Mais um caso bem sucedido de 'homebrewers' que arriscaram se profissionalizar, a "Küd" é uma das diversas boas cervejarias artesanais pertencentes a profícua cena mineira. Localizada na cidade de Nova Lima - região metropolitana de Belo Horizonte - ela iniciou as atividades em 2010, exatamente dois anos após seus proprietários experimentarem receitas na panela de casa. Além da fábrica as instalações contam ainda com um bar/restaurante, o "Brew Pub Küd", onde se pode comer e apreciar as cervejas fresquinhas direto do tanque.
A linha toda segue uma atitude roqueira através de rótulos que levam nomes de clássicos musicais de bandas das décadas de 1960/70. É o caso da "Blackbird" que faz referência à canção homônima dos Beatles lançada junto ao famoso "White Album". Curiosamente o rótulo se afirma como a primeira cerveja do estilo 'Black IPA' feita no Brasil. Sua receita inclui a utilização de 4 tipos de malte passando por 4 estágios de lupulagem que lhe conferem amargor de 75 IBU's. Não coincidentemente, 75 foi o ano em que os Beatles oficialmente anunciaram seu fim.
Líquido marrom escuro que praticamente não permite passagem de luz. O colarinho cremoso de média formação exibe coloração análoga a da espuma de café com boa retenção.
No olfato mesclam-se em intensidades equivalentes o torrado do malte e o frutado/cítrico do lúpulo. Notas de chocolate amargo, café, laranja, maracujá, erva-cidreira surgem em primeiro plano com pitadas de leite e certo caprílico ao fundo. Um pouco estranho.
De corpo e carbonatação medianos, exibe textura semi cremosa e álcool bem inserido. Características marcantes de uma 'Porter' incidem no começo através de moderado dulçor achocolatado seguido por nuances de 'toffee' e marcante torrefação. Sutil caprílico aparece mais discreto que no aroma, não chegando a incomodar tanto. Sugestões de casca/poupa de laranja e maracujá surgem no centro acompanhadas por amargor assertivo, mas não exagerado. O final concatena todas as sensações prévias culminando num retrogosto cítrico e amargo ligeiramente adstringente de razoável persistência.
Boa interpretação do estilo executada pelo mineiros da "Küd". Alguns vieses estranhos, contudo, indicam que ainda há espaço para melhorias. De qualquer maneira vale a experiência, sendo seu único defeito mais sério o "precinho" de cerveja importada.
Negra de creme bege baixo, aroma lupulado já mostra a prévia do amargor, acentuado pelas notas de malte torrado. O sabor é bastante herbáceo, e confirma as sugestões dadas pelo olfato. Retrogosto seco, e marcante como a cerveja.
A BlackBird Küd é do estilo Black IPA, um estilo ainda embrionário e que até o momento não se encontra sistematizado no BJCP. 'Estilo' originário dos EUA caracteriza cervejas de alta fermentação que mesclam as características de uma American IPA (intensas e refrescantes) cujo carro-chefe é a elevada carga de lúpulos cítricos (tão na moda) com maltes torrados. O resultado é uma cerveja de coloração mais escura e percepção sensoriais de notas tostadas, diferenciais em relação a uma IPA 'normal'.
É produzida pela Cervejaria Küd (ex-KüdBier) cuja história começou de forma caseira e artesanal em 2008 sendo que uma das cervejas, a India Pale Ale, ganhou o primeiro lugar no Concurso de Cervejas Artesanais da Argentina. Em 2010 nasce a cervejaria propriamente dita, instalada na cidade de Nova Lima/MG - Região Metropolitana de Belo Horizonte. No portfólio são 06 rótulos inspirados nos clássicos do rock n' roll: God Save the Queen (English Pale Ale - homenagem à banda Sex Pistols); Kashmir (IPA) e Tangerine (Witbier - homenagem à banda Led Zeppelin); esta Black Bird (homenagem à banda The Beatles); Smoke on the Water (Smoked Ale - homenagem à banda Deep Purple) e Ruby Tuesday (Extra Special Bitter - homenagem à banda Rolling Stones).
Lote 10 - validade 03/2014. A garrafa é de 600 ml, cor marrom, e apresenta um criativo rótulo ilustrado pela representação da Abbey Road, em Londres, a rua que ganhou a capa de um dos álbuns mais famosos dos Beatles e que aqui conta com pássaros. Ainda destaque para o mascote Cadú (aqui estilizado), pinscher anti-social que acompanhava as brassagens caseiras e para a expressão Krieg Uber Durst (algo como guerra à sede). E também chama atenção a quantidade de informações disponíveis no verso: - ingredientes (4 maltes e 4 estágios de lupulagem); sugestões de harmonização; IBU (75); ABV (8,3%); copo ideal (caldereta); temperatura de serviço (8 - 12ºC); escala de impressões sensoriais e a expressão 'Cerveja e Rock n' Roll'.
Vertida na taça revelou um líquido de coloração negra, opaco, com nuances avermelhadas contra a luz e não translúcido. Apresentou uma consistente espuma bege de boa formação, densa e medianamente volumosa, com bolhas médias e de satisfatória persistência. Perlage (bolhas) não perceptível.
O aroma se mostra fresco e com boa complexidade, sobressaindo notas maltadas com percepções de caramelo e torrefação que remetem a café e chocolate amargo, açucar mascavo, fermento que lembra panificação, forte caráter lupulado com notas de florais e de frutado cítrico que remete à abacaxi e maracujá.
O líquido se apresenta com uma textura aveludada e as impressões olfativas se repetem no paladar com um início sutilmente adocicado proveniente de notas maltadas com percepções de caramelo e torrefação que remete a café e chocolate amargo. Com mais intensidade assoma-se um forte caráter de lúpulo floral e cítrico com frutado que remete à abacaxi e maracujá. O final é amargo, picante e seco e no retrogosto tostado e amargor prolongado, tanto pela carga de lúpulos cítricos quanto pelo amargor inerente à torrefação. O álcool de ABV 8,3% é potente, mas bem inserido. O corpo é médio-alto e a carbonatação é média. A drinkability é ótima - cerveja bruta, mas fácil de beber!
Degustação prazerosa, proporcionada por um conjunto equilibrado e robusto que pende para o amargor, mas com uma picância deliciosa. Também gostaria de ver uma quantidade maior de maltes torrados. Minha primeira Kud, gostei.