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Os "cervochatos"

Respondido por . . no tópico Re:Os "cervochatos"

Pablo,

Antes da cerveja meu barato era vinho, cerveja era aquela bebida pra acompanhar um bate-papo numa mesa de bar com os amigos (e pra isso a Skol servia), não dava atenção a ela, pra acompanhar um jantar, pra "degustar" eu só ia de vinho.

Hoje reconheço que meu gosto mudou, continuo adorando vinho, é muito gostoso, mas conheci tanto "eno-mala" que o vinho vem se tornando pra mim uma bebida babaca. Com a breja é diferente, ainda não conheci um cervochato tão mala como muitos enochatos.

Ontem bebi um Tempranillo espanhol e depois, acompanhando uma pizza, um Bonarda argentino, continuo adorando os vinhos mas vejo neles hoje (ou nos bebedores dele) uma aura diferente, chata, diria até esnobe e arrogante (ou talvez pedante). A cerveja, por mais complexa e cara que seja ainda me passa uma imagem alegre, descontraída.
14 anos 7 meses atrás #1653

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Respondido por Alexandre Almeida Marcussi no tópico Re:Os

Fábio (Guima) escreveu:

continuo adorando os vinhos mas vejo neles hoje (ou nos bebedores dele) uma aura diferente, chata, diria até esnobe e arrogante (ou talvez pedante). A cerveja, por mais complexa e cara que seja ainda me passa uma imagem alegre, descontraída.

Bem legal, Guima, essa era uma bola que eu queria levantar aqui no fórum. Existe uma disparidade de "prestígio" entre as duas bebidas: o vinho é tido como uma bebida sofisticada, elegante e de elite; enquanto a cerveja é vista como uma bebida mais simplória e popular. Acho que há vantagens e desvantagens para o mundo cervejeiro nessa associação: em primeiro lugar, há tendências de popularização das cervejas especiais que não aconteceriam com os vinhos, atingindo públicos mais jovens e menos abastados financeiramente. E há uma aura de alegria e descontração em torno da cerveja. Isso é bom.

Por outro lado, fica sempre uma impressão de que a cerveja não pode ser uma bebida tão boa quanto o vinho, que vale muito mais a pena beber um vinho do que uma cerveja, e que se ambos estiverem pelo mesmo valor, está na cara que o vinho é mais negócio. Isso afeta os bebedores: o cara que curte um bom vinho é sempre visto como superior em sofisticação e em bom gosto ao cara que curte uma boa cerveja. Especialmente porque vivemos em um país que se diz muito tolerante e aberto com a cultura popular (dentro da qual a cerveja é considerada), mas que pratica a discriminação sileciosa em escala preocupante, e onde a classe média tem um desejo forte de ascensão social e diferenciação da "massa" e, por isso, exibe tendências irritantes de esnobismo e elitismo.

Há pessoas tentando trilhar o caminho da "elitização da cerveja" ao equipará-la ao vinho, especialmente no que diz respeito à faixa de preços, à apresentação dos rótulos (embalagem, serviço etc.) e a espaços de consumo elitizados. Acho essa uma estratégia equivocada, claramente: nenhuma campanha publicitária é capaz de "transformar" magicamente cerveja em vinho; os esnobes que gostam de ostentar vinho vão continuar preferindo seus vinhos porque eles estão bebendo valor financeiro, e não paladar.

Mas acho que existe um outro caminho possível de equiparação de cervejas e vinhos que é frutífero ao apostar no paladar, e não no valor financeiro das cervejas. Um motivo concreto pelo qual as pessoas possuem uma imagem "inferior" da cerveja (mesmo que a prefiram para seu consumo) é porque lêem ou ouvem essas descrições meio pedantes sobre os vinhos, enquanto as cervejas são sempre descritas como simplesmente "geladas", ou no máximo como "fortes" ou "amargas". Acho que é possível equiparar cervejas e vinhos nas suas descrições, usando o mesmo vocabulário meio pernóstico para mostrar que existe na cerveja um mundo tão rico de sensações quanto no vinho. Mais ou menos como subverter a linguagem do "inimigo" para mostrar que esse tipo de experiência pretensamente "exclusiva" pode também ser encontrada também em bebidas mais acessíveis, e que os apreciadores de cerveja podem ter um paladar tão sofisticado quanto o de um apreciador de vinhos. Que, em suma, não é preciso ser rico para poder beber coisa boa.

Dei esse exemplo em outro tópico aqui no fórum: se vc descrever uma bebida como possuindo "corpo elegante e aveludado, com toques frutados frescos e de especiarias, perfume floral e amargor delicado", o cara vai automaticamente associar isso a algo sofisticado e interessante. Vai até achar que é um vinho caro de R$ 100. Mas quando vc disser que é uma cerveja de R$ 3,50 (Eisenbahn Strong Golden Ale), o cara começa a olhar de outra forma a relação entre vinhos e cervejas.

