As cervejas que nunca serão

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dadodcs

Por Mauricio Beltramelli *

No filme Tropa de Elite, o brucutu Capitão Nascimento, coordenando o treinamento de admissão de recrutas no Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, é pródigo em repetir a frase que virou o bordão “nunca serão”. Ele se referia, no filme, às pretensões dos novos candidatos a ingressar no pelotão, exortando-os a abandonar o treinamento. Nunca serão!

Pois os luminares barnabés do eficiente Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), talvez na falta do que fazer de mais últil, especializaram-se em dizer nunca serão a várias cervejas artesanais que poderiam estar nesse momento servindo aos paladares dos brasileiros. São eles, infelizmente, que aprovam a comercialização de novas cervejas no território nacional, após examinar suas fórmulas e seus rótulos.

Pra esses tão diligentes servidores públicos, cerveja é só aquela que está na propaganda da TV, aquela standard de gosto padronizado e fórmulas idem. Aquela “cerveja-arroz” da qual falei noutro artigo. Aquela que os torcedores de rótulos cultuam, cujo vencimento não pode jamais passar de seis meses da data de fabricação. Aquela, enfim. E as que não se enquadram nesse perfil? Nunca serão!

A lindíssima garrafa cujas fotos ilustram esse artigo é um exemplo recente. Trata-se da inovadora DaDo Bier Double Chocolate Stout, edição comemorativa da cervejaria DaDo Bier, de Porto Alegre (RS), elaborada em mais uma feliz parceria com os homebrewers cariocas Ricardo Rosa e Mauro Nogueira após suados três anos de trabalho. A seleção de insumos é soberba, e a breja é coroada com o toque magistral do chocolate Kopenhagen 70% cacau.

Chocolate não!

Feitas as apresentações da cerveja aos funças do MAPA, sabe qual foi a resposta? Nunca serão! Eles fizeram valer a norma vigente — e asna, e inexplicável — que preconiza que uma cerveja nacional não pode sofrer adição de componentes de origem animal. No caso, os “hômis” encanaram com o leite em pó contido no chocolate. De acordo com Eduardo Bier, proprietário da cervejaria, a saída foi fazer um lote limitadíssimo de apenas 100 exemplares, os quais estão sendo presenteados apenas a amigos — esse escriba é um desses sortudos.

Acontece que, vejam só, há outras cervejas com “componentes animais” na receita sendo normalmente importadas e comercializadas em território nacional — e aqui me absterei de mencionar seus nomes evitando despertar umdadodcs2 insuspeito “excesso de diligência” dos funcionários ministeriais. Apenas para situar o leitor, o crivo do MAPA para as brejas importadas — estudo de fórmula, rótulo, etc. — vale tanto quanto para as produções nacionais. E, pelo menos até o momento, não se tem notícia de que quaisquer dessas brejas já aprovadas tenha levado algum degustador aos leitos hospitalares. Embora contenham os “perigosamente mortais” componentes animais, sequer um desarranjo intestinal foi relatato por quem se aventurou a degustá-las — incluindo este escriba.

E qual seria a obscura razão imposta pelo MAPA segundo a qual as cervejas gringas com ingredientes “animais” passam na fiscalização, sendo que as artesanais nacionais não são aquinhoadas com a mesma sorte? Importada pode, nacional não? Imagina-se o coro de agentes do órgão, perfilados, a bradar: Nunca serão!!!

O calvário em Votorantim

Já para Alexandre Bazzo, cervejeiro da Bamberg, de Votorantim (SP), o caminho não é menos pedregoso. Em julho do ano passado, a microcervejaria realizou o I Concurso Paulista de Cerveja Caseira em parceria com a ACervA Paulista (associação de cervejeiros caseiros do estado), a fim de escolher a breja no estilo Extra Special Bitter (ESB) que integrará seu portfólio. Escolhida a breja vencedora, Bazzo submeteu fórmula e rótulo à apreciação dos digníssimos burocratas do MAPA. Preciso mesmo dizer a resposta?

