Liefmans Cuvée-Brut

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Lindamente embalada em papel vermelho e com garrafa dotada de rolha, a apresentação é apenas um prefácio da maestria que vem com sua imponente cor rubi escura e ainda assim cristalina, encimada por creme rosa de boa duração e densidade, sem aquela carbonatação intensa de suas semelhantes. O aroma é tomado pelas rajadas de cereja, que subjetivamente lembram também outras coisas, ora acerola por exemplo, ora maçã. Sente-se, também, um leve dulçor, dando indícios do que virá na boca. Pois bem que, ao saboreá-la, percebe-se de cara o dulçor, e logo em seguida sua vívida acidez. A cereja não é nem um pouco burocrática, mas tal qual no aroma, as combinações com dulçor e acidez dão sugestões de outras frutas, a própria acerola ou até morango. Há um certo amargor em plano de fundo, mas as notas principais da cerveja são outras. Seu corpo não é leve, mas sua carbonatação não é tão intensa como se imagina. Isso faz com que as sensações ácidas de cereja e das outras frutas se prolonguem pelo final, como se você estivesse literalmente mastigando as frutas. Já no retrogosto, o que sobrou foi mais o dulçor do que a acidez em si, e nessa hora a sensação me lembrou sorvete de morango. Sinceramente, não esperava que fosse tão boa, profunda e intensa.

Localizada na província belga de Flandres Oriental, foi no município de Oudenaarde que em 1679 Jacobus Liefmans fundou a "Brouwerij Liefmans". Famosa por suas tradicionais cervejas de estilos 'kriek' e 'oud bruin', ela passou a fazer parte do grupo "Duvel Moortgat" no ano de 2008.

Ao contrário do que se costuma pensar, a "Liefmans Cuvée-Brut" não é uma 'fruit-lambic". Sua preparação se inicia, de fato, com uma 'brown ale' feita especialmente para ser macerada com cerejas maduras em tanques rasos, na proporção de 13 kilos de fruta inteira para cada 1000 litros de cerveja. O líquido resultante desse processo é então 'blendado' com exemplares velhos e novos retirados de 15 a 20 lotes diferentes de outras duas cervejas da casa, a "Liefmans Oud Bruin" e a "Liefmans Goudenband". O resultado de toda essa mistura é então maturado por 18 meses, tempo em que os açúcares da fruta (bem como o das cervejas mais novas acrescentadas no processo de blendagem), iniciem nova fermentação. Finalizada esta etapa, está pronta a nossa cerveja!

Fato que chama muito a atenção logo que se vê a garrafa é o belo papel vermelho que a envolve por inteiro - verdadeiro capricho. Por baixo dele está a garrafa rolhada de vidro escuro com rótulo branco de letras negras.

Líquido turvo de coloração marrom arroxeada. Na taça apropriada, forma espuma bege de bolhas pequenas com média formação e boa duração.

No aroma, traços da cereja fundem-se harmoniosamente às notas acéticas da fermentação, fazendo lembrar um pouco vinagre e vinho tinto. Ésteres frutados irrompem em segundo plano através de nuances de damasco seco, uva-passa e carambola. Ligeira sensação de torta assada indica tímida presença de malte ao fundo.

Ao primeiro gole revela corpo médio, munido de agradável sensação frisante salpicando a língua. Moderado dulçor de caramelo e gosto de cereja seguem pontuados por assertiva acidez, culminando num sabor notoriamente agridoce com ecos de xerez. O final aquece a garganta e segue marcado por esse balanço entre doce e azedo, gerando salivação. Suaves aspectos vínicos e de madeira velha permeiam o retrogosto.

De modo geral o conjunto se assemelha bastante ao perfil de uma 'fruit-lambic'. Talvez a acidez, aqui um pouco mais amena, seja a mais notável diferença entre as duas. Muito boa.

-Aparência: Espuma alta e de boa (e inesperada) persistência. Líquido rubi amarronzado, um pouco turvo.

-Aroma: Frutado, com notas intensas de cereja, e azedo/ácido, com notas láticas e acéticas, balanceando bem o dulçor da cereja.

-Sabor: Frutado, com bastante cereja dando um bom dulçor, notas láticas e acéticas e levíssima presença de caramelo e madeira, que aparece mais no final do gole. Final longo, seco, amadeirado e bem equilibrado.

-Na Boca: Corpo leve e alta carbonatação.

Temperatura de degustação: Oito graus Celsius.
Cor: Vermelha amarronzada, levemente translúcida.
Creme: Média formação de creme bege, que mantém uma fina camada perene, deixando marcas na taça.
Aroma: O aroma sugere um frutado ácido com barril de carvalho, muito semelhante à um bom vinho.
Sabor: De nenhum amargor, menos adocicada que a Liefmans Fruitesse e mais ácida, porém mostra a sua doçura agridoce avinagrada que estimula a salivação no final do gole. Muito boa!