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“Chamar sonrisal alcoólico de ‘cerveja tipo pilsen’ é muita cara de pau!”

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sonrisalA opinião é de Marcelo Moss, fundador e ex-sócio da Cervejaria Baden Baden, e foi publicada no Caderno Paladar do jornal O Estado de S. Paulo na última sexta-feira, 8/7. Como sempre, o espaço para os comentários dos leitores do BREJAS é livre!

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O cervejeiro alemão Josef Groll recebeu dos checos a missão de criar uma cerveja para competir com as pale ales. Aprendeu a fazer maltes claros com os ingleses, mas aprimorou a técnica e criou um ainda mais pálido. Ajudado por um monge, contrabandeou uma cepa de fermento lager de Munique, que facilita a produção de cervejas mais cristalinas. A água local, pobre em carbonatos, cálcio e magnésio, ajudou. Assim como os lúpulos de Zatec (ou Saaz), produzidos na região.

Assim Groll criou uma cerveja de cor cobre, mais clara, cristalina e leve que as concorrentes inglesas, com proeminente sabor de malte, algo adocicada, bem balanceada, marcante e aromática. Claro que ele não imaginava estar criando um estilo. Mas o sucesso foi grande, e sua cerveja foi rapidamente copiada. Todas essas cópias sofreram alterações em razão das matérias-primas, das condições técnicas e dos paladares locais.

Só que, aí, você olha para aquela cerveja ordinária, cor de palha mal alimentada, quase sem cheiro, um simples sonrisal alcoólico que, para ser bebido, precisa ser servido em temperaturas glaciais e nas quais as cervejarias têm a cara de pau de colocar no rótulo “cerveja tipo pilsen” e se pergunta: onde foi que a coisa desandou?

A Alemanha e a República Checa mantiveram-se mais próximas às tradições originais. Na Alemanha, a Lei da Pureza da Baviera impediu o uso de matérias-primas pouco nobres. Na Checoslováquia do pós-guerra, o comunismo inviabilizou a modernização. No resto do mundo, o progresso continuou. Entramos na fase das economias de escala. Nas Américas, principalmente, as cervejarias maiores compraram as menores.

Na década de 1970 poucas cervejarias gigantes, norteadas por baixo custo e muita venda, já dominavam o mercado. Baixo custo significa uso de matéria-prima mais barata (arroz, milho, extratos de lúpulo, açúcar) e de tecnologia para produzir rápido, e não para extrair mais sabores e aromas. Pelo contrário. Para vender muito, cervejas saborosas são verdadeiras dores de cabeça. O importante não é fazer uma cerveja boa, mas uma que não seja ruim. Para cervejas produzidas em escala, vale a regra do segundo turno na política: o importante é ter um baixo índice de rejeição e atrelar o sabor percebido à verba de marketing.

Pilsen bebida na fonte

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Pilsen1

O delicioso texto que o leitor acompanha abaixo foi originalmente publicado ontem, 9/7, no Caderno Paladar do jornal O Estado de S. Paulo. É de autoria de Roberto Fonseca, o Bob, do ótimo Blog do BOB, e narra a viagem feita pelo jornalista à República Tcheca em busca das melhores cervejas Pilsens do mundo. Boa leitura!

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Ele é o estilo de cerveja mais consumido no mundo. Por aqui, é também o mais popular – ainda que, hoje, muitos o associem a uma cerveja de gosto duvidoso. E, por ironia do destino, apesar de ter nascido na República Checa, para rivalizar com as pales ales inglesas, foi criação do alemão Josef Groll, contratado pela cidade de Pilsen para produzir uma bebida diferente das cervejas castanho-escuras que existiam até então.

A primeira leva de cerveja pilsen chegou aos copos dos checos em novembro de 1842. Foi uma surpresa, principalmente ao ser servida em taças translúcidas de cristal da Boêmia: uma cerveja dourada, fermentada em baixas temperaturas, com aroma de malte e de lúpulo. Ganhou o nome de Plzenský Prazdroj, em alemão Pilsner Urquell, ou “pilsen da fonte original”. A marca, hoje controlada pelo grupo sul-africano SAB/Miller, ainda é sinônimo do estilo no mundo, embora tenha perdido parte de seu amargor.

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Aventura cervejeira na República Tcheca

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czechrepublic

Por Marcio Rossi, correspondente especial do BREJAS em Belo Horizonte (MG), e que acabou de retornar de viagem à Europa.