Desta feita, os sapientes conhecedores de cervejas disseram nunca serão ao “estranho” rótulo da breja do homebrewer Guilherme de Santi por desconhecerem o termo ESB. Pois bem, a mensagem está passada. Cerveja “tipo pilsen” pode — embora as “tipo pilsen” que se conhece do mercado sejam tudo, menos Pilsen –, mas Extra Special Bitter (ESB) não pode. A mentira pode, a verdade não. Bazzo já submeteu um novo rótulo para a breja com o termo “Pale Ale” no lugar de ESB aos fiscais, já que a mentira, desde que seja conhecida, é bem-vinda. Quem sabe assim, na base do auto-embuste, a nova cerveja, enfim, será?

Essa é a cultura cervejeira dos illuminati do MAPA. De que adianta tentarmos criar um mercado sólido deste lado do Equador, fomentando cervejarias brasileiras ousadas e criativas, se os fiscais responsáveis por aprovar as bem-vindas criações dos cervejeiros só sabem rezar a cantilena do Capitão Nascimento? Quantas mais brejas maravilhosas seremos obrigados a não ter, em função de uma estúpida recusa dos burocratas em simplesmente informarem-se minimamente sobre estilos de cerveja?

O que você disse, estilos de cerveja? Não é tipo pilsen? Nunca serão!

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MauricioBeltramelliPost

 

 

* Mauricio Beltramelli, editor do BREJAS, é Mestre em Estilos de Cerveja pelo Siebel Institute (EUA) e Sommelier de Cervejas pela Doemens Akademie (Alemanha).

38 Respostas para “As cervejas que nunca serão”


  • isso é realmente muito triste. Muito, muito triste.

  • 2 Cláudio Bedran

    Diante do “excesso de cuidado” do MAPA, infelizmente fica a dúvida: despreparo ou alguma “razão misteriosa”?

  • Caro Mauricio, como vc sabe eu sou funcionário, mas de outro ministério…sinto vergonha quando vejos esses casos e, infelizmente, não são raros.
    Trata-se de preguiça dos funcionários, de estudar a norma e adaptá-la à realidade. Não estão fazendo o trabalho que benefie a sociedade brasileira, moto da existência da burocracia estatal.
    Acho que a melhor solução seria pedir uma liminar na justiça federal, pois ao estado não cabe inibir a iniciativa privada, a não ser quando manifestadamente tratar-se de atividade ilegal, o que está longe das atividades dos cervejeiros.
    Você não poderia capitanear tal ação? Temos técnicos em alimentos em Campinas que poderiam dar a argumentação técnica para embasar a ação.
    abs

  • Interessante a materia Maurício, mas sabe o que vejo nisso tudo, os interesses escusos e sombrios desses órgãos,por que do tratamente diferenciado quanto as nacionais, que parecem tão boas quanto as importadas. Se for para protegor algum mercado que seja o nosso, não é !!!! A pergunta que nem quer calar , quem anda importando as cervejas atualemente, aquelas que mais encontramos no mercado !!!! E se não se tocarem os fiscalizadores, cabe então ao nossos produtores tentarem alcançar esse suposto grau de qualidade na produção, ai sim nem terá como eles barrarem nada do nosso querido Braisil varonil.

  • Aí Mau! Seu artigo foi reproduzido no Portal do Luís Nassif…
    http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-boicote-as-cervejas-artesanais

    Muita gente da política lê aquele portal. Aguarde comentários dos mais variados tipos.

    abs

  • LIMINAR JA!!!!!!!!!!!

  • putz, tava louco pra tomar essa breja!
    que absurdo! ESB, um estilo dos mais clássicos! não estamos nem falando de uma lambic, biere de garde, doppelstick e etc…

    pale ale nao está tão errado quanto as pilsen. afinal o ESB está junto com o English Pale Ale no BJCP, nao?

  • Trata-se apenas de um simples motivo. O Grande cartel das megacervejarias multinacionais em nAo querer abrir qualquer porta deste mercado. Bom, somos brasileiros infelizmente sabemos o que acontece sempre quando algo envolve grandes interesses políticos ou econômicos.

