Orval

.

Boa cerveja, aromas cítricos com notas de limão e laranja. Alta carbonatação e duração. Na boca senti um gosto forte da carbonatação e um pouco do malte. Coloração laranja turva e creme duradouro com grandes bolhas. Valeu a pena a compra.

Cerveja de coloração ambar opaca. Creme beje claro, alta formação, média densidade e duração alta. Aroma avinagrado, com notas selvagens. Sabor azedo, condimentado, médio amargor e salgada. Final seco lembrando cidra. Corpo leve. Gostei da breja, bem diferente.

A cerveja orval foi feito pela primeira vez em 1931 e é uma cerveja ímpar. Ela é diferente pois após a primeira
fermentação convencional, feita em tanques abertos, passa pelo processo de dry hopping, que lhe confere o aroma fresco. Mas o grande diferencial é a re-fermentação na garrafa, feita pela levedura selvagem de origem belga, a Brettanomyces. Isto faz também com que a cerveja ganhe novas características ao longo do tempo de guarda.

Histórias contam que um cervejeiro alemão foi quem fez uso da levedura selvagem Brettanomyces pela primeira vez na fabricação da Orval, por engano. Apesar de controverso.

O nome Orval deriva de "Vale do Ouro" e a lenda diz que o monastério teria sido fundado por uma condessa viúva chamada Mathilda da Toscana, que deixou cair sua aliança em um riacho no local e pensou que o tinha perdido. Então, rezou e prometeu a Deus que construiria um mosteiro naquele lugar se encontrasse a sua aliança. Nesse momento uma truta pulou do riacho com a aliança na boca e a condessa cumpriu sua promessa, batizando o vale de "val d'or". A truta com a aliança na boca é o simbolo da cerveja Orval e esta caracterizada no rótulo e na tampa

A Orval é uma cerveja de alta fermentação do estilo Specialty-Beer, que caracteriza cervejas artesanais com algo que a torna especial, como por exemplo um tempero único. Pode incluir maltes e cereais pouco comuns, blend de cervejas, combinações de estilos, receitas turbinadas, enfim, algo que lhe confira distinção. A coloração é variável, podendo ser clara ou escura, e a formação da espuma poderá ser influenciada pelo adjunto/processo dito especial; o aroma é harmonioso, mas a ideia do estilo é de que sobressaia, de que seja saliente ou ao menos perceptível o que torna a cerveja especial; o sabor via de regra segue o aroma e repete tais percepções, podendo proporcionar um corpo de leve a pesado.

No caso da Orval o que a torna ‘especial’ (para fins de estilo) é o fato de que a segunda fermentação durante a produção tenha a participação de leveduras do tipo bretanomyces (responsável pelas notas selvagens, como acidez, couro etc), bem como por haver a utilização do método dry hopping durante a maturação, o que acentua o amargor no aroma (a pesquisa que fiz dá conta de que são usadas as variedades de lúpulo Hallertau, Styrian Goldings e Strisselspalt). Por fim, nova adição de leveduras e açúcar candi proporcionará a re-fermentação na garrafa. Em resumo, o conjunto da obra mescla características de Ale e de lambic, com uma pegada lupulada bem ao gosto americano.

É produzida pela cervejaria Orval, instalada na cidade belga de Villers-devant-Orval no interior da Abadia de mesmo nome. O Mosteiro tem raízes no ano de 1070, com a chegada de monges italianos; a história que se segue alterna períodos de bonança, miséria, destruições e reconstruções. A produção comercial se iniciou em 1931, com a finalidade de arrecadar fundos para restaurar as ruínas, e atualmente chegou próximo do limite com cerca de 70.000 hectolitros produzidos em 2012. Contudo, os monges não tem planos de aumentar a capacidade instalada e preferem manter o foco na qualidade ancestral. No portfólio há apenas mais um rótulo – ‘Petit Orval’ (ABV 4,5%), destinada ao consumo dos monges, mas também são produzidos queijos no local.

