DUM Petroleum

Custei a achar, na minha cidade, mas custei a esperar um dia com o clima mais fresco para degustar a breja.
Inicialmente, antes de tomá-la, imaginei, pelo que li, que tomaria o lugar da wals como minha preferida. Antes de dizer se tomou ou não o lugar, vamos à descrição:

A aparência é negra e opaca, como pede o estilo, não passando luz nem nos halos quando colocada contra a iluminação. Pareceu mais viscosa e carbonatada que wals, com creme de boa formação, porém menos persistente.

Mais aromática que wals, os aromas de couro e chocolate são mais evidentes, assim como o lúpulo northern brewer, meio amadeirado. O café é menos aparente, quase imperceptível (só percebei, no aroma, depois do primeiro gole).

No sabor, as diferenças com a wals são maiores. Mais encorpada, se isso é possível, com mais sugestões de chocolate. Mais amarga, o lúpulo aparece mais no retrogosto, e persiste mais. O álcool também é bem mais perceptível, ainda sim não mostrando os 12 por cento de volume.
Bem equilibrada, por ser uma cerveja extrema, embora o álcool da wals seja melhor inserido, assim como o amargor.

Embora não tenha tomado o lugar da wals, como minha breja preferida, conseguiu dividir o posto. A comparação entre o que ela tem de melhor que a wals (sabor mais pronunciado de chocolate e tabaco) com que ela perde, equilíbrio do álcool e do amargor, as diferenças na qualidade quase somem.
Espetacular, sobretudo para quem é fã do estilo russian imperial stout.

Mãe da Wals Petroleum. Preciso dizer mais? Não, mas farei de qualquer forma. Hehe.
Aroma forte de café, chocolate e frutas, resultado da fermentação. Espuma cremosa de média duração. Corpo lembrando mingau, pelo uso da aveia na receita. Sabor de café com chocolate e diversas frutas negras misturadas. Espetáculo!

Tentei várias Imperial Stouts, mas nenhuma me agradou, sendo todas elas bem parecidas. Acredito que Imperial Stout não seja meu estilo preferido e que a Petroleum é na verdade uma mescla de Imperial com Oatmeal (por causa da aveia, dando consistência de mingau). O sabor da Petroleum também é único.

DUM Petroleum

Coloração totalmente negra. Colarinho em boa quantidade, areado, cremoso, denso e cor de chocolate, com média persistência.

Aroma intenso de maltes torrados e chocolate que já foram percebidos durante a postura da breja no copo. Um toque de café no fundo.

Muito chocolate amargo no paladar. Maltes torrados acompanham as sensações. Extremamente encorpada e com longo final amargo no ponto certo. Incrível como os assustadores 12% ABV são quase imperceptíveis, se fazendo notar apenas no finalzinho do retrogosto.

Uma das melhores e mais intensas Russian Imperial Stouts que já provei. Impressionante mesmo.

Tracemos diferenças com a wals:
Menos formação de espuma. Cor parecida, opaca. Espuma nada duradoura. No nariz, o aroma lembra mais torrado e café do que a Wals. A wals, o chocolate aparece mais. Sinceramente? Ponto pra DUM, adorei o nariz, parece mais caseiro, mais equilibrado, o chocolate aparece sim, dando as caras apenas no retrogosto, para um bom apreciador de imperial stout, deve estar preparado para o torrado e o café que a DUM põe maestria. Na boca, o corpo é viscoso igual. entretanto, o álcool, destoa mais, de maneira positiva. O da Wals, o álcool destoa também, mas de maneira mais agradável que a Wals, a Wals, destoa menos, mas tira levemente, bem levemente mesmo o conjunto. Já a DUM, destoa bastante, mas se insere na base do torrado, aumento o aroma, a percepção e o café do mesmo. Na DUM, é mais percetível aromas e sabores mais singelos como coco queimado. O lúpulo, também pega mais, o IBU é maior e atinge a percepção. Realmente, o lúpulo figura sim. Ambas são ótimas cervejas. por Custo Benefício e preferência pessoal, sim, fico com a DUM.