  • Dinheiro! Simplesmente dinheiro. Sem ele, “nunca serão”!

  • 10 Vicente de Paulo

    O “Império da Ignorância Pública” continua mais ativo do que nunca na Capital Federal, com representantes nos mais diversos Ministérios e órgãos governamentais. Agora chegam ao descalabro de “censurar” cerveja artesanal! Nada mudou neste País, somente os focos…

  • Gostei muito do artigo Maurício,gostaria mais ainda que esta DadoBier Double Chocolate Stout estivesse a venda,desta forma minha coleção estaria contemplada com mais uma bela e exótica garrafa!Em relação ao nosso falho e burocrático governo infelizmente nos dias atuais estamos a mercê dessa legião leiga e incapaz que o rege,mas a mudança virá um dia!

  • Deve ter algumas sombras MACRO por trás disso tudo…

  • Tenho mais de 8 lançamentos meu esperando aprovação no orgão, todas cervejas que iriam somar pra cultura cervejeira, muitas delas estilos inéditos no Brasil, mas vamos ao lado pratico, imaginem quantos litros eu iria estar vendendo a mais do que vendo hoje com estes lançamentos, pagaria mais impostos, teria que contratar mais pessoas, o turismo local aumentaria, pois mais gente gostaria de conhecer onde produz estas cervejas, o nome do Brasil seria mais falado no exterior, pois poderiamos ganhar mais premios internacionais, isso foi só o que lembrei agora, mas pra quem pinga na conta todo mes o $$ do governo, pra que trabalhar?

    Esta é a aventura de ser empresário no país das maravilhas, nunca antes na história deste país tivemos tantos rótulos de cervejas artesanais esperando aprovação.

  • Beltra,
    parabéns por agitar o segmento cervejeiro. Mais uma vez consegues expor um texto polêmico.

    Na minha opinião não podemos radicalizar. Eu sou funcionário da prefeitura de Porto Alegre e, mesmo trabalhando no Planejamento Urbano, como Arquiteto eu não concordo com o Plano Diretor da cidade. Veja que quando existem leis, o problema está na cúpula, em quem as legisla e não em quem, apenas, as executa. Portanto, o problema está nos interesses escusos defendidos por nossos parlamentares.

    Sobre a questão de “componente de origem animal”, a primeira cerveja que me veio à mente foi a Colorado Appia, com adição de mel. Ou seja, com tudo que descreveste no teu texto, vemos que estão se perdendo nas próprias regras…

    Grande abraço!

  • 15 Cassio Bertelli

    E a indústria macrocervejeira dá as caras novamente na política.

    Quem deve ter redigido estas pseudo normas técnicas para criação de cervejas deve ter sido um funcionário da Ambev “bem” orientado.

    Eu não sei dizer o que estou sentindo neste momento…

    Será raiva?

    Será decepção?

    Será tristeza?

    Será revolta?

    Ou será tudo isso junto?

  • Bom dia!
    O ministério não é só ignorante quanto o assunto é cerveja. No caso de nosso espírito oficial, também passamos mals bocados. Creio que para este tipo de conflito o termo ” Se não conhece, chame quem conheça” cai muito bem! Afinal não temos que saber de tudo, mas temos bons exemplos de mestres cervejeiros e somelliers de cerveja para ajudarem a contribuir para a elaboração de referencias para se identificar um bom rotulo, e mesmo o ministério pagando altos salários, não abaixam a cabeça para pedem ajuda!
    Então ao menos estudem um pouco para saber melhor sobre o assunto e não cometerem “gafe” tão ridícula!
    Abraços e drinks

  • Conduta abominável destes ignorantes que não passam de “pau mandado” das grandes cervejarias (se é que podemos chamar o liquido que produzem aos montes como cerveja).

    Eu acredito sim que um movimento contra as cervejarias e não diretamente contra o ministério sejam uma forma de chamar a atenção de todos para esta infame idéia de “nunca será” que você citou.

  • Maurício, este é um caso seríssimo.
    Estou divulgando sua matéria no Blog (duzbier.blogspot.com).
    Precisamos divulgar cada vez mais a pouca vergonha que está rolando.

