Fundada em 1853 durante o império de Dom Pedro II pelo alemão Henrique Kremer, na cidade de Petrópolis (RJ), a "Cervejaria Bohemia" foi a primeira produtora de cerveja tipo 'Pilsen' em solo brasileiro. Vendida em 1960 para a "Companhia Antarctica Paulista", atualmente pertence ao grupo AMBEV.
Não é de hoje que a marca "Bohemia" arrisca lançar cervejas de estilos bem diferentes da tradicional "loira gelada". Quem acompanhou o mercado na década de 2000 deve se lembrar da "Royal Ale" (descontinuada), "Confraria", "Weiss"e "Escura". Mais recentemente houve ainda o lançamento da "Bohemia Imperial" e da (péssima) "Chocolatier".
Apesar dessa diversificação mostrar que há tempos a marca se arrisca no segmento de cervejas "Premium", nenhum desses produtos logrou se posicionar como verdadeiramente "craft" ou "artesanal". O primeiro passo nesse sentido se deu em 2014 com o anúncio da "Bohemia Reserva", uma 'Barleywine' envelhecida em madeira e de preço pouco acessível que arrebatou elogios da crítica especializada. Logo depois dela mais três novos rótulos seriam divulgados e lançados com grande estardalhaço durante o "Mondial de La Bière", ocorrido em novembro no Rio de janeiro: "Bela Rosa", "Caá-Yari" e "Jabutipa".
Finalmente em abril, as cervejas até então comercializadas apenas em forma de chope, chegaram aos mercados em versão engarrafada de 300 e 600 ml.
Tendo como mote a brasilidade, as cervejas incluem ingredientes nacionais como jabuticaba, erva-mate e pimenta rosa. As receitas foram desenvolvidas pela mestre-cervejeira da Bohemia, Daniela Dezordi, junto ao chef Felipe Bronze.
BOHEMIA JABUTIPA
Trata-se de uma 'India Pale Ale' com amargor de 55 IBU e aroma natural de jabuticaba. O design do rótulo carrega ilustração do goiano Sérgio Pompêo - um dos maiores nomes do país em "Arte Naïf". A imagem bem humorada brinca com a sonoridade da palavra "jabutipa" e apresenta - além de um pé de jabuticaba - a figura de um jabuti.
Líquido amarelo escuro cristalino. No copo forma 3 dedos de colarinho bege de média densidade e razoável permanência.
O aroma entrega equilibrada percepção de malte caramelizado/levemente tostado e lúpulo. Predominante toque herbáceo funde-se a suave traço de casca de jabuticapa, empurrando uma sutil citricidade via notas de laranja para o segundo plano. Agradável.
O sabor acompanha o aroma com suave dulçor de malte caramelizado, levemente tostado, contrapondo-se a um amargor firme, mesmo que moderado. Notas herbáceas e discreta sugestão de doce de laranja desfilam meio o corpo médio de elevada carbonatação. Ligeira sensação de casca de jabuticaba precipita-se no final junto aos demais elementos, culminando num retrogosto amigavelmente amargo e adstringente. A 'drinkability' é excelente.
Como resultado temos uma 'IPA' bastaste honesta, de inspiração inglesa, onde a parcimônia conta mais do que a explosão. O toque da jabuticaba, apesar de mínimo, consegue dar ao rótulo uma personalidade própria. Nada mal para um produto de cervejaria de distribuição voltada às massas.
Ainda que muitos aficionados torçam o nariz, o fato é que a "Jabutipa" tem tudo para se consolidar como uma bela opção de IPA para o dia-a-dia graças ao seu excelente custo-benefício. Em tempos de crise e aumento de impostos, o consumidor agradece.