A Dum Petroleum é do estilo Stout, sub-estilo Russian Imperial Stout, este caracterizador de cervejas de alta fermentação, geralmente com pouco gás e bastante álcool, forte sabor de chocolate, café e maltes torrados, coloração muito escura e grande complexidade tanto no aroma quanto no sabor, com frutado e amargor salientes. A história do estilo remonta ao século XVIII época em que a Corte Imperial da Rússia teria viajado a Londres e, tendo gostado das Stouts locais, encomendou barris daquela cerveja. Entretanto, a longa viagem através do mar Báltico terminava por estragar a cerveja. A solução foi desenvolver uma stout robusta e alcoólica o suficiente para suportar a viagem, preservando a cerveja e impedindo que ela congelasse. Esse tipo de stout foi batizada de Russian Imperial Stout, ou simplesmente Imperial Stout.

Autêntica "Bicho do Paraná", expressão cunhada pelo cantor e compositor João Lopes, é produzida pela DUM Cervejaria (nas instalações da Gaudenbier), em Curitiba/PR. A DUM nasceu caseira (panela) em 20 de julho de 2010 pelas mãos dos amigos Julio, Luiz e Murilo ocasião em que fizeram a primeira cerveja (chamada John Wayne - uma APA) e também a primeira brasagem desta lendária Petroleum (que em janeiro de 2012 passou a ser brassada na Cervejaria Wals de MG). De 2010 para cá vem realizando anualmente o 'DUM DAY', evento que comemora o aniversário da DUM e que reúne várias cervejarias ávidas por mostrar seus 'tesouros'. E por ocasião do 'DUM DAY III' (julho/2013) a cervejaria começou a produzir em escala comercial a JAN KUBIS e a PETROLEUM.

Os exemplares produzidos pela DUM e pela WALS tem diferenças apontadas pelo Murilo, numa degustação com Daniel Wolff (Mestre-cervejeiro.com): http://www.dumcervejaria.com.br/blog/2012/08/14/dum-petroleum-e-wals-petroleum-no-mestre-cervejeiro-com/. Mas os rótulos continuarão coexistindo, por força do contrato entre as duas cervejarias (bom para elas e ótimo para nós, os apreciadores).

Lote 01 - validade 17/07/2016. A garrafa é de 355 ml, cor marrom, tampa preta, e o criativo rótulo ostenta uma 'bomba cabeça de cavalo' (usada para extrair petróleo). Um olhar atento ainda perceberá as inscrições 'Petroleum' e 'cerveja forte escura'. No gargalo a 'gravata' traz o símbolo da DUM e no contra-rótulo há informações de IBU (96), copo snifter, temperatura de consumo (9 - 12ºC), menção à adição de cacau e aveia e destaque para a expressão 'Aqueles que tiverem paciência serão recompensados'.

Vertida na taça revelou um líquido de coloração negra, não translúcido, espuma de cor marrom de destacadas formação e consistência, com bolhas médias e de mediana manutenção. Ao girá-la na taça as paredes laterais do vidro ficam tomadas pelo líquido viscoso mais ou menos como bolinhas de sagú escorrendo. Maravilha! Perlage (bolhas) praticamente imperceptível e há deposição de sedimentos no fundo da garrafa.

Degustada sem ir à refrigeração (18ºC) o aroma desta cerveja é bastante intenso, agradável e complexo. Descortinou notas extremamente salientes de maltes torrados, chocolate amargo, café, cacau, baunilha, frutas secas (cortesia do fermento), álcool e lúpulo pronunciado.

No paladar o líquido se revela muito viscoso, cremoso e denso, por certo em razão da adição de aveia que também atenua o sabor vincado da torrefação. De caráter complexo, equilibrado e marcante ostenta uma entrada bem adocicada e pode-se perceber intensas notas de maltes torrados, cuja quantidade não deve ter sido economizada na receita. Além disso há muito café, chocolate amargo, frutas secas, álcool e uma elevada lupulagem (IBU 96) que acaba disfarçada pelo malte torrado e também pelo açúcar residual da fermentação. A maturação com cacau belga deixou a breja uma jóia! O final se mostra seco e amargo, seja pela carga de lúpulos cítricos seja pela torrefação dos maltes. Retrogosto agridoce, alcóolico e persistente. A carbonatação é baixa e o corpo é alto. O álcool de 12% ABV é muito bem inserido, mas quase passa desapercebido (diria que é a cereja do bolo deste conjunto altamente equilibrado). A drinkability é excepcional!

Degustação prazerosa, fruto de uma cerveja forte, equilibrada, muito complexa e gratamente bruta. Tenho mais três exemplares para experimentar após certo tempo de guarda. Não é a toa que muitos tem a RIS como seu estilo predileto e esta brasileiríssima, fruto da Capital das cervejas artesanais, é uma ótima representante do estilo!

Imperdível!!!