    Saudações

  • Triste. Revoltante. Burro. Quem consegue entender um orgão que trabalha com dois pesos e duas medidas? ESB importada pode, ESB nacional não. Chocolate na importada pode, na nacional não. Licor de chocolate pode, cerveja com chocolate não.

    Ingrediente de origem animlal? P.q.p.!! Não estamos falando de asa de morcego ou perna de sapo, é leite!!!!

    Não existe critério, não existe coerência, não existe vontade. Deprimente.

    Merecem uma medalha nossos pioneiros que lutam quotidianamente contra contra essa máquina de apetite voraz, movimentos lentos e atitudes burras.

  • Mais um Absurdo da Legislação Brasileira.
    Sou profundo apreciador de cervejas artesanais e fico muito triste de ver essa burrocracia para lançar um produto de excelência. Para lançar Cervejas de péssima qualidade (sem citar nomes) as empresas (já absurdamente ricas) ganham incentivos do governo, enquanto para lançar uma novidade tenha de enfrentar, além dos impostos absurdos desse país ainda uma burrocracia dessas. Tudo isso para a saúde do consumidor??? ou por trás dos panos, como já é comum, tem alguma grande companhia com medo de perder um pouquinho do seu mercado??? Lembrando que o maior conglomerado de cervejarias do mundo pertence a mesma marca que Monopoliza o mercado Brasileiro.
    BASTA.
    Liminar Já.

  • Tem um link da própria ouvidoria do MAPA, eu deixei uma crítica, provavelmente não faça o menor efeito, mas quem sabe se formos cobrando (nosso papel básico pelos nossos direitos, pelo menos) eles nos respondam. Pode ser total falta de tempo, mas enfim, pra quem vive nessa merda de burocracia….

    para criticar, sugerir:

    http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/fale-com-o-ministerio/ouvidoria/fale-com-o-ouvidor

    para acompanhar:

    http://mapa.ctis.com.br/sdmouvidoria/sdmcr/modulos/cidadao/acompanhamento.asp

    []´s

  • O interessante é deve estar proibida a comercialização, já que distribuir pode!
    Então vamos falar para o Eduardo para colocar em nossa lojas para distribuição gratuita, e pediremos aos consumidores uma “esmola” para cobertura de custos.

    Marcos
    http://www.atocadovice.com.br
    51 3338-0028

  • Não tenho nada contra as cervejas de milho e arroz quebrado, quem gosta de porcaria pode continuar bebendo, mas quero ter o direito de degustar verdadeiras cervejas, inclusive caseiras e artesanais brasileiras. Cabe uma pergunta, a quem interessa a “ignorância cervejeira” do MAPA ? Parabéns pelo artigo, pois precisamos unir forças e mudar a atual cultura cervejeira monopolista, denunciando casos semelhantes.

  • “Solicito a revisão dos critérios para a liberação de novos rótulos de cervejas. Como descrito no artigo divulgado no blog do Luiz Nassif, a lentidão e falta de critérios claros e compatíveis com a cultura cervejeira está travando a expansão do mercado de cervejas artesanais. Por favor MAPA , trabalhe a favor e não contra o mercado !”

    Deixei esta mensagem na ouvidoria do Ministério. Acho que todos os leitores deveriam fazer o mesmo.

  • Que texto excelente, parabéns!

  • DOM BREJAS: também recebi a espetacular iguaria cervejeira da DaDo Bier. Vale lembrar a liberdade poética de quem a batizou: o “double” é em relação ao chocolate, já que na formulação ela tem adição de malte chocolate + o 70% Kopenhagen, ou seja, dois chocolates. Fiquei desolado ao ver a nova derrota que o MAPA impões à cerveja de qualidade. Será que se eu – ou algum amante da cerveja – fizer um concurso pro Min. da Agricultura um dia chego ao MAPA?
    Abraços

