Líquido esbranquiçado e opaco. Creme branco de boas formação e consistência, porém breve. Aroma e sabor tiveram uma predominância de cereais, juntamente com a presença suave de coentro e laranja. Final seco a ponto de pegar na garganta, retrogosto curto.
Os cereais não maltados predominaram alguns momentos da degustação, isso me desagradou um pouco. Também a achei um pouco mais pesada e seca do que outras Witbier belgas, mas não deixa de ser uma fiel representante do estilo, com frescor muito agradável.
A roma temos pêssego, leve banana, coentro, casca de laranja, pão, cravo e manjericão. Na boca é seca e as especiarias ganham força, evidenciado inclusive algumas notas "salgadas" e nuances de pimenta do reino branca.
Tradicional cervejaria belga, é por muito pouco que a "St. Bernardus" não pode ser considerada uma "trapista" com raízes monásticas francesas. Devido à forte política anticlerical que assolava a França ao final do século XIX, os monges trapistas da Abadia de Mont des Cats, localizada em Godewaersvelde, foram obrigados a atravessar a fronteira e se refugiarem na vila de Watou, região de Flandres Ocidental belga, fundando assim o "Refuge Notre Dame de St.Bernard". Para se manterem ali dedicaram-se a produção de queijos de abadia - atividade que perdurou até 1934. Graças a retomada das relações com a França, foi neste ano que os monges decidiram retornar ao país de origem deixando para traz o anexo belga e a fábrica de queijos que acabou assumida por um senhor chamado Evarist Deconinck (quem a expandiria nos anos subsequentes).
Após o fim da Segunda Guerra em 1945, a "vizinha" Abadia de St. Sixtus (hoje famosa por suas cervejas trapistas Westvleteren) decidiu que não queria mais produzir diretamente as próprias cervejas e por isso estava procurando alguém que se dispusesse a fabricá-las sob licença. Interessado, o senhor Deconinck converteu um dos prédios da fábrica de queijo numa cervejaria e assinou um contrato que o autorizou a produzir e comercializar as cervejas trapistas para a Abadia de St. Sixtus durante 46 anos. Com o fim da licença em 1992, um novo critério exigia que para ser considerada autêntica trapista a cerveja teria de ser produzida nas dependências de um monastério trapista, o que fez com que os monges da abadia de St. Sixtus tomassem de volta para si a produção e comercialização das cervejas Westvleteren. Com isso a cervejaria que durante décadas produziu para os monges foi obrigada a mudar o nome da cerveja, batizando-a de "St. Bernardus". Por isso tudo, a "St. Bernardus" mantém hoje o mesmo padrão de qualidade de uma legítima cervejaria trapista.
A receita da "St. Bernardus Witbier" foi elaborada colaborativamente com ninguém menos do que o lendário mestre cervejeiro, Pierre Celis.
Celis foi responsável pelo resgate do estilo 'Witbier' - a cerveja branca de trigo belga - que estava praticamente extinto no mundo. Em 1966 ele pôs no mercado a famosa "Hoegaarden", atual referência no estilo batizada então com o mesmo nome de sua cidade natal.
Translúcida de coloração amarelo ouro e considerável turbidez, forma longevo colarinho branco de dois dedos feito de bolhas finas.
O olfato evidencia uma cerveja de aroma relativamente contido, porém complexo. Toques de frutas secas como damasco e passas brancas vêm entremeados por nuances de figo e maçã, passando ainda por pitadas de casca de laranja, levedura, cravo e coentro.
Na boca exibe corpo leve e acetinado, tocando as mucosas como uma nuvem. O paladar entrega sutil dulçor maltado que se contrapõe a curiosa porém amigável acidez. Notas de maçã, pera, uvas verdes e damasco pululam aqui e ali. O final equilibrado reúne ecos de torta de limão e especiarias como coentro e anis, além de agregar ligeiro salgado (tipo sal de frutas) paralelo a discreto azedinho. Refrescante, o 'aftertaste' proporciona agradável sensação de limpeza, estimulando a 'drinkability'.
Uma 'witbier' diferente, de extrema personalidade. Provavelmente uma das melhores que existem por aí. Vale conhecer.