Branca de Brett

Da panela de casa para o sucesso no meio especializado - assim se resume a trajetória da cervejaria "Serra de Três Pontas".

Centralizada em São Paulo, capital, ela começou em 2012 por iniciativa do jovem Bruno Moreno de Brito, quem na época tinha acabado de concluir um curso de 'homebrewing'. Neste mesmo ano, Bruno firmou parceria com Leonardo Satt - 'homebrewer' mais experiente da também caseira "Prima Satt" - para juntos darem vida à primeira versão da "Cafuza", uma 'Imperial India Black Ale' que logo de cara arrancaria elogios dos afortunados que tiveram a oportunidade de prová-la. Mais tarde, reforçada pela presença de Luciano Silva (também 'homebrewer' da cervejaria caseira "Noturna"), a "Serra de Três Pontas" estava então pronta para alçar voos mais altos.

Assim, em 2014 nasceu a "Cervejas Sazonais" - empresa que produz e distribui seguindo o modelo de "contract brewing", no qual aluga-se a capacidade ociosa de uma fábrica de cerveja para que ali se produza receitas autorais. Desse modo, Prima Satt, Serra de Três Pontas e Noturna têm lançado rótulos fixos e sazonais que ora levam a marca de um, ora levam a marca de outro.

BRANCA DE BRETT

Lançada em abril de 2015, a "Branca de Brett" é uma cerveja sazonal, do estilo 'American Wheat', feita com lúpulos "Citra", "Mosaic" e amargor de 40 IBU. Para a fermentação utilizou-se apenas a levedura 'Brettanomyces Trois' - conhecida por conferir à cerveja um perfil selvagem e também metabolizar uma alta gama de açúcares presentes no mosto. Em referência a esta "voracidade" da levedura bem como à cor clara da cerveja, o rótulo traz a imagem de uma Branca de Neve em estilo zumbi.

Produzido na fábrica da cervejaria "Tupiniquim, em Porto Alegre (RS), o rótulo não é pasteurizado e tem distribuição em cadeia fria.

BRETTANOMYCES OU SACCHAROMYCES?

A título de curiosidade, vale falar um pouco sobre a recente polêmica que envolveu a levedura "Brettanomyces Trois" - espécie comercializada e patenteada pela empresa norte-americana "White Labs".

De maneira resumida, o que ocorreu é que algumas pessoas começaram a desconfiar que a cepa de "Brettanomyces Trois" era, na verdade, uma espécie de "Saccharomyces". Para tirar da cisma, a própria empresa resolveu submeter as amostras a testes mais aprofundados e assim acabou descobrindo que, de fato, o que se pensava que era "Brettanomyces" era mesmo "Saccharomyces". O resultado fez com que, há poucos dias, a empresa mudasse o nome da cepa para "WLP644 Saccharomyces "bruxellensis" Trois". Entretanto, até onde pude me informar, apesar de ser uma cepa do gênero "Saccharomyces", sua forma de atuação se aproxima mais a de um "Brettanomyces".

Líquido amarelo palha, um pouco enevoado. Na taça apresenta exuberante formação de colarinho branco, consistente e muito resistente.

Forte presença de lúpulos cítricos/frutados, junto à influência da levedura, proporcionam um aroma rico em nuances de lima, limão, lichia, abacaxi, atemoia e abiu. Notas de própolis, leve floral e sutil acidez coroam este verdadeiro espetáculo tropical. É de cair o queixo!

Na boca o show continua com uma explosão de sabores tropicais alicerçados pelo suculento dulçor do malte em face do elegante amargor do lúpulo. Mais uma vez, as sugestões cítricas/frutadas ganham destaque remetendo principalmente à lima, limão, lichia, abacaxi e manga verde. Reminiscências de própolis pontuam o final amargo, tropical e moderadamente resinoso com ligeira adstringência alcançando o retrogosto. O corpo médio-baixo de carbonatação fervilhante proporciona refrescância e facilita a 'drinkability'.


Mais uma breja de alto nível Serra de Três Pontas. Se tiver a oportunidade não deixe de provar.