  • Olha gente este é um assunto que já ultrapassou qualquer razoabilidade e é exasperante, digo isto porque também sou vítima e já é o caso de tentarmos fazer a crítica diretamente a presidencia da república, e mais, caso nada seja feito leva-la a orgãos protetores da livre competição da ONU , da OCDE etc, é grave assim.
    Vamos ter que expor nosso país a um vexame internacional porque o MAPA, sabe se lá porque razão escusa, é escandalosa e ostensivamente perseguidor da pequena industria cervejeira nacional, vivemos numa situação de evidente oligopólio com uma meia dúzia de grandes cervejarias dominando 99% do mercado e o andar debaixo com cem cervejarias desunidas que não tem advogados caros, lobby ou poder economico ,sendo massacradas ou vivendo muitas vezes obrigadas a ilegalidade por todo tipo de lei que não tem nada a ver com a defesa da equidade ou da cidadania.
    Para ser justo digo que só na patriótica Minas Gerais o MAPA ouve os pequenos cervejeiros, estou a quinze anos no mercado paulista e nunca alguem do MAPA do meu estado ou de Brasília se dignou a nos procurar para de maneira construtiva tentar entender melhor o que é esta atividade microcervejeira.
    Extrapolando, em conluio com o grande capital não só o MAPA como o Fisco tambem parecem planejar lenta e burocráticamente nos matar . Aderi com gosto ao Sicobe para provar de minha parte que os pequenos são sim honestos , pago meus draconianos impostos a duríssimas penas e me endividando.
    Sei que só de dizer estas verdades estou sujeito a ser fechado por alguma destas muitas Gestapos fiscais e burocráticas a serviço dos grandes e da covardia.
    Mas para mim chega, até um rato encurralado vira um leão, Sócrates o filósofo (Não o meu querido Magrão) dizia que preferia a morte a desonra, eu também.
    Por favor Presidente Dilma, por favor ministros Palocci e Rossi (que vem duma cidade de tradição cervejeira) nos ajudem a termos o direito de ter um pequeno negócio cervejeiro e brasileiro … e termos orgulho disto.

  • Gostaria de rápido esclarecer que o registro da Appia existe mas em situação precária, há um processo correndo no Mapa onde a Colorado aliada ao Cobracem tenta justificar o uso do mel,está lá dentro a anos, não me surpreenderia se depois deste meu post caçassem o registro desta cerveja que é uma das minhas campeãs de venda, mas vai ter briga na justiça isso eu garanto.
    Em tempo, o mel ,assim como o chocolate é largamente usado em cervejas na Inglaterra , Estados Unidos e até nos nossos vizinhos Argentina e Chile.
    Agora outra pergunta que não para de berrar é -e o Isinglass largamente utilizado por cervejarias grandes e vínicolas como clarificante que é feito a partir da bexiga natatória de certos peixes – Porque isto pode ? Peixe não é animal?
    Tambem conheço um pouco de vinho, além de isinglass vinicolas de primeira linha utilizam albumina de ovo,gelatina animal, quitina extraida de insetos e crustaceos entre outros ingredientes de origem animal para clarificar sua bebida. Isto pode ? O Mapa pode atestar com exatidão que não existam vestigios destas substancias nestas bebidas, vão abrir alguma garrafa de Mouton Rothschild para comprovar ?
    Porque este dialogo de surdos com os pequenos cervejeiros brasileiros ?

