transparência que estamos cobrando dos importadores, na real. Ou tem gente errando na matemática aí, ou tem uns colocando bem mais lucro que outros.

Bernardo Hops escreveu:

E ainda há o "custo de oportunidade".

Pois é, é disso que estamos falando mesmo. O chato é que, no meu entendimento, isso representa "custo" apenas para o consumidor final, porque para o importador é só "oportunidade" de ter uma margem de lucro maior.

Só fica a esperança de que a expansão do mercado e da demanda, a médio e longo prazo, atraia outros concorrentes que forcem o preço para baixo. Estamos vendo isso, em pequena escala, em algumas marcas trazidas por mais de um importador. Cervejas que já são vendidas a preços menores não atraem tanta concorrência, pois não representam investimentos com margens de lucro tão atraentes quanto as marcas supervalorizadas ou ainda indisponíveis no Brasil. Isso se não acabarmos tendo uma espécie de cartel estipulando "por cima" um preço bom para preservar a margem de todos. Afinal, não é novidade que a "mão invisível" do mercado não funciona tão bem quanto Adam Smith gostaria.

Marcussi, é lógico que tem pessoas que cobram caro na cerveja.

Eu simplesmente evito de pagar muito acima do preço. Deus a 300 reais? Vai demorar para eu comprar nesse preço hein!

Alexandre Marcussi escreveu:

A carga tributária não explica, por exemplo, por que duas cervejas que custam a mesma coisa na Europa chegam aqui com discrepâncias de preço de 100%, 200% para o consumidor final. Todo mundo reclama dos impostos, mas nunca vi ninguém explicar exatamente quanto incide sobre cada garrafa. É esse tipo de transparência que estamos cobrando dos importadores, na real. Ou tem gente errando na matemática aí, ou tem uns colocando bem mais lucro que outros.

A carga tributária pode ser simulada pelo site da Receita. Não tem nenhum mistério: www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/

A diferença entre cervejas de mesmo valor é lei de mercado. Algumas cervejas são mais demandadas que outras, mesmo possuindo valor igual. A St. Feuillien triple não deixa nada a dever se comparadas a outras mais famosas, mas é muito mais barata por ter mais oferta. Elas "encalham" devido à busca frenética por outras belgas e acabam acontecendo promoções.

Pois é, é disso que estamos falando mesmo. O chato é que, no meu entendimento, isso representa "custo" apenas para o consumidor final, porque para o importador é só "oportunidade" de ter uma margem de lucro maior.

Mas o custo de oportunidade é só do consumidor mesmo. Pagamos um "prêmio" sobre o lucro "normal".
Também aguardo o dia em que teremos uma concorrência mais forte por aqui, mas com a dificuldade de entrada no mercado, acho difícil. A esperança, para mim, é o aumento da participação das grandes cervejarias nesse mercado.