A Ordem Trapista (oficialmente, Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância) foi fundada em 1662 pelo Mosteiro Nôtre-Dame de la Trappe (França), vindo a mesma a influenciar outros países europeus o que culminou no surgimento de novos mosteiros que seguiam as restritas regras desta ordem religiosa. Posteriormente, no ano de 1997, oito abadias trapistas - 6 da Bélgica (Orval, Chimay, Westvleteren, Rochefort, Westmalle e Achel), 1 da Holanda (Koningshoeven/La Trappe) e 1 da Alemanha (Mariawald) - fundaram a ITA (International Trappist Association) com o objetivo de estabelecer as regras do estilo e proteger o nome do uso abusivo por parte de outras marcas. Para isso, esta associação criou um selo que só pode ser utilizado pelos produtos que seguem os critérios estabelecidos e que sejam elaborados por monges trapistas, sejam esses produtos geléias, queijos, cervejas, vinhos etc. A abadia alemã de Mariawald não está produzindo cerveja (o logotipo da ATP é usado para outros produtos no mosteiro, por exemplo, o licor). Os monges, que repartem seu tempo entre oração, estudo e trabalho utilizam parte do que é arrecadado com a venda dos produtos na manutenção das Abadias e o restante dedicam à caridade. Outras abadias trapistas obtiveram o selo recentemente: - Holanda: Abdij Maria Toevlucht/cerveja Zundert; Áustria: Engelszell e EUA: St. Joseph’s Abbey/cerveja Spencer.

A garrafa, ‘gordinha’, é de 330ml, cor marrom, engarrafada em 22/11/2011 e com validade até 22/11/2016. A tampa traz o nome ‘Orval’, a expressão ‘Trappist Ale’ e o símbolo da cervejaria. Este, que também vem estampado no rótulo, traz a figura de um peixe com uma aliança na boca elevando-se acima da linha da água. Reza a lenda que uma senhora deixou cair sua aliança em uma fonte; entristecida, rezou e uma truta apareceu com a aliança na boca. Exultante, a dama exclamou que o local era um Val d’Or (vale de ouro em francês). Esse descuido saiu um pouco caro, pois a promessa feita era de ajudar/patrocinar a reconstrução da Abadia e Val d’Or virou Orval. Lenda ou não a fonte continua lá, preservada junto de parte das ruínas do antigo monastério que resistem ao tempo. No contra-rótulo menção aos ingredientes (em vários idiomas), graduação alcoólica ABV (6,2%), temperatura de serviço (12 – 14ºC).

Vertida na taça revelou uma coloração acobreada, turva, e com sedimentos no fundo da garrafa; a espuma de cor bege é de belíssima formação, se mostra muito densa e consistente e de longa persistência. Mostrou algumas rendas a escorrer pelas laterais da taça e uma fina tampa residual restou mantida sobre o líquido ao longo da degustação. Perlage (bolhas) frenética e perceptível.

O aroma desta cerveja se mostrou bastante agradável, ainda saliente apesar da guarda (quase 3 anos) e com boa complexidade. Apresentou notas maltadas com percepção de caramelo e pão, além de nozes, leveduras, cravo, couro cru e uvas verdes. O lúpulo velho de guerra já resta cansado, indicando que o auge era eminentemente herbal e picante. O álcool é discreto.

No paladar o líquido se apresenta acetinado e traz uma discreta base maltada que lembra caramelo e mel, mas que resta suplantada pelas notas selvagens de acidez (uvas verdes), couro cru, ‘cobertor de cavalo’, salgado etc. Também se percebe vagamente nozes, leveduras, cravo e lúpulo sutil com perfil picante. O final é seco e amargo, levemente adstringente, e o retrogosto é frutado, com leve acidez. O corpo é médio-baixo e a carbonatação é alta. O álcool de ABV 6,2% é perceptível, mas agradável. A palatabilidade (drinkability) é ótima!

As expectativas em torno desta trapista foram atendidas, sim Senhor! Por certo, tanto mais jovem mais extrema (mais amarga, seca e selvagem), mas o tempo de guarda ‘arredondou-a’ e eliminou os excessos, se é que existiam, e deixou a breja com bom equilíbrio.

Altamente recomendada!

Muito boa