  • Aproveitando a indignação que para mim é justa e para alguns burocratas um estorvo, vou narrar minha ultima passagem pelo MAPA. Tinha planos para descer para SP para saber noticias do processo da Vintage Black Rapadura, por telefone havia se me lembro bem 6 meses que não conseguia nenhuma informação consistente.
    Na noite anterior desgraçadamente comentei com um cliente o que ia fazer , este como a maioria dos Ribeirão Pretanos era muito simpático a cervejaria e me disse que conhecia o secretário do Mapa de SP e se comprometeu a ir comigo.O secretario foi cortez e educado como se deve ser, ligou para o departamento competente e pediu informações sobre o processo, mas algum minutos de conversa cordial e toca o telefone pedindo que eu descesse para falar no andar de baixo. Fui recebido por um funcionario publico irado, quem era eu para reclamar com o secretário, fez questão de dizer que era concursado e que não conseguiria tomar seu emprego … como se eu quisesse algo assim.
    Dias depois apareceu um papel onde vetavam o nome Rapadura, alegaram que eu queria lesar o pais como fizeram os japoneses quando registraram o nome cupuaçu , nós de uma micro cervejaria de vinte e poucos funcionarios intentavamos tirar vantagem da poderosa industria açucareira brasileira e dos pobres cortadores de cana do Nordeste. Porque existem produtos chamados Fanta Uva, laranja etc não foi explicado, para que explicar algo a um cidadão comum que tem um documento preso a meses?
    Bom , tirei o Rapadura do nome e ficou Vintage Black e mais meses se passaram, foi quando o Alexandre da Bamberg me disse que já havia tentado o mesmo nome Vintage e foi rechaçado porque poderia induzir o consumidor a confundir vinho com cerveja…o argumento de que existiam no mercado ao menos duas cervejas estrangeiras com Vintage no nome não impressionou a ninguem.
    Concluindo, para chegar ao fim desta odisséia resolvi chamar cerveja de Ithaca na certeza de que este tipo de burocrata nem sabe quem foi Ulisses e é mais cego do que Homero, o nome foi aprovado em tempo recorde e se livraram momentaneamente deste cidadão chato .
    Desde então não piso mais lá , tenho medo de ser mal interpretado ,tenho um processo novo lá ,o da Double Indica ,sabe-se lá quando será liberado.
    Talvez se todos nós microcervejeiros do pais tentassemos ao mesmo tempo por via judicial registrar nossos produtos mudasse alguma coisa.
    O Mapa é isso aí, para mim é uma entidade do mal, só em Minas consegui numa palestra uma interlocução inteligente, não admira que de lá tenham saído as primeiras idéias dum Brasil independente.
    Mas Maurição existe outro problema mais grave que se chama a indiferença generalizada do fisco Federal e Estadual em relação ao pequeno produtor cervejeiro , desta tenho certeza muitos pequenos cervejeiros tem muito a falar, é um estado de coisas altamente injusto gente, se não existe associação que nos traga resultados palpáveis vamos usar a internet, ela elegeu o Obama, está constantemente desvelando outras tiranias piores que as que sofremos.
    Se quisermos poderemos, o Jorge Luis Borges , meu escritor preferido uma vez disse “Só há uma coisa da qual ninguem jamais se arrepende, e esta coisa é haver sido valente”.
    Os ingleses por sua vez afirmam “The pen is mightier than the sword” podemos nós mesmo pequenos pensar que o teclado é mais poderoso que o tacápe , chega de sermos retratados nos corredores de Brasília por concorrentes engravatados como imbecis ou sonegadores.Vamos mostrar as pessoas de bem que existe uma coisa chamada cultura cervejeira ,que somos cidadãos inteligentes, que o dinheiro só não tem idéias ,enfim que não merecemos este estado de coisas.
    Por favor amigos cervejeiros indignem-se, contem suas mazelas, tweeten ,retweeten, blogueiem, publiquem , a luz do sol é o melhor desinfetante.

  • 30 André Junqueira

    Obrigado pelo desabafo Marcelo!

    Temos que nos unir para acabar com o oligopólio das pseudo-pilsens acabando com o empreendedorismo!

    VIVA LA REVOLUCIÓN!!!!

  • Caros,

    Ainda bem que existe pessoas como o Marcelo no mundo cervejeiro, comecei o ano desanimado com os fatos que andaram acontecendo, mas o Marcelo faz com que nos animenos pra continuar a lutar pela cultura cervejeira do Brasil, Marcelão, parabéns pela coragem.

    Abraço.