Mas a questão é: será que se corre o risco da "cervochatice"? Ou simplesmente as cervejas correm o risco de parecerem simplórias se não usarmos uma linguagem como essa?
ocrueomaltado.blogspot.com
Porque cervejas são boas para beber, mas também são boas para pensar
Last edit: 14 anos 6 meses atrás by Alexandre Almeida Marcussi.
14 anos 6 meses atrás #1746

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Respondido por . . no tópico Re:Os

O mais engraçado de muito metido a enófilo é a pompa pra beber um "meia boca" de R$ 18,90 ! Um dia desses o gerente de um wine bar estava me dizendo justamente isso, chega um sujeiro lá todo arrumadinho com a namorada, pede um Santa Helena Reservado e exige que seja despejado em decanter. PRA QUÊ ????? Rsrsrs...

Decanter serve para "filtrar" a borra de vinhos de guarda que apresentam isso, ou para aerar mais rapidamente um vinho mais complexo e muito novo que esteja ainda "fechado" (amaciar os taninos, abrir os aromas, etc).

Mas existe a aura de glamour, isso acontece com bebedores de cerveja também, conheço um cara que bebe "Brazilian Corn Bier" em copo weizen. Novamente pergunto: PRA QUÊ ?????
14 anos 6 meses atrás #1754

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Respondido por Anderson Martins no tópico Re:Os

Os enólogos na sua grande maioria, se recusam a aceitar que a cerveja pode ser degustada e que é perfeitamente possível ter experiências sensoriais através dela. O Guima por enquanto, é o único integrante da resistência que eu conheço...rsrsrs
(Guima, fique a vontade em discordar caso meu ponto de vista esteja equivocado, você tem mais contato com o pessoal e pode falar com maior propriedade)

Certa vez estava eu nas minhas andanças pela net e me deparei com um blog de cervejas no qual o cara fazia suas analises bem no estilo que fazemos aqui, um site muito bem feito com fotos das cervejas degustadas, e uma gama muito boa de rótulos com as analises feitas exclusivamente pelo blogueiro, comecei ler os comentários que o pessoal colocavam abaixo das analises e um deles me chamou atenção em especial, um cara escreveu para o blogueiro que ele deveria deixar de perder tempo analisando cervejas e que deveria ir tomar um bom vinho que ele ganharia muito mais, etc, etc, não me lembro agora as palavras exatas, mas a essência do comentário desse cara era:
Não é possível ter uma experiência sensorial com uma cerveja, já que quer analisar uma bebida isso deve ser feito com um vinho.

Isso bate contra o que ouvi na entrevista do Randy Mosher, onde segundo ele o vinho possui 400 elementos que propiciam os sabores e a cerveja 800.

Sem contar que não é apenas o vinho e a cerveja que pode propiciar essas sensações, a cerca de 3 meses fui convidado pela Johnny Walker para uma palestra e uma degustação orientada do scotch Black Label, onde foi perfeitamente possível localizar notas de baunilha, frutas secas, etc, etc..., tão fácil quanto fazemos com a cerveja, tudo bem que o scotch é primo de primeiro grau da cerveja (rsrsrs), mas são sensações completamente diferentes.

Só usei essa minha experiencia para ilustrar que nem só de vinho e pão viverá o homem...rsrsrs
14 anos 6 meses atrás #1759

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Respondido por Jean Chris no tópico Re:Os

Fábio (Guima) escreveu:

Hoje reconheço que meu gosto mudou, continuo adorando vinho, é muito gostoso, mas conheci tanto "eno-mala" que o vinho vem se tornando pra mim uma bebida babaca. Com a breja é diferente, ainda não conheci um cervochato tão mala como muitos enochatos.

Temos que tomar muito cuidado para não sermos um "cervo-mala". Talvez seja muito mais fácil encontrar um "eno-mala" por que eles são mais requintados e mostram-se mais. Não generalizando, claro.

Um "enochato" que fala mal de cerveja só conhece pilsens comuns. Com certeza um bom enólogo reprovaria esta atitude. É muito improvável que um cervejólogo fale mal de vinhos.
Last edit: 14 anos 6 meses atrás by Jean Chris.
14 anos 6 meses atrás #1963

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Respondido por . . no tópico Re: Os "cervochatos"

Anderson,

Já participei de algumas comunidades do Orkut sobre vinhos mas perdi a paciência, tem muito mala, a maioria do pessoal glamouriza demais o vinho e é uma babaquice do caramba, não raro já li coisas do tipo "vinho de verdade não custa menos de cem reais", ou seja, gostam de associar a qualidade ao preço. Entendo que pode ser um termômetro, mas não dá pra generalizar, assim como a cerveja, existe muito vinho bacaba de R$ 40,00, R$ 50,00... Isso depende do estilo, da origem, da seriedade da vinícola, etc.

Agora, não dá pra generalizar também o bebedor de vinho, hoje faço parte de uma única comunidade que foca mais ou menos o tema, é uma comunidade fechada e "filtrada", só entra com convite e atualmente são 56 membros apenas, tipo uma panelinha mesmo.

Desses 56 alguns apreciam tanto vinho quanto cerveja e lá também batemos papo sobre as especiais/artesanais com dicas de harmonizações, marcas e estilos, etc. Já outros não gostam muito de cerveja, tem os que nem bebem, mas também não criticam e acham natural que uma cerveja possa oferecer tantas características quanto os vinhos, se não bebem é por questão de gosto, assim como muita gente não gosta de uísque ou de brandy, etc.

Qualquer coisa que se põe na boca está sujeita a sensações organolépticas (tato, aroma e paladar), existe degustação até de água mineral.
14 anos 6 meses atrás #1967

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