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Bares que Amamos: U PINKASU

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UPinkasu

Em Praga, na República Tcheca (Jungmannovo námestí 15/16)

É 1843. Um certo Jakub Pinkas ouve falar de um tipo novo de cerveja que começara a ser produzido na cidade de Pilsen, a noventa quilômetros de Praga, e que vinha fazendo enorme sucesso entre os habitantes de lá. Ele faz, então, um acordo com seu amigo comerciante Martin Salzmann, o qual lhe traz dois baldes da nova breja.

Mas por qual motivo essa nova cerveja era tão diferente das brejas produzidas até então? Era a nova cerveja do estilo Pilsen, que utilizava um então revolucionário método de fermentação (Lager, ou “baixa fermentação”), e que conferia ao líquido um novo caráter e, novidade das novidades, uma nova aparência translúcida e brilhante — as cervejas daquele tempo eram turvas. Pinkas, que era alfaiate, largou a antiga profissão e fundou o U Pinkasu apenas para vender a Pilsner Urquell, primeira cerveja do estilo fabricada no mundo.

Torneira sagrada

A primeira torneira a jorrar o precioso líquido na capital tcheca ainda está por lá, embora desativada (abaixo).

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A atmosfera mistura velhos frequentadores e alguns turistas desavisados da importância do lugar. Em dias mais quentes é uma epopeia conseguir lugar nas mesas estilo stammtisch do lado de fora, mas não se acanhe de sentar-se junto com outros clientes, já que a prática é costumeira na Europa. E ganhe amigos!

Além da razão histórica, também estive por lá atraído pelos rumores dando conta de que o lugar servia a Pilsner Urquell não filtrada. Ao perguntar ao garçom, porém, não contive um esgar de decepção ao ser informado que, pelo menos até onde ele sabia, ali jamais a breja tinha sido vendida dessa forma. Contudo, reclamar seria injusto. Minha viagem de redenção com o estilo Pilsen não estaria completa sem antes conhecer torneira tão sagrada.

Veja abaixo mais algumas imagens que fiz no U Pinkasu.

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Bares que Amamos: PIVOVARSKÝ DUM

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Pivodum1

Em Praga, Na República Tcheca (Jecna/Lípová 15, Praha 2)

A horda de turistas que hoje se acotovela no centro antigo de Praga perfazendo o manjado circuito praça-ponte-castelo não gosta de usar o excelente sistema de transporte público da capital tcheca. Excelente pra quem, como eu, adora chafurdar em recônditos “lados B” urbanos.

A cervejaria Pivovarský dum é um desses “lados B” das capitais de sonho europeias. Já havia pesquisado que se tratava de um brewpub, um bar que fabrica sua própria breja. E foi pra lá que me dirigi numa tarde preguiçosa de final de março, driblando uma ventania que fazia com que os 7 graus no termômetro, de positivos, se parecessem negativos.

Cerveja de urtiga

O que impressiona é a variedade e, sobretudo, a criatividade dos cervejeiros do lugar. Pedi um “carrossel” de degustação com oito “estilos” diferenciados.

O sampler-carrossel de degustação da Pivovarský dum

O sampler-carrossel de degustação da Pivovarský dum

A surpresa é inevitável. Ao lado de estilos como weizen ou lagers claras e escuras, há receitas curiosíssimas, como cervejas feitas com urtiga (sim, a erva que faz coçar!), cereja azeda, banana, café e blueberry, todas servidas na pressão. Em garrafa, o destaque é a Samp, refermentada com leveduras utilizadas para champagnes.

Fermentação em tanques abertos

Além das cervejas inusitadas, talvez o que mais impressione na Pivovarský dum seja a sua sala de fermentação com tanques abertos, protegida por uma vidraça, mas devassável aos olhos dos clientes. Ali, em pequenas cubas de aço inoxidável, é possível observar a mágica acontecendo: O mosto borbulhante se transformando em cerveja.

Sala de fermentação em tanques abertos

Sala de fermentação em tanques abertos

A Pivovarský dum é uma cervejaria relativamente nova, inaugurada em 1998, contrastando com bares pré-históricos de Praga, como o U Fleku, de 1499. Confira a seguir mais imagens do brewpub, seu ambiente e a beleza da cervejaria que, majestosamente, domina seu interior.

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Aventura cervejeira na República Tcheca

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czechrepublic

Por Marcio Rossi, correspondente especial do BREJAS em Belo Horizonte (MG), e que acabou de retornar de viagem à Europa.

