Arquivo mensal de setembro 2008Page 3 of 4

Condescendência negativa

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Há cerca de uma década seria inimaginável discutir cervejas artesanais brasileiras numa página especializada. Apesar da profusão de iniciativas isoladas, a esmagadora maioria permaneceu passatempo doméstico alavancado pela popularização dos kits caseiros. As poucas iniciativas de maior fôlego produtivo que já haviam surgido ainda eram demasiado incipientes ou sofriam pela falta de distribuição.

Hoje parece ter havido uma revolução nessa área. Marcas que antigamente se restringiam a um mercado muito limitado, como Baden Baden e Eisenbahn, são vendidas em grandes redes de supermercados. Não apenas os cervejeiros profissionalizaram-se, mas também o público interessado iniciou-se na cultura cervejística internacional, graças, em grande medida, à internet. Qualquer botequineiro mediano é capaz de citar algumas boas marcas estrangeiras. Bares e distribuidoras passaram a fabricar as próprias cervejas, ampliando gradativamente sua clientela.

Ocorre, entretanto, que esse mercado ainda está em gestação no Brasil. Mesmo admirando a alvissareira multiplicação de novas iniciativas, somos obrigados a ponderar que seus resultados ficam muito atrás dos congêneres estrangeiros. E tal ocorre inclusive em categorias menos elaboradas de cerveja.

Lamentavelmente, parte da crítica e do público tende a fazer vistas grossas (ou papilas insensíveis, como quiserem) para as muitas insuficiências das cervejas brasileiras. Ignoram a literatura consagrada, os rigores das avaliações especializadas, os altíssimos padrões de qualidade vigentes no resto do planeta. Às vezes publicam-se notas e comentários incompatíveis com os produtos degustados, floreando com adjetivos bondosos umas cervejinhas que pereceriam sob critérios internacionais.

Patriotismo? A tão proverbial cordialidade? Vergonha? Receio de desapontar produtores conhecidos? Bairrismo? Talvez de tudo um pouco.

O maior problema desse desvio é ajudar a vender gato por lebre, ou chorume por belga, como diriam os confrades brejeiros. Mas há outros efeitos colaterais. Quando o cidadão se desaponta com o otimismo do avaliador, a própria credibilidade do “especialista” flui pelo ralo da pia. E o bravo produtor, iludido quanto aos resultados de seus esforços, termina acomodado a uma superioridade ilusória. Todos perdem, portanto.

Tivemos um dilema, recentemente, ao avaliarmos o já famoso chopp do Fritz, produzido pelo bar homônimo, de Campinas. Talvez atordoados pelo atendimento caótico do estabelecimento, mas certamente constrangidos a não sacrificá-lo em demasia, demoramos um pouco para admitir que sua produção deixava muito a desejar. Mas por que negaríamos ao leitor de Brejas uma avaliação honesta, embora cruel, daquelas cervejas? A eventual simpatia pelo proprietário não seria traída se optássemos por enganá-lo com bajulações?

O melhor incentivo aos produtores nacionais é o absoluto rigor avaliativo e a transparência na divulgação dos resultados. Não podemos cobrar, de empreendimentos ainda imaturos, o nível das casas tradicionais européias, muitas surgidas há meio milênio. Mas tampouco devemos fingir que esse longínquo objetivo está sequer próximo de ser alcançado.

Cervejas do “Cone Sul” – A degustação

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Conforme anunciado aqui neste post, BREJAS fez uma degustação exclusiva das cervejas argentinas e uruguaias do estilo Pale Lager que já há algum tempo figuram nas prateleiras dos supermercados brasileiros. Foram testados 5 rótulos, e cada um dos 5 Confrades brejeiros que participaram da avaliação degustou a quantidade correspondente a um copo (tulipa) pequeno de cada breja. Vamos às impressões e às notas.

