Que cerveja sensacional. Bonita, aromática, saborosa, complexa, fina, elegante.
No copo ela praticamente não gera espuma quando é derramada, apenas uma fina e tímida camada na beirada do copo que some rapidamente. O aroma é sentido a certa distância do copo, e confunde no início. Madeira, adega, vinho tinto, biscoito torrado, nozes, frutas escuras (ameixa, uva passa). Tudo aparece de forma somada, cada qual a seu tempo, em perfeita harmonia. O sabor é igualmente complexo, precisou de muitos goles para ser identificado. O doce predomina, mas sem agressividade. Ameixas, vinho tinto, madeira, biscoito, queimado. Muito encorpada, licorosa, baixa carbonatação, alto teor alcoólico, que aparece no sabor misturado aos outros. Apesar das características, drinkability boa, tamanha a satisfação.
Realmente, uma cerveja na qual "acertaram a mão", coisa de alto nível e qualidade.
Que cerveja fantastica! Muito boa e forte alem de ser complexa e ter uma coloracao especial (avermelhada escura) e espuma quase nula. A cor me lembra um suco de goiaba mais escuro com corpo licoroso. Aroma complexo de Porto, biscoito, lupulo, frutas, adega e alcool. No sabor: Porto, malte, doce, torrefacao (que da um toque especial) e frutas secas. Apesar do alto teor alcoolico e' muito bem equilibrada e tem um bom drinkability. Me lembrou uma Thomas Hardys menos complexa. Pena que, ate onde eu sei, ela nao sera mais fabricada, a exemplo tambem da Thomas Hardys. As opcoes de Barley Wine estao sumindo! Que pena!
Mais uma Maravilha que o Paulão, proprietario do Emporio Alto dos Pinheiros conseguiu para o encontro das confrarias campinenra e paulista que aconteceu em seu bar no dia 05/06. Cria dos mestres cervejeiros: ALexandra Bamberg, Leonardo Botto, Edu Passareli e Andre Clemente. Uma Barley winne maturada em barrril de carvalho, no rotulo fala 100 dias, mas devido as dificuldades para o registo acredito que tenha ficado um pouquinho mais.
A cerveja apresenta um liquido marrom avermelhado, com uma camada de espuma branca bem formada de media persistencia e media carbonatação. O aroma eh uma explosão de notas mas nada em desequilibrio: notas adocicadas de Uvas passas, figo em calda, ameixa seca, toques mais amargos de torrefação, caramelo, café, e um toque salgadinho lembrando uma casatanha de caju. No sabor as notas se repentem, sendo as doces mais na ligua e ao iniciar o gole e as amargas mais no fundo da garganta, com um final bem balanceado entre o doce e o amargo. Cervje bem encorpada, licorosa e alcoolica. Os efeitos do alcoollogo se manifestaram nesse humilde apreciador de cervejas.
Sem duvida uma criação merecedora do nº1 em seu rotulo.
Uma obra de arte da lavra da Biertruppe. Uma cerveja que honra a tradicional complexidade das cervejas fortes inglesas, produzida aqui no interior de São Paulo, com uma intensidade, complexidade e harmonia capazes de botar muito lorde britânico para correr. A apresentação começa com o rótulo muito bem feito imitando um quadro negro, que transmite a sensação de um produto elaborado e acompanhado com carinho, esmero e capricho em todas as etapas e passos necessários para acumular suas prodigiosas virtudes. O líquido mostra uma cor marrom avermelhada, sisuda, mas que revela belos reflexos de cor rubi e alaranjada nas bordas. Despejada na taça, ela forma uma espuma delicada, breve e fugaz, quase onírica, que logo deixa uma fina espiral de névoa sobre o líquido. Sente-se confortavelmente, relaxe e aprecie-a como quem conversa com um velho amigo ao pé do fogo. Sua complexidade é arrebatadora, e sua evolução na taça é acentuada, como se ela nos contasse uma longa história cheia de idas e vindas. O conjunto é orquestrado por uma combinação ao mesmo tempo lânguida, densa e rústica de caramelo, algo lembrando couro molhado e um amadeirado levemente tostado e vinificado dos barris de vinho e brandy pelos quais passou em seu caminho até o copo. Mas, como ocorre com todo bom prosador, sua história tem nuances de lugares outros: as leveduras conferem-lhe presença marcante de frutas passas (ameixas, uvas passas e até algo de tâmaras secas), um toque picante de fenóis lembrando pimenta do reino, um quê de vinho do porto, talvez um toque de maçãs vermelhas. Com o tempo, o picante vai ficando mais evidente, e vão surgindo também notas marcantes de mel ou xarope e uma presença frutada mais doce, remetendo a goiabada. Poderia parece que tanto peso tornaria essa história cansativa, mas o lúpulo aromático aparece com um certo frescor de segundo plano, lembrando tangerina ou marmelada inglesa de laranja, como uma melodia de fundo que vai se insinuando quase despercebida sob um tema musical dominante. Sua história termina com um final mais tostado e seco, remetendo a madeira queimada e carvão, mas de uma forma gentil, sem desconforto. O que é mais impressionante é a forma como esses elementos interagem de uma maneira harmônica, sem que um deles se sobrepuje aos demais ou apareça de forma excessiva, como aqueles repentistas ou jazzistas capazes de desenvolver um mesmo tema de formas sempre diferentes e surpreendentes.
Seu paladar é intenso e tem um equilíbrio exato entre a doçura licorosa e o amargor, com toques salgados consideráveis e uma baixa acidez. A evolução é consistente: a entrada é impactante, fortemente doce e licorosa (mas com uma certa rusticidade salgada), com um doce-amargo de fundo e um final que começa adocicado e licoroso com notas de ameixas secas, caramelo e xarope, mas um segundo depois se transmuta em algo mais amargo, seco e torrado, com os sabores de madeira queimada e carvão. Ao final, sobra um residual longuíssimo, como uma lembrança vívida, de tangerina. Ela é encorpada e tem uma textura licorosa acentuada pela baixa carbonatação. Apesar de ser uma cerveja potente, apresenta uma drinkability razoável devido a seu equilíbrio e à sensação alcoólica acolhedora e suave. Uma cerveja absolutamente extraordinária, e extraordinariamente exata e rigorosa, que não escorrega em seus próprios excessos e, por isso, proporciona uma experiência ao mesmo tempo memorável e harmônica. O peso dos maltes é muito bem contrabalanceado e complementado pelos toques de rusticidade da maturação lembrando couro (que quebram o doce mas reforçam a densidade do malte), pelo amadeirado vinificado e tostado do descanso em barricas de carvalho e pelo sutil frescor de fundo do lúpulo. Diferentemente de outras cervejas nacionais que apresentam a mesma denominação, esta segue o estilo rigorosamente; mas é daquelas cervejas que executam de forma tão virtuosa seu estilo que o transcendem. Difícil encontrar qualquer defeito nela. Para mim, ela é como uma história longa de viajante, séria, pesada, com mortes e traições, com lugares ermos, mas também com seus momentos de alegria e até de sentimento e lirismo. Aliás, uma deliciosa história que eu ouviria ser contada inúmeras vezes, sem me cansar devido à forma como suas peripécias são costuradas a seus temas centrais de mil maneiras diferentes a cada gole. Meus comovidos parabéns à Biertruppe e à Bamberg por esta obra-prima. Mal posso aguardar a próximas safras: queremos ouvir de novo essa história na versão nº2, nº3, ad eternum.