Não é justo. Quando se fala em cerveja de qualidade mundo afora, logo são referenciadas as escolas alemã, belga e inglesa; certo, são regiões irradiadoras de cultura cervejeira para todo o mundo. Qualquer outro lugar onde se queira produzir cerveja de alguma qualidade buscará inspiração no que foi inventado nelas. Nesse cenário, a importante contribuição da região tcheca da Bohemia ficou obscurecida. Essa injustiça merece reparação.

Os bávaros levam o crédito de pioneiros cerveja lager. Menos destaque mereceu o empreendedor tcheco František Ondrej Poupe cujas pesquisas e estudos contribuíram na criação da cerveja lager e permitiram aos tchecos surpreenderem o mundo, na metade do século 19, com uma inusitada cerveja dourada e clara cujo estilo receberia o nome da cidade bohemia onde surgira: Pilsner.

Foi desastroso para esse estilo seu uso equivocado mundo afora para nomear cervejas de qualidade duvidosa vendida em volumes oceânicos. Por vezes, mesmo o consumidor interessado em cervejas de qualidade direciona suas atenções para as escolas clássicas, destacadamente belga, inglesa e alemã ou mesmo a nova escola americana que bebe de todas as fontes. Enquanto cervejas belgas ultrapassam 250 rótulos cadastrados no site especializado BREJAS, a Alemanha e EUA vêm em seguida, algo na casa dos 140, Reino Unido com uma modesta centena. E a República Tcheca, como fica? Míseros 30 rótulos, a maioria com avaliações medianas.

Permito-me especular sobre dois motivos que estariam por trás desse desinteresse pela cerveja tcheca: uma idéia equivocada de que lagers claras sejam simples, destituídas de qualquer complexidade que as torne merecedoras de atenção gastronômica. Outra coisa é a viagem. E uma cerveja marcadamente leve se evidenciará com maior destaque qualquer defeito, além de ser mais vulnerável ao calor, à luz e ao tempo em uma viagem marítima trans-continental. Enfim, chegam aqui sem a qualidade que teriam se apreciadas jovens e perto de casa. Confirmei pessoalmente esse contraste.

Fiquei apenas dois dias na charmosa Praga. Tempo suficiente para voltar fascinado com a qualidade e diversidade da cerveja lager feita ali. Cheias de personalidade, complexas e deliciosamente saborosas, sejam as grande marcas ou rótulos artesanais. Somo-se a isso o charme de uma cidade milenar cuidadosamente conservada e teremos em Praga uma roteiro obrigatório para o apreciador da cerveja de qualidade. Um detalhe adicional: preços honestos, mesmo em bares e restaurantes. Claro, ao lado das principais atrações locais o preço salta, mas ainda assim, não assusta: de R$ 3.5 R$ 5 um chope de 500 ml. No supermercado encontra-se abaixo em torno de R$ 2 a garrafa.

Experimentei algo em torno de 20 rótulos, não tive uma decepção sequer (descontado um chope que veio quente…). Das consagradas Urquell e Gambrinus a outras locais como Klaster ou Lobkowicz, um festival de qualidade, lúpulos deliciosos e cervejas feitas com esmero. E bares cheios de charme abertos o dia inteiro. Aliás, esse é um programa fantástico: você planeja um ponto de partida e um destino, entre eles caminha e vai parando pelo caminho ao deparar-se com alguma coisa diferente. Foi assim que eu e o Zé Felipe da Wäls conhecemos um barzinho fantástico, o Jáma Steak House onde encontramos 6 bicas jorrando preciosidades locais fora do roteiro comercial enquanto íamos da fábrica da Staropramen (marca da Inbev que faz uma excelente pilsner) para o U Fleku, brewpub do século XV, imaginem. E ainda nos detivemos outras duas vezes, sempre que se apresentava um anúncio de cerveja diferente, o que nos levou ainda a experimentar a Bernard e a Zatec, esta última simplesmente maravilhosa enquanto a versão garrafa que chega ao Brasil vem comprometida pela oxidação resultante da viagem.

Belíssima cidade com excelente cerveja; incluam em seus roteiros cervejeiros essa aventura histórica pelas ruas de Praga, seus bares e cervejarias. Claro, havendo mais tempo, há outros roteiros merecedores de atenção na República Tcheca, eu já incluí na minha lista de desejos!



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