É tudo muito relativo, depende das prioridades.

Galera, talvez eu seja o mais pobrinho aqui, mas procuro me manter no meio termo no sentido de postura. Não vou ficar levantando a bandeira da humildade porque, embora pobrinho, conheço alguma coisa do lado bom da vida (aquele lado que só com dinheiro, como beber uma DeuS, por exemplo), mas nem tampouco levanto a bandeira da arrogância, do esnobismo, porque nunca gostei dessa onda da ostentação, não é meu perfil ficar pagando de bacana por ai, não gosto também dessa onda de comer bucho e arrotar caviar.

Quando posso faço minhas gracinhas, e só eu sei o quanto elas me custam a valem, e não tenho o mínimo constrangimento de entrar num Carrefour da vida e comprar uma única breja de R$ 10,00 enquanto tem gente comprando cerveja de R$ 1,00. Da mesma forma que não me sinto constrangido por, no mesmo Carrefour da vida, comprar um "All Star" genérico made in China enquanto o cara da cerveja de R$ 1,00 tá usando sapatinho de grife.

Meu celular é um Nokia 3120, um dia ai deu um pau na campainha e minha esposa disse: "se não ficasse tomando cerveja de R$ 50,00 teria grana pra comprar um celular melhor." Minha resposta foi a seguinte: "ele faz e recebe chamadas como qualquer outro, ou seja, atende minhas necessidades, defeito dá em novo ou velho, bom ou ruim, por isso todo aparelho comprado em loja tem garantia do fabricante."

Não raro, nessas reportagens sobre alagamentos, o repórter adentra aquele humilde "barraco" no meio de uma favela e a "dona maria" começa a mostrar o que perdeu na enxurrada: "oia só, meu fio, aquele forno (um micro-ondas da Brastemp de última geração) nem acabei de pagá ainda..." "Aquea televisão (uma puta tv de plasma que serve pra assistir Faustão, Pânico e Silvio Santos) comprei a semana passada..." "Nem meu célulá (um desses ai que além de fazer e receber chamadas tem tv, bloco de notas, mp3, 4, 5, 6, 864... serve café, te consola nos dias tristes) não iscapô das água do corrigo qui transbordô..."

Ou seja, tudo financiado nas Casas Bahia com a primeira prestação só pra depois do Carnaval ! Mas são as prioridades dessa "dona maria", certamente sua geladeira Eletrolux Frost Free com freezer, dispenser de água e blablabá estaria lotada de Nova Schin, enquanto a minha Continental velhona refrigera e já refrigerou Heineken, Fuller's, Unibroue, La Trappe, Lust, Urthel, DeuS...

Será que essa "dona maria" se sentiria constrangida ao entrar nas Casas Bahia e fechar um carnê de um DVD de R$ 500,00 enquanto eu fechasse à vista um basicão de R$ 60,00 ?

Guima quanto a isto que vc se referiu a respeito do "fogão da dona maria" e tal, é verdade. Tem gente com grana no bolso nas periferias hoje - ao custo de largar mão de um plano de saúde, de morar em um lugar um pouco melhor etc. Mas aí também é necessário notar que, hoje, mesmos as favelas são estratificadas, existem nichos (que não são pequenos) de miséria dentro de favelas!

Acho que há sim algo evidentemente contraditório moralmente no fato de nós termos grana para comprar cervejas caras e outros não terem dinheiro pra nada. A questão é tornar é tornar isto motivo para uma conduta social e política mais solidária.

Não é questão de exigir que alguém vire santo, nem que ligue para o criança esperença hehe - a questão é de na "economia de nossa vida" levarmos em consideração o lugar em que estamos vivendo.

É isto que o conceito de "cidadão" apontava antes de virar esta palavra idiota que ele é hoje rs.. Cidadão é o cara que busca construir a própria vida - mas nem por isto deixa de se importar com seus pares.

Tudo é uma questão de VALORES.

Tem gente que gosta de invertir em TER.
Tem gente que gosta de investir em LEMBRAR.

Deixe-me esclarecer melhor com o meu exemplo. Não tenho casa própria e meu carro está bem fodidinho. Eu poderia estar juntando dinheiro para trocar o carro ou para comprar minha casa, mas minha prioridade agora não é TER. Estou investindo em lembranças, ou seja, este ano, tudo que eu puder gastar com viagens e gastronomia vou gastar. De que adianta ter tudo e olhar para trás e não ter passado por nada, não ter nada de bom pra se lembrar. Ano que vem pretendo ter meu primeiro filho e aí sim eu e a patroa vamos dar um tempo e começar a investir em ter. Estamos com 1,5 anos de casamento e damos muita importância em lembrar de tudo de bom que fizemos e aproveitamos até agora e planejando outras grandes viagens para este ano.

Claro que existe hora pra tudo, basta ponderarmos dentro de nossas necessidades atuais, futuras e o que nos dá mais prazer. Claro que beber cerveja é uma das coisas que dá mais prazer em mim e em todos os confrades aqui do Brejas.

Também não quero me fazer de coitado, ultimamente só tomo Heineken e não é prioridade gastar em cervejas mais caras e de melhor qualidade, mas quando tiver a oportunidade vou comprar e beber sem nenhum receio. Aqui onde eu moro tem muitas pessoas que andam bem vestidas, e sua casa e carro estão caindo aos pedaços, e como já falaram é a pioridade deles, é o que eles querem fazer e se sentem bem, eu não gosto de andar com roupas que tenham alguma marca estampada, procuro evitar ao máximo isso, não me interesso nesse tipo de coisa.

O que é interessante é que no final das contas tudo é nivelado por baixo, tanto o cara que bebe Skol quanto o que bebe as belgas de elite tem merda na barriga. É o que eu sempre penso quando alguém está ostentando.

Na região onde moro se vê muito dessa onda de comer bucho e arrotar caviar,a gente vê uns sobradinhos apertados com a fachada toda detonada, mas na garagem tem um carrão bacana. Tenho um vizinho assim, o indivíduo mora de aluguel mas tem um Pajero zero e uma Tracker semi-nova, e nem é pra falar que precisa, o cara mora com uma "mocinha" e não tem filhos, ou seja, família menor não há. Se vendesse os dois carrões daria entrada numa boa casa e de repente ainda sobrava um troco pra comprar um Golzinho, e as mensalidades dessa casa seria o que paga de aluguel. Mas é aquela história, pra ele a prioridade é desfilar de carrão. Aposto que é o maior bebedor de Skol !

Não é mesmo o caso de eleger cerveja, ou vinho ou o que for, como o vilão da casa. Seria rídiculo fazer isto.

A questão é só notar que o Brasil é um país extremamente desigual - com milhões de pessoas vivendo em condições materiais bem precárias - e que é necessária ,de alguma forma, tomar alguma responsabilidade por isto - mesmo enquanto tocamos nossas vidas e bebemos nossas cervejas.

P.S.:Legal o ritmo sempre educado e produtivo que as conversas tomam neste fórum.