  • PILSEN – Primeira a ser avaliada, esta uruguaia apresentou uma espuma consistente mas pouco persistente, desvanecendo-se logo. No aroma, muito suave, percebe-se leve lúpulo e um fundo metálico, no que o sabor acompanha. O corpo é fraco, mas possui razoável drinkability. O final também é fraco, mas agradável. No Ranking BREJAS, ficou com a média de 2,20.
  • PATRICIA – Das cinco cervejas, esta foi a que apresentou o melhor creme, consistente e persistente, deixando uma fina camada perene no copo. O suave aroma é lupulado e possui um toque herbal, faltando as notas maltadas. O paladar exprime o amargor do lúpulo, usado generosamente na receita. O final é seco e amargo. A nota média para mais esta uruguaia foi de 1,96.
  • NORTEÑA – Nossa amostra desta breja uruguaia, muito provavelmente, estava comprometida. O creme estava muito pouco denso e consistente. O cheiro chegava a ser sulfídrico (aquele aroma de ovo que às vezes notamos em algumas cervejas). No sabor, notamos um forte gosto de papelão, o que pode sugerir que a pobre breja estava oxidada. É importante esclarecer que o primeiro teste foi feito há uma semana e, dado o problema, decidimos comprar outro exemplar de lote diferente em outro supermercado, que foi degustado hoje (08/09). Todavia, ambas as amostras apresentaram os mesmos problemas. Em função disso, os Confrades do BREJAS tomaram a decisão de não avaliar a cerveja nesta oportunidade, preferindo adquirir oportunamente outra amostra e fazer posteriormente a avaliação.
  • ISENBECK – A cerveja argentina mostrou um creme fraco, pouco consistente e persistente. Todavia, no aroma, as coisas começaram a mudar ao seu favor, com a claramente perceptível e agradável presença do malte. No sabor, esse malte mostra ainda mais força. Caso o lúpulo fosse notado com a mesma intensidade, a breja ficaria mais balanceada. De qualquer forma, trata-se de uma cerveja agradável, que recebe a nota 2,24, a “campeã” do comparativo.
  • QUILMES CRISTAL – Outra argentina de creme pouco consistente e persistente. No aroma, percebemos certos toques metalizados que não agradaram. Corpo muito suave e sabor adocicado, típico das Pale Lagers de mercado. A drinkability é razoável, e o final é levemente seco e amargo. Breja que, se não faz feio, também não se destaca, obtendo a nota 1,94.

Participaram deste comparativo os Confrades brejeiros Ricardo Sangion, Daniel C., Alexandre Menke, Guilherme Scalzilli e este escriba.

Agora é com você, leitor. Concorda com as avaliações? Fomos rigorosos ou condescendentes demais com alguma cerveja? Use e abuse do espaço “Comentários” logo aí embaixo e vamos falar mais das brejas dos hermanos latino-americanos.

Bares que Amamos – FrangÓ

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Em São Paulo (SP)

O casarão é do século XIX. Em frente, uma pracinha com igrejinha. Se fecharmos os olhos, podemos até imaginar crianças brincando e moças e rapazes fazendo o tradicional footing da paquera interiorana. Esse lugar bucólico, porém, está plantado em plena São Paulo, a maior cidade do país.

Funcionando desde 1987, o FrangÓ é hoje o principal templo da cerveja no Brasil. Mal comparando, é o nosso Delirium Cafe. Nas paredes, uma infinidade de pôsteres e relíquias relacionados à cerveja do mundo todo, acervo cuidadosa e obstinadamente reunido pelo proprietário, Cássio Piccolo. Na carta, mais de 200 rótulos de cerca de 15 países à disposição dos clientes mais exigentes.

Para quem se inicia na arte de degustar, não há perigo de ficar perdido nessa miríade de opções. A carta elenca vários menus fechados de degustação, como a “Seleção Trapista” (um “rodízio” de 6 rótulos do porte de Chimay, Rochefort e outras, a R$ 215,00) e a inacreditável “Seleção Vertical Cuvèe Van de Keiser”, em que o degustador mais experiente pode provar seis safras diferentes da célebre belga, começando com a de 2000 até a de 2006 (R$ 922,00). Há, também, menus de outros países e estilos, a preços mais em conta. Basta querer degustar e aprender!

Não por acaso, o bar foi eleito por seis vezes pela revista Veja “O melhor boteco de São Paulo”. Boteco? Sim, boteco, com orgulho. Nada de afetação. As cervejas “normais” também são vendidas sem constrangimento. E, para acompanhar, viva a baixa gastronomia! A famosa coxinha de frango com catupiry literalmente move montanhas, e deve ser provada sob pena de internação manicomial.

O FrangÓ fica no Largo da Matriz da Igreja de Nossa Senhora do Ó, nº 168, no bairro Freguesia do Ó, e me perdoem a quantidade de “Ós”. O telefone é esse aqui, ó: (11) 3932-4818.

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“Boteco”??? Sim, e com orgulho!

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