Lost in Translation IPA Brett

"Mas o que é que temos aqui!"

Foi o que eu pensei imediatamente após servir esta cerveja.

O aroma é impressionante, forte, sendo principalmente florado mas também com traços herbais e cítricos. É literalmente um buquê, uma mistura de aromas e perfumes.
Líquido de coloração amarelo opaco e apresentando certa turbidez. Formou uma espuma exuberante, farta e de longa duração.
O sabor não podia ser diferente. Complexo, adocicado e com notas de malte e frutas aparecendo em primeiro plano.

Esta é sem dúvida uma cerveja 'diferente'. Vale a pena provar.

Cerveja colaborativa da dinamarquesa Evil Twin com a brasileira Tupiniquim (marca própria da importadora oficial da Evil Twin no Brasil). Trata-se de um estilo no qual a Evil Twin se notabilizou: uma IPA totalmente fermentada com leveduras do gênero Brettanomyces, as mesmas que estão presentes em lambics e sour ales em geral. No copo, mostrou um amarelo claro e vivo, bem turvo, com bom creme. No aroma, é muito interessante o jogo de interações entre os lúpulos e as Bretta, entre frescor e rusticidade. Ela começa com um ataque bem herbal e floral, lembrando verbena e rosas, e em seguida se começa a sentir um quê defumado que suponho advir das Brettanomyces. O interessante é que não é aquele defumado amadeirado de maltes defumados, mas um defumado que lembra também borracha queimada, muito peculiar e difícil de descrever. Com o tempo, aparecem frutas como manga assada, mamão e uvas verdes. Há um fundo animal, lembrando couro de sapateiro. Não espere a exuberância de aromas animais de uma lambic, porque as Brettanomyces não produzem esses aromas em abundância na fermentação primária. Aqui, o charme está na interação do frescor lupulado com um leve toque de exotismo e rusticidade. Na boca ela é bem seca, com amargor predominante e final limpo e refrescante, bem-executado. O amargor não agride e nem fica a dever. Há uma certa acidez e um toque salgado que lhe dão personalidade. O corpo é leve, mas ao mesmo tempo aveludado. Álcool imperceptível. No conjunto, uma ótima IPA (fresca, aroma vívido e persistente e amargor limpo, o que já a diferencia da maior parte das brasileiras do estilo) com um delicioso toque de exotismo. Demorei a provar devido ao preço alto, mas tenho de dar o braço a torcer: esta é uma cerveja bem-feita e que realmente traz algo a mais.

Consolidada no mercado nacional, a importadora "Beer Legends" é uma velha conhecida dos apreciadores de boas cervejas, trazendo para ambiente brasileiro alguns dos melhores rótulos disponíveis lá fora. Após anos de experiência no segmento, soou muito natural o anúncio de que passariam também a produzir sua própria linha de cervejas. Foi assim que no segundo semestre de 2013 nascia a "Tupiniquim", uma microcervejaria sediada na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, cuja brasilidade se expressa tanto no nome quanto no logo que traz uma arara azul como símbolo.

Os passos iniciais da nova cervejaria não poderiam ser mais largos. Logo de cara apresentou-se vasto portfólio recheado de lançamentos dentre os quais destacam-se os rótulos colaborativos com as cervejarias ciganas "Evil Twin" (Dinamarca), "Omnipollo" (Suécia) e "Stillwater" (Estados Unidos). Com um início tão profícuo o reconhecimento veio rápido: no concurso South Beer Cup de 2014, realizado em Belo Horizonte (MG), foi eleita a "Cervejaria do Ano".

A "Lost in Translation IPA Brett" é fruto da colaboração com a cervejaria "cigana" de origem dinamarquesa "Evil Twin". Diferenciado, o rótulo propõe uma "India Pale Ale" de 40 IBU's fermentada com as leveduras selvagens do gênero 'Brettanomyces - muito famosas pela fermentação superatenuada das idiossincráticas 'Lambics' belgas.

Conforme reza a tradição artesanal, ela não é pasteurizada e nem filtrada - fato que se se observa devido ao vasto acúmulo de partículas no fundo da garrafa.

Líquido turvo de coloração amarela pálida. No copo forma elevada camada de creme branco feito de bolhas grandes e pequenas que se mantém estável por alguns minutos.

Extremamente aromática, traz uma combinação matadora entre malte, lúpulo e ésteres frutados. Munida de uma profusão de referências, chama a atenção pelas vívidas notas de abacaxi seguidas por nuances de torta de limão, maracujá, raspas de laranja, coquinho jerivá e erva-doce - simplesmente incrível! Saturada por tantas camadas olfativas, praticamente não se percebe o caráter selvagem das leveduras; mas isso não é demérito frente a tantas outras qualidades.

De corpo médio e carbonatação fervilhante, traz ao palato reminiscências de pêssego, abacaxi, maracujá, erva-doce e manga. O sabor levemente adocicado do malte antagoniza com o assertivo amargor do lúpulo, ensejando um final amargo com toques frutados, suave condimentação e ligeira adstringência. Toda a "salada de frutas" anteriormente citada marca presença também no retrogosto - muito persistente e um pouco resinoso. A 'drinkability' é média/alta dependendo da familiaridade do degustador com cervejas lupuladas.

Belíssima cerveja, mas que pode decepcionar quem esperava por uma performance marcante dos 'brettanomyces' e suas típicas notas de couro e estábulo. Dito isso, resta apenas curtir todo o aroma e sabor que ela tem a oferecer a todo e qualquer bom apreciador. Invista.

Amarela, turva, com espuma alta e persistente. Aroma bem herbado e cítrico (lembrou muito capim, erva cidreira). Sabor traz muito lúpulo, com notas bem cítricas e um pouco de doce de malte. Bom para fãs de lúpulo.

Coloração dourada, com creme de média/alta formação e alta duração.

Aroma herbáceo, frutado e levemente floral, lembrando maracujá, abacaxi e grama.

O sabor segue o aroma. Nota-se também um leve cítrico, deixando lembranças de maracujá no retrogosto.

Possui carbonatação alta, corpo e drinkability média/alta.