Anheuser-Busch InBev deixa a Bélgica

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No ano 891, o rei dos Francos, Arnulph de Carinthia, expulsou o exército viking que naquele tempo ameaçava os Países Baixos, em sangrenta batalha ocorrida na região onde hoje fica a cidade belga de Leuven. De acordo com a lenda local, as cores da bandeira da cidade (em três faixas horizontais sendo duas vermelhas e uma central, branca) representam o cenário de sangue e vísceras em que se transformaram as margens do rio Dijle após o conflito.

Quase mil anos mais tarde, em 1717, um certo Sébastien Artois resolveu comprar a cervejaria local, uma certa Den Horen Brewery, a qual já existia desde o século 14, rebatizando-a com o seu próprio sobrenome. Muito tempo depois, em 1853, os filhos de Leuven testemunhavam a abertura das portas de uma nova cervejaria na cidade, a Piedboeuf Brewery. O tempo girou mais uma vez e, em 1987, Artois Brewery e Piedboeuf Brewery se uniram para criar a Interbrew, que nos anos 90 já era a terceira maior cervejaria do planeta.

O arremate dessa história quase todo mundo já sabe: A Interbrew se uniu à brasileira AmBev criando a InBev a qual, no mês passado, fundiu-se à americana Anheuser-Busch formando a Anheuser-Busch InBev, hoje detentora de nada menos que 26% do mercado global, três das cinco maiores marcas de cerveja mundiais e produtora de 460 milhões de hectolitros anuais.

Pausa. Voltemos à pequena Leuven, a 30 km de Bruxelas, lar de 90 mil pacatos moradores que há mais de 600 anos acostumaram-se a se orgulhar da cerverjaria da cidade, fosse pequena ou gigante — na Europa, especialmente na Bélgica e na Alemanha, existe o sentimento clubístico-cultural da cervejaria local.

Outra pausa, e vamos finalmente à notícia principal deste post. É que os executivos da Anheuser-Busch Inbev anunciaram semana passada que, em 2009, mudarão-se de mala, cuia e tanques de fermentação, de Leuven para Nova York. Segundo o alto escalão da empresa, o ambiente de negócios que encontraram na cervejaria americana é mais propício ao novo estilo da megacervejaria.

Entusiastas da história da cerveja (como eu) e demais puristas do nobre líquido podem até chiar, mas a roda do tempo e dos negócios é inexorável — pelo bem ou pelo mal. Não sou arauto da antiglobalização, mas de repente me bateu um sentimento de velhice, de jogo perdido, de demissão de emprego. Ou se, de alguma forma, eu estivesse de férias e encontrasse, ao retornar, minha mesa ocupada por um sujeito vinte anos mais novo e arrogante, empoado e cheio de gráficos e idéias urgentes, nenhuma das quais envolvendo maltes e lúpulos.

Pausa final.

2 Respostas para “Anheuser-Busch InBev deixa a Bélgica”


  • Muito bom o texto do Maurício! Traduz bem a questão das “cervejarias locais”, as quais parecem estar em processo de inexorável extinção.

    Transpondo aqui para nossa realidade tupiniquim, em menor escala, mas ilustrando bem a situação, vimos a “morte” de diversas cervejarias locais pelas mãos do mesmo ator, a ambev (braço brasileiro da inbev). E tanto morreram as fábricas como seus sabores, que foram uniformizadas. É o caso da petropolitana bohemia e da ribeirão-pretana antarctica, bem como outros exemplos (que não faltam), tais como a original de Ponta Grossa ou a serramalte que era feita em uma pequena cidade da Serra Gaúcha. Hoje em dia todas têm o mesmo sabor, mas lembro-me bem quando cada uma se diferenciava…

    São fatores que nunca serão resgatados, assim como as cervejas de Leuven… fica apenas uma marca, de puro marketing!

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