Não é justo. Quando se fala em cerveja de qualidade mundo afora, logo são referenciadas as escolas alemã, belga e inglesa; certo, são regiões irradiadoras de cultura cervejeira para todo o mundo. Qualquer outro lugar onde se queira produzir cerveja de alguma qualidade buscará inspiração no que foi inventado nelas. Nesse cenário, a importante contribuição da região tcheca da Bohemia ficou obscurecida. Essa injustiça merece reparação.

Os bávaros levam o crédito de pioneiros cerveja lager. Menos destaque mereceu o empreendedor tcheco František Ondrej Poupe cujas pesquisas e estudos contribuíram na criação da cerveja lager e permitiram aos tchecos surpreenderem o mundo, na metade do século 19, com uma inusitada cerveja dourada e clara cujo estilo receberia o nome da cidade bohemia onde surgira: Pilsner.

Foi desastroso para esse estilo seu uso equivocado mundo afora para nomear cervejas de qualidade duvidosa vendida em volumes oceânicos. Por vezes, mesmo o consumidor interessado em cervejas de qualidade direciona suas atenções para as escolas clássicas, destacadamente belga, inglesa e alemã ou mesmo a nova escola americana que bebe de todas as fontes. Enquanto cervejas belgas ultrapassam 250 rótulos cadastrados no site especializado BREJAS, a Alemanha e EUA vêm em seguida, algo na casa dos 140, Reino Unido com uma modesta centena. E a República Tcheca, como fica? Míseros 30 rótulos, a maioria com avaliações medianas.

Permito-me especular sobre dois motivos que estariam por trás desse desinteresse pela cerveja tcheca: uma idéia equivocada de que lagers claras sejam simples, destituídas de qualquer complexidade que as torne merecedoras de atenção gastronômica. Outra coisa é a viagem. E uma cerveja marcadamente leve se evidenciará com maior destaque qualquer defeito, além de ser mais vulnerável ao calor, à luz e ao tempo em uma viagem marítima trans-continental. Enfim, chegam aqui sem a qualidade que teriam se apreciadas jovens e perto de casa. Confirmei pessoalmente esse contraste.

Fiquei apenas dois dias na charmosa Praga. Tempo suficiente para voltar fascinado com a qualidade e diversidade da cerveja lager feita ali. Cheias de personalidade, complexas e deliciosamente saborosas, sejam as grande marcas ou rótulos artesanais. Somo-se a isso o charme de uma cidade milenar cuidadosamente conservada e teremos em Praga uma roteiro obrigatório para o apreciador da cerveja de qualidade. Um detalhe adicional: preços honestos, mesmo em bares e restaurantes. Claro, ao lado das principais atrações locais o preço salta, mas ainda assim, não assusta: de R$ 3.5 R$ 5 um chope de 500 ml. No supermercado encontra-se abaixo em torno de R$ 2 a garrafa.

Experimentei algo em torno de 20 rótulos, não tive uma decepção sequer (descontado um chope que veio quente…). Das consagradas Urquell e Gambrinus a outras locais como Klaster ou Lobkowicz, um festival de qualidade, lúpulos deliciosos e cervejas feitas com esmero. E bares cheios de charme abertos o dia inteiro. Aliás, esse é um programa fantástico: você planeja um ponto de partida e um destino, entre eles caminha e vai parando pelo caminho ao deparar-se com alguma coisa diferente. Foi assim que eu e o Zé Felipe da Wäls conhecemos um barzinho fantástico, o Jáma Steak House onde encontramos 6 bicas jorrando preciosidades locais fora do roteiro comercial enquanto íamos da fábrica da Staropramen (marca da Inbev que faz uma excelente pilsner) para o U Fleku, brewpub do século XV, imaginem. E ainda nos detivemos outras duas vezes, sempre que se apresentava um anúncio de cerveja diferente, o que nos levou ainda a experimentar a Bernard e a Zatec, esta última simplesmente maravilhosa enquanto a versão garrafa que chega ao Brasil vem comprometida pela oxidação resultante da viagem.

Belíssima cidade com excelente cerveja; incluam em seus roteiros cervejeiros essa aventura histórica pelas ruas de Praga, seus bares e cervejarias. Claro, havendo mais tempo, há outros roteiros merecedores de atenção na República Tcheca, eu já incluí na minha lista de desejos!



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