  • Pessoal, muito me entristeceu saber destas barbaridades e dessa forma inconstitucional de agir de servidores públicos. Aproveitando a ideia do Fabio também deixei explícita minha consternação no site do MAPA, a qual reescrevo para vocês:
    “Boa tarde Senhores responsáveis.
    Venho por este manifestar minha grande decepção com este órgão da Administração Direta do Governo Federal com relação a seus atos infundados no mundo cervejeiro artesanal.
    Este, que é um filão em ascensão no Brasil, merece por demais apoio. Não há como entender esta atitude de vetar a utilização de produtos animais na feitura de cerveja, bem como não é cabível de entendimento suas negativas a nomes utilizados em rótulos de cervejas artesanais.
    Ora, em primeiro lugar um funcionário público atua pelo bem do Estado, ou seja, em última instância, pelo bem do povo que perfaz este Estado Soberano. E, para isso, deve se arcar de todo o conhecimento possível sobre aquilo que está em análise para poder BEM ATUAR, de forma clara, concisa e fundamentada. Se assim não o faz, não estará cumprindo suas responsabilidades conforme prevê a nossa Constituição Federal, não estará sendo, consoante o artigo 37 desta Carta, eficiente.
    Neste imbróglio pergunto: por que houve tantas negativas às solicitações de novas cervejas no mercado cervejeiro artesanal? Não há respostas, pois as próprias negativas foram desfundamentadas.
    E pergunto: por que há cervejas importadas com origem animal aceitas? E rótulos que, incorretamente, denominam cervejas de grandes indústrias como Pilsen, sem o serem?
    O que este órgão está fomentando é perdermos mercado a empresas estrangeiras, bem como eliminando a livre concorrência.
    Assim, percebo que os digníssimos representantes deste Ministério que tem atuado nos casos de nossas brilhantes indústrias artesanais de cervejas tem deixado a desejar, e muito, em sua responsabilidade social, como servidor PÚBLICO deste país, bem como cidadão.
    Espero um retorno, com palavras positivas, de que haverá melhor apreciação de pedidos e melhor busca de conhecimento para uma justa apreciação dos mesmos.
    Atenciosamente,
    Fabiane Britto”

    Ainda bem que muitos defendem poder realmente APRECIAR cervejas de qualidade.

    Fabiane Brito

  • Alguma razão misteambevriosa?

  • barbaridade, que absurdo…

  • Pois é, porque que é assim?, não poderia ser diferente?, imagina a situação ideal, o ministério da agricultura mandando brindes de fim de ano com cartas motivadoras e agradecimentos dos gestores estaduais aos grandes heróis pequenos cervejeiros artesanais, é incrível a falta de cooperação dos que mais deveriam apoiar os pequenos empreendedores, meu Deus, o que esta acontecendo?, sou um pequeno, na verdade minúsculo empreendedor deste ramo, faço diversas cervejas especiais, fui obrigado a abrir empresa e desde então só sofrimento, alvarás, normas absurdas que me fazem pensar que ou se começa do tamanho da ambev ou fazer cerveja será torturante, crescer uma utopia, sabe o que me resta?, implorar para o ministério usar do bom senso e me apoiar no lugar de me censurar, como sei que não consegurei esta senssibilidade, já me vejo indo à justiça implorar para funcionar, imaginem isso, implorar para gerar empregos, pagar impostos etc, que país é este?, desculpem por estar tão fatalista, é que estou na faze da desilusão, do pessimismo, amo cervejas especiais, comecei um pequenino negócio que mal começou, já esta ameaçado por todos os lados, e o inimigo é forte, cruel e invencível se não nos unir-mos. Eu não sei que futuro teremos amigos da cerveja especial, hoje sou um semi marginal por sonhar em ter uma micro cervejaria, fui inocente e idiota em ter tido este sonho um dia, mas vou continuar tentando até estar a beira de me endividar, até este ponto tentarei mas se não conseguir, farei o funeral dos sonhos da minha humilde cervejaria, faremos luto e convidarei os amigos para este lamentavel e terível velório, onde o homicida (MAPA) não será punido, que país é este?

  • 36 Mateus Zeferino

    Esses malditos burocratas, além de encherem o bolso com dinheiro público, empecilham a prosperidade de pessoas batalhadoras e talentosas. Mas o Estado só serve pra isso mesmo, atrapalhar! Sem tantos ministérios e burocratas analfabetos ocupando cabides, seríamos um povo muito mais feliz e próspero!

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