Instalada na pequena cidade belga de Rochefort, região da Valônia, a "Abadia de Notre-Dame de Saint-Rémy" surgiu por volta do ano 1230, quando Gilles de Walcourt fundou ali um monastério de freiras. No decorrer dos séculos as freiras deram lugar aos monges e a abadia sofreu com guerras, pragas e invasões. Em 1797, época em que os atuais territórios belgas estavam sob domínio do exército revolucionário francês, a abadia foi fechada, vendida e eventualmente demolida, tornando-se por volta de 1805 uma fazenda . Somente cerca de oitenta anos mais tarde, graças a iniciativa de um padre vindo da "Abadia de Achel", é que o local foi recomprado e novos prédios foram erguidos.
Estima-se que cerveja tem sido feita na abadia desde 1595, mas só a partir de 1952 passou a ser comercializada. Pertencentes à "Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância" e hoje também conhecidos como "trapistas", os monges que a produzem vivem sob o princípio do "ora et labora" - isto é : oração e trabalho. Sua linha de cervejas abarca três rótulos distintos, respectivamente a Rochefort 6, Rochefort 8 e Rochefort 10, sendo a última a mais forte.
ANÁLISE SENSORIAL
Coloração marrom escura com discreta passagem de luz . A espuma bege, densa e consistente tem formação abundante e longa duração, deixando na taça marcas do 'belgian lace'. Alguns sedimentos acumulam-se no fundo da garrafa.
Levada ao nariz, chega a ser comovente constatar como o aroma de uma cerveja pode ser tão complexo. Traços de tostado, caramelo, toffee, nozes e menta intercalam-se meio a ésteres frutados ricos em nuances de ameixa em calda e tâmaras cristalizadas. Suave floral também pode ser sentido, bem como a marcante presença dos alcoóis superiores. Verdadeiro deleite.
Na boca se mostra devidamente encorpada, musculosa, de textura quase viscosa e ótima carbonatação. Sabores tostados, condimentados e açucarados dão conta de esconder o elevado teor alcoólico, tornando-a tão fácil de beber quanto a mais suave das 'lagers'. Notas de tâmaras, marrom-glacê, nozes, alcaçuz, mascavo e baunilha instigam o paladar. O final longo, doce e persistente aquece de leve a garganta, deixando um retrogosto de castanhas ligeiramente tostado e condimentado. Curiosamente, os lábios satisfeitos com tanta doçura acabam grudando um no outro, como se estivéssemos acabado de tomar um sorvete.
Quase surreal, o ato de degustá-la prova a excelência desta memorável trapista. Uma 'paulada' carinhosa que você precisa um dia experimentar, a ponto de desejar repetir sempre.
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Primeira avaliação feita em 03 de junho de 2012, comprada na Puro malte por R$ 25